Mandawa

Mandawa

O Rajastão, estado a noroeste da Índia, é conhecido como a Terra dos Reis e entendemos o motivo do título depois de conhecer algumas de suas cidades; fortes suntuosos e palácios megalomaníacos fazem do Rajastão o retrato da Índia tradicional, aquela que vemos nos documentários e nas informações em geral que chegam a nós. O Rajastão é a Índia dos sáris coloridos, das vacas atrapalhando o trânsito e do modo de vida mais convencional do país. Ele é também berço de povos hindus fortes e bélicos, como os Rajputs e os Marathas, que tiveram papel importante na história indiana.

As tradições da população e o legado arquitetural dos marajás são mesmo a assinatura do estado e é o passado rico e glorioso do Rajastão que atrai o maior número de turistas que chega à Índia. Juntamente com as praias de Goa, Nova Déli, Agra e a megalópole Mumbai (antiga Bombaim), as cidades do Rajastão estão ente as mais visitadas do país.

O Rajastão é o maior estado da Índia em área e faz fronteira com o Paquistão, além de outros importantes estados indianos como, por exemplo, Punjab, Haryana e Uttar Pradesh. A capital do Rajastão é Jaipur e suas Línguas oficiais são o Hindi e o Rajastani.

Em vinte dias, nós visitamos algumas das mais importantes cidades do estado, assim como vilas do interior e essa foi a maior vantagem de estar de carro, com um motorista particular. No entanto, também deixamos pontos importantes de lado e tentarei aqui citar tudo que seja de mais relevante.

Nós iniciamos nosso tour pelo estado pela cidade de Mandawa, a umas seis horas de distância de carro – por boas estradas – de Déli. Na verdade, são apenas 290 km, mas o motorista ia devagar. Eu dormi boa parte do caminho e só acordei uma vez, umas duas horas depois do começo da viagem para ver que ainda estávamos na Grande Déli, e depois só mesmo em Mandawa, na qual chegamos à tardinha, depois de pararmos para comer.

A inconveniência de estarmos acompanhados de um motorista particular eram os lugares nos quais ele nos levava para almoçar, geralmente isolados na esquina do nada com lugar nenhum e especialmente feito para turistas nessas condições, ou seja, bem caros (quando eu digo caros, os comparo com outros lugares nas cidades grandes da própria Índia, pois na conversão para dólar ou real, eles continuavam baratos; o que, mesmo assim, dava raiva de pagar). Se uma samosa (um tipo de pastel típico), por exemplo, custava 25 rúpias nas ruas de Déli, ou até menos, elas saiam por umas 200 ou 250 rúpias cada uma, nos restaurantes de beira de estrada do Rajastão. Enfim, pelo menos para Mandawa, na qual chegamos quase à noite, era ou passar fome ou se render ao almoço mais inflacionado.

Felizmente, para compensar o restaurante explorador, nosso hotel – incluso no pacote – rendeu uma surpresa agradabilíssima. Foi, de fato, surpreendente chegar à porta do Hotel Heritage Mandawa que, por si só, já era uma atração.

Hotel Heritage Mandawa

Hotel Heritage Mandawa

Hotel Heritage Mandawa

Hotel Heritage Mandawa

Hotel Heritage Mandawa

Hotel Heritage Mandawa

A pequena cidade de Mandawa, com cerca de 50 mil habitantes, é famosa por seu forte e suas mansões urbanas, chamadas Havelis, que têm as paredes inteiramente forradas de desenhos e pinturas ricos em detalhes e cores vibrantes das cenas da vida local. Por isso, Mandawa é frequentemente lembrada como a cidade da galeria de arte a céu aberto do Rajastão. Ela, assim como toda a exótica região de Shekhawati, que engloba outras importantes cidades do estado, tem um valor histórico significativo para o Rajastão, e, apesar disso, parece não ser valiosa para o governo, que negligencia, a olhos vistos, seu manejo de conservação. Tristemente, as belas havelis de Mandawa estão apodrecendo e seus desenhos se apagando por debaixo de poeira e atrás de placas comerciais e até varais de roupas. O esplendor da época dourada se foi e a pobreza impera, como em todo o Rajastão.

mapa (reprodução de imagem da Internet)

mapa (reprodução de imagem da Internet)

De pobre, só não estão as mansões tomadas pela iniciativa privada (inclusive por descendentes rajputs) e transformadas em hotéis, assim como o Mandawa Castle (Castelo Mandawa ou Forte Mandawa), convertido em um luxuoso cinco estrelas, cujo interior belo, confortável e reformado contrasta absurdamente com a sujeira e a miséria das ruas do lado de fora.

Castelo Mandawa - da porta pra dentro... (reprodução de foto da Internet)

Castelo Mandawa – da porta pra dentro… (reprodução de foto da Internet)

Castelo Mandawa - da porta pra dentro... (reprodução de foto da Internet)

Castelo Mandawa – da porta pra dentro… (reprodução de foto da Internet)

Castelo Mandawa - da porta pra dentro... (reprodução de foto da Internet)

Castelo Mandawa – da porta pra dentro… (reprodução de foto da Internet)

Castelo Mandawa - da porta pra dentro... (reprodução de foto da Internet)

Castelo Mandawa – da porta pra dentro… (reprodução de foto da Internet)

do lado de fora...

do lado de fora…

do lado de fora...

do lado de fora…

do lado de fora...

do lado de fora…

Nosso hotel era muito menos glamoroso que o Forte Mandawa, mas não menos interessante. Eu perdi horas olhando os desenhos que não deixavam um centímetro de parede descoberto. As pinturas dos hotéis são antigas mesmo, já que todos eles são havelis restauradas, e refeitas de acordo com a tradição, com as cores e os traços originais. Por isso mesmo é que os hotéis também são atrações turísticas.

hotel em Mandawa

hotel em Mandawa

hotel em Mandawa

hotel em Mandawa

teto do hotel em Mandawa

teto do hotel em Mandawa

teto do hotel em Mandawa

teto do hotel em Mandawa

paredes

paredes

paredes

paredes

Lord Krishna

Lord Krishna

paredes

paredes

Ganesha

Ganesha

paredes

paredes

paredes

paredes

Depois de chegarmos, descansamos um pouco e logo saímos para dar uma volta; muita gente me parava e assediava, mas nada que me fizesse sentir qualquer tipo de intimidação. Só perguntavam de onde nós éramos, quanto tempo ficaríamos e coisas do gênero. Passeamos durante umas duas horas a pé e já conseguimos ver todo o centro histórico e suas magnificas havelis… Caindo aos pedaços…

portal de entrada

portal de entrada

havelis em mau estado de conservação

havelis em mau estado de conservação

haveli escondida por tapumes

haveli escondida por tapumes

havelis em mau estado de conservação

havelis em mau estado de conservação

havelis em mau estado de conservação

havelis em mau estado de conservação

lixo...

lixo…

Não pudemos entrar no forte, já que ele é particular agora, mas chegamos até o pátio. Os outros hotéis restaurados também não estão abertos ao público em geral, mas apenas aos próprios hóspedes e, dessa forma, nós conseguimos ver por dentro só as havelis que não são hotéis.

As havelis e seus belíssimos afrescos foram testemunho de uma era de riqueza, quando a velha Mandawa ganhou status de capital, no século XVIII, de um dos clãs de rajputs, importante dinastia hindu rajastani. As pinturas das mansões representam desde tradições locais e aspectos típicos do Rajastão, como animais e deuses hindus, até figuras europeias, com roupas e chapéus do Velho Continente, carros e soldados.

trem na parte de cima

trem na parte de cima

elefantes e soldados

elefantes e soldados

vacas

vacas

Krishna

Krishna

detalhes por baixo das marquises

detalhes por baixo das marquises

detalhes

detalhes

detalhes

detalhes

detalhes

detalhes

um cavaleiro

um cavaleiro

As havelis reformadas e transformadas em hotéis é que, na verdade, reacenderam um pouco o esplendor e deram um despertar turístico à região e elas que promoveram os únicos restauros da cidade.

hotéis

hotéis

As que seguem vazias, ou invadidas por famílias pobres, continuam vandalizadas, pichadas, com desenhos cobertos por demãos de tinta e várias já tiveram portas e janelas arrancadas e enviadas para antiquários da Europa. É triste… Dentro de algumas delas, artesãos vendem suas peças e mulheres oferecem suvenires. Hoje, o turismo vem animando os moradores e o próprio governo a atos de reparos e divulgação, mas o ideal ainda é algo longe de ser atingido.

abandono

abandono

abandono

abandono

abandono

abandono

desenhos cobertos

desenhos cobertos

pinturas, pichações e fios de eletricidade

pinturas, pichações e fios de eletricidade

lojinhas no interior das mansões

lojinhas no interior das mansões

parte de uma haveli pintada de laranja

parte de uma haveli pintada de laranja

crianças brincando em haveli abandonada

crianças brincando em haveli abandonada

Mandawa e mais uma dúzia de cidades da mesma região reúnem, com suas havelis, as maiores concentrações de pinturas murais de todo o mundo e, infelizmente, são as que guardam os poucos exemplos mais conservados desses afrescos.

Em tempos mais remotos, até antes do século XVIII, Mandawa era um posto avançado de negociação para as antigas rotas de caravanas que cruzavam a região, vindas da China e do Oriente Médio. Thakur Nawal Singh, governante Rajput de Nawalgarh e Mandawa, construiu, inclusive, o forte da cidade em 1755 para proteger esse antigo posto. O município, que cresceu em torno da fortaleza, logo atraiu uma grande comunidade de comerciantes, que se instalaram ali, chamados marwaris. Foram os marwaris que, entre os séculos XVIII e início do XX, mandaram edificar as havelis, como prova de seu êxito econômico e status social. Em franca competição uns com os outros para ver quem aparecia mais, as mansões se tornavam, a cada construção, maiores e mais ostensivas.

pavão sobre uma haveli

pavão sobre uma haveli

havelis

havelis

havelis

havelis

Foram esses mercadores que promoveram o nascimento e posterior desenvolvimento da Índia moderna e, assim, é um paradoxo que atualmente a área se encontre na mais absoluta miséria. De um modo geral, a decadência pode ser explicada pela transferência das rotas comerciais históricas da região para centros maiores, no século XIX, como Bombaim, Calcutá e outros.

Hoje, Mandawa é decadente. Pequenas vendas movimentam um comércio pobre e barracas nojentas de frutas são mais visitadas por moscas do que por pessoas. Tudo é muito sujo; esgoto a céu aberto, lixo acumulado na frente das casas e vacas tristes e desnutridas são a imagem da cidade, cujos afrescos da tal “galeria de arte” estão quase ficando em segundo plano.

comércio de Mandawa

comércio de Mandawa

comércio de Mandawa

comércio de Mandawa

comércio de Mandawa

comércio de Mandawa

comércio de Mandawa

comércio de Mandawa

comércio de Mandawa

comércio de Mandawa

comércio de Mandawa

comércio de Mandawa

De qualquer modo, Mandawa vale a visita e esperei sinceramente que algo fosse feito para que tão primoroso patrimônio ainda possa ser visto e apreciado por mais gerações, pois, nesse momento, essa insólita herança está largada somente nas mãos de Deus – ou dos milhares de deuses hindus…

suástica no portal do forte

suástica no portal do forte

suástica nos carros para boa sorte

suástica nos carros para boa sorte

vacas no portal da cidade

vacas no portal da cidade

vacas

vacas

vacas tristes

vacas tristes

vacas tristes

vacas tristes

vacas

vacas

Mandawa

Mandawa

Mandawa

Mandawa

Nós chegamos a Mandawa dia 21 de março; passamos o final da tarde andando pelo centro da pequena cidade; dormimos no hotel/ haveli e nos surpreendemos com um belo café da manhã, com direito a ovos, frutas e até mingau. Depois de Mandawa, nós visitamos a cidade de Bikaner. A região de Shekhawati é um triângulo no deserto exatamente entre as cidades de Déli, Bikaner e Jaipur, a capital do estado do Rajastão.

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