Santa Marta (Tour ao Parque Tayrona)

Santa Marta (Tour ao Parque Tayrona)

No dia 10 de junho, nós estávamos em Maicao, cidade colombiana na divisa com a Venezuela, e tínhamos recém chegado do país vizinho. Ainda na rodoviária, trocamos nossos Bolívares Fuertes, moeda venezuelana, por Pesos Colombianos, em uma casa de câmbio. Em seguida, por 25 mil pesos cada um, compramos passagens para Santa Marta, a cerca de 280 quilômetros de Maicao. Viajamos com a empresa de ônibus Unitransco Linea Amable, depois de abordados por um funcionário. O ônibus era bem decente, muito melhor do que as tralhas ambulantes nas quais estávamos viajando até então. Eram nove horas da manhã, 8h30min no horário colombiano, que diminuía meia hora em relação à Venezuela, e iniciamos a viagem.

Maicao é a visão do inferno. É uma cidade realmente feia e não há nada ali que valha uma visita. Chegamos a Santa Marta umas quatro horas depois, uma da tarde, horário local. Pegamos um táxi até a Rua 12, para checar uma das opções de albergues baratos que encontráramos na Internet, o Candela & Chocolate. Ele não tinha a cara nada boa e era bem sujo; por isso, decidimos deixar o táxi e caminhar em busca de alternativas. Nosso próximo da lista era o albergue La Brisa Loca, a alguns quarteirões dali. Andamos com as duas mochilas pesadas e o sol estava muito forte! Foi bem difícil caminhar.

Finalmente, cansados e eu com dor de cabeça de andar ao sol, chegamos ao La Brisa Loca, no centro histórico de Santa Marta (Calle 14 N3-58 Centro Histórico/ www.labrisaloca.com./(5) 431-6121. Santa Marta – Colombia). Uma mansão de estilo neorrepublicano fora inteiramente restaurada para abrigar o albergue e a própria fachada já dá uma ótima primeira impressão. Enormes cães, mansos mascotes do lugar, nos cumprimentaram à entrada e, por 20 mil pesos cada noite, nos instalamos em um dos quartos de oito camas. A casa é realmente muito bonita, mas da recepção ainda não se tem ideia do seu interior. Assim, é uma surpresa entrar e admirar a atraente disposição de dois andares ao redor de uma pequena piscina. Ela está simetricamente posicionada no centro de um pátio; tem um formato geométrico que a valoriza e belos mosaicos de azulejos e desenhos. Em volta da piscina, o andar térreo, com cozinha (que não é disponibilizada aos hóspedes, mas atende ao restaurante vizinho), recepção, sala de TV, banheiros e quartos e um segundo andar com quartos enormes de oito a dez camas cada, além do bar e áreas de convívio social. O segundo andar é inteiramente contornado por uma varanda que enriquece mais seu valor arquitetônico pela visão da área da piscina. Todo o conjunto tem um ar tropical com muitos vasos de plantas, pequenas palmeiras e trepadeiras de flores cor de rosa escalando as colunas, de baixo até o segundo andar. Não há teto sobre o espaço da piscina e a luz natural entra sem obstáculo, contribuindo ainda mais para a sensação de férias e informalidade. Depois dos banheiros, no andar térreo, há uma micro cozinha que os viajantes podem usar, mas nunca há espaço na única geladeira velha, o fogão tem só duas bocas e realmente tudo é muito apertado para se trabalhar com algum conforto. O bar é típico de albergue; desenhos nas paredes, bandeiras, frases divertidas, mesa de sinuca, apetrechos decorativos inusitados, ambientação moderninha e um monte de gringo de pés no chão, enchendo a cara. Acima do segundo andar, há ainda um espaço cheio de redes e uma bonita vista do Centro Histórico de Santa Marta. O único “senão” do La Brisa Loca, além da cozinha não funcional citada acima, é a sujeira; ele não presa muito pela limpeza e rezem para não usar os banheiros logo depois da “noitada”. Sem respeitar nenhuma lei do silêncio, ao menos quando o dono não está ali, como soubemos ser o caso, o bar do albergue promove festanças até de madrugada. Às quatro da manhã, eu não aguentava mais o som alto vindo da “balada” e meu quarto era um dos mais afastados da área do bar. Na manhã seguinte, antes das meninas da limpeza começarem seu turno, fui fazer xixi e foi difícil pular tantas poças de vômito ou escovar os dentes em qualquer uma das quatro pias, igualmente brindadas com o resultado da bebedeira da véspera. De qualquer modo, mesmo sem motivo, como a fraqueza etílica de jovens inconsequentes, a limpeza do La Brisa Loca não era assim de tirar o chapéu.

La Brisa Loca em Santa Marta

La Brisa Loca em Santa Marta

vista do último andar do albergue

vista do último andar do albergue

Enfim, depois de colocarmos as mochilas no quarto, almoçamos em um restaurante perto do albergue um horrível arroz banhado em catchup e pedaços de frango; passei o restante da tarde ajeitando minhas coisas e terminei o dia tomando banho frio, diretamente do cano de água. Ainda bem que o calor não me deixava reclamar.

No dia seguinte, 11 de junho, saímos para tomar café da manhã e encontramos um barzinho à beira mar que servia, por 6000 pesos, pão, café, leite, ovos e manteiga. O Centro Histórico de Santa Marta tem lindos prédios antigos preservados, muitos cachorros de rua, vendedores de frutas e também áreas meio decadentes.

Centro Histórico Santa Marta

Centro Histórico Santa Marta

centro histórico

centro histórico

muuuuuuitos cães!

muuuuuuitos cães!

cães!

cães!

Em direção ao mar, há um calçadão com estátuas de personagens relevantes na história do país, muitas árvores, vias largas e limpas e a velha Praça Bolívar, com sua indispensável estátua do Libertador a cavalo e a inscrição indicando que ele morrera na cidade, em dezembro de 1830. A praça é arborizada e bastante agradável, salvo pela presença de alguns pedintes.

Plaza Bolívar

Plaza Bolívar

Plaza Bolívar

Plaza Bolívar

O mar da região é sem graça e não achei apelativo ao banho, embora algumas pessoas estivessem se aventurando nas águas. Do lado oposto ao mar, há uma área menos chamativa, de comércio popular e construções menos nobres, empobrecidas, abatidas e de arquitetura nada relevante.

Santa Marta

Santa Marta

Santa Marta

Santa Marta

Do Centro Histórico, tomamos um ônibus por 1200 pesos para El Rodadero, praia a cerca de cinco quilômetros dali e apontada como uma das melhores da região. De fato, o caminho para El Rodadero é digno de nota; do alto, vê-se o mar azul e as belas casas e prédios residenciais altos que caracterizam o balneário. Descemos no ponto indicado e caminhamos até a praia. De perto, ela ganha contornos nada memoráveis, posso garantir. A cor do mar é um azul esverdeado, mas absolutamente comum, e a areia acinzentada e excessivamente lotada de banhistas. Toda a orla é forrada de prédios e montanhas verdes separam o bairro do restante da cidade. Não é uma área feia, mas também não é indispensável. Para quem tinha acabado de sair de Los Roques, com suas paisagens magnetizantes, seria difícil encontrar outra praia que superasse qualquer expectativa.

El Rodadero

El Rodadero

El Rodadero

El Rodadero

Ali mesmo na areia, fomos abordados por um rapaz, vendendo o transporte de barco à Playa Blanca e o Acuario Rodadero, duas atrações da região. Por 30000 pesos para os dois, embarcamos num tipo de escuna coberta, rumo ao aquário, nossa primeira parada. O ingresso é de 20000 pesos e não compensa muito. Vimos tubarões, arraias, golfinhos, tartarugas, peixes, lagostas e leões marinhos em tanques, pequenas piscinas e em uma sequencia de aquários modestos, tudo muito simples e meio amadorístico.

aquário de El Rodadero

aquário de El Rodadero

Acuario Rodadero

Acuario Rodadero

aquário de El Rodadero

aquário de El Rodadero

Dali, umas duas horas depois, uma menina nos pegou com outro barco e nos levou à Playa Blanca. Fomos praticamente coagidos a um restaurante local, o único, pela dita cuja que era suposta sobrinha do tal que nos vendera o transporte. O problema daquela praia era que não havia lugares à sombra; assim, aceitamos entrar no restaurante e aproveitamos para almoçar. Mais irritante do que a comida cara e sem graça era a garota se intrometendo no nosso passeio; ela arrumou a mesa, e ficava ali, rodeando, perguntando o que faríamos depois, dando dicas desnecessárias e falando como uma matraca. Quando ela também trouxe a conta, havia nada mais nada menos do que 20% de taxa de serviço. Michael, que já abomina gorjetas coercitivas, discutiu até que pagássemos, pelo menos, 10%. A moça ainda tentou argumentar dizendo “Sim, o dinheiro é pelos meus serviços. Todo o turista fica feliz em pagar, em me dar um agrado”. Nós só rimos. Ao sair, eu comentei que compráramos o transporte e não os serviços de uma babá chata. Bom, essa praia também é bastante prescindível. Eu cheguei a colocar o maiô no banheiro do restaurante, mas acabei nem entrando no mar. Michael se trocou em uma casa em construção e deu uma mergulhada. O passeio do dia não deixou entusiasmadas memórias.Voltamos de ônibus, no fim da tarde, e ficamos no albergue.

Playa Blanca Santa Marta

Playa Blanca Santa Marta

Playa Blanca

Playa Blanca

Interessante é que os ônibus colombianos raramente têm pontos. Eles indicam a sua rota por placas no para-brisa dianteiro, mas só param quando alguém faz sinal para subir ou descer e a passagem é paga diretamente ao motorista. Só é preciso atenção, pois é facílimo se distrair observando a decoração sempre mais que brega dos coletivos, adornados de cortininhas de veludo com babados, flores de plástico e imagens de santos, sem falar na própria população local, que só falta carregar a mudança e os animais de estimação dentro dos ônibus.

Dia 12 de junho amanheceu nublado e chuvoso. Só saímos para almoçar e usamos o resto do nosso tempo para postar fotos na Internet e conversar com a família. Michael estava ansioso para visitar o Parque Tayrona, Parque Nacional da Colômbia e umas das atrações mais importantes do país. Logo na manhã do dia 13, deixamos o excesso da nossa bagagem no guarda-volumes do albergue, adiantamos o pagamento da noite do dia 14 para o dia 15 e partimos para o Tayrona, com a intenção de dormir lá naquele dia. Fui só com a mochila pequena, levando uma muda de roupa e o essencial.

Tour ao Parque Tayrona

O Parque Tayrona fica a 34 km de Santa Marta e pode se chegar lá de algumas maneiras. Há lanchas que partem de Taganga, pequena vila de pescadores próxima a Santa Marta, em viagens que duram cerca de uma hora e não costumam ser muito confortáveis, pelas histórias que eu ouvi dizer. Segundo alguns viajantes, as embarcações vão à alta velocidade e, por isso, inevitavelmente encharcam seus passageiros, além de enjoar boa parte deles. Os albergues de Santa Marta também oferecem transporte ao parque, geralmente em vans ou intermediando a negociação com táxis particulares. De um modo ou de outro, com a ajuda do albergue ou mesmo buscando por conta, os táxis e vans são sempre bem mais caros. Assim, nós optamos pela opção de pobre “mochileira” que era mesmo tomar um busão de linha. Esses ônibus partem a cada meia hora da esquina da Calle 11 com Carrera 11, a alguns quarteirões do Centro Histórico.

Saindo do albergue, nós passamos por umas dez quadras e as últimas delas, de feira livre de rua, com barraquinhas muito sujas e desordenadas, que deixavam a área com ares de favelão. Tendas de frutas, carnes, peixes, roupas e toda sorte de quinquilharias disputavam seu lugar nas ruas, quase nem deixando o sol passar. Duas moças europeias que estavam perdidas e assustadas com a bagunça nos pediram ajuda e nos seguiram em direção ao ponto de ônibus, pois também iam ao parque. Ao entrarmos no coletivo, comentei com elas sobre a minha esperança do Tayrona ser mais bonito do que aquela vizinhança suja, fedida e horrorosa. Pagamos 5000 pesos pela passagem individual e tentamos nos acomodar da melhor maneira possível, já que os pequenos ônibus colombianos também são feitos para “anões”; até minhas pernas, que suportam meus medíocres 1,58 metros, não ficavam nada confortáveis nas cadeiras, sempre batendo os joelhos nos bancos da frente. Saímos por volta das 9h10min e chegamos à principal entrada do parque precisamente às 10h20min. Como o ônibus é de linha e o Tayrona não é o ponto final, devemos atentar ao motorista que sempre avisa aos estrangeiros, que obviamente têm o parque como destino, para descer na portaria El Zaino, o principal acesso. No caminho ao Tayrona, as montanhas cobertas de um verde compactado antecipam que o lugar é uma área bem preservada ecologicamente e própria para os amantes da natureza selvagem.

Mapa Tayrona (reprodução de foto da Internet)

Mapa Tayrona (reprodução de foto da Internet)

O ingresso ao Tayrona custou 35000 e, da entrada, depois de checarem nossos passaportes e mochilas, já que é terminantemente proibido levar qualquer saco plástico para o interior do parque, fomos orientados a subir num micro-ônibus que nos levaria à primeira trilha para as praias. Essa passagem também tivemos que pagar, desembolsando mais 2000 pesos. O micro-ônibus partiu abarrotado e igual a um forno, de tão quente. Chegamos à entrada da trilha poucos minutos depois e iniciamos o trajeto em direção às praias de Cañaveral, Arrecifes e Cabo San Juan de Guía.

mapa das praias (reprodução de foto da Internet)

mapa das praias (reprodução de foto da Internet)

O Parque Tayrona foi declarado região de preservação Nacional em 1969, pelo seu altíssimo valor natural e também cultural. Ele abrange mais de 19 mil hectares, dentre os quais cerca de seis mil são de área marinha. Em toda sua extensão, encontra-se uma profusão impressionante de ecossistemas que convivem harmoniosamente. São montanhas, praias, rios e lagoas que abarcam uma variedade de espécies de fauna e flora bastante significativa. Além da natureza abundante, o parque também foi berço da antiga civilização indígena que deu nome ao lugar, os Tayronas, e vestígios de sua morada por lá ainda podem ser visitados.

mapa praias (reprodução de foto da Internet)

mapa praias (reprodução de foto da Internet)

Do começo da trilha, é possível seguir por dois caminhos, em direção às praias. Um é usado pelos visitantes que desejem fazer o percurso a pé e é bem estruturado, contando, em diversos trechos, com passarelas de madeira, corrimões, escadas e placas indicando quando ainda falta caminhar até os diversos destinos; o outro é de uso dos cavalos, que podem ser alugados para carregar pessoas que não queiram andar ou simplesmente mochilas e barracas. Obviamente, nós fomos caminhando e, de fato, como evidência da exuberância natural da região, o percurso começa sobre estreitos caminhos de madeira construídos em uma floresta úmida e verde e passa, em pouco tempo, por áreas que vão desde mangues cheios de árvores frondosas até bosques secos e solos arenosos. Raízes enormes, pedras gigantescas e uma variedade imensa de plantas e terrenos nos levam à primeira praia de Cañaveral, que se abre majestosa do alto da trilha até onde a vista alcança.

na trilha para as praias

na trilha para as praias

na trilha

na trilha

Cañaveral

Cañaveral

Cañaveral

Cañaveral

O percurso tem “sobes e desces”, algumas pedras no caminho e outros obstáculos menores, mas não é difícil e eu calçava até chinelos, dispensando as botas de trekking que estavam na bolsa. Cañaveral é uma praia bonita, mas geralmente é só passagem para os visitantes que vão pernoitar no Tayrona, já que a hospedagem por ali é bem mais cara. Tiramos algumas fotos e seguimos adiante; uns 20 minutos depois, totalizando uma caminhada de uma hora mais ou menos, desde o início da trilha, chegamos à praia de Arrecifes. Há sinalização e inclusive alertas sobre o perigoso banho na área, já que o mar é aberto e agitado. Paramos um pouco à sombra, em um espaço perto de um camping, para comer lanches que trouxéramos e recarregar as energias. Havia ainda ali um restaurante simples e novamente a possibilidade de se alugar cavalos para passeios a várias regiões do parque.

praia de Arrecifes

praia de Arrecifes

Arrecifes

Arrecifes

Em Arrecifes, há opções de hospedagem mais em conta, em campings e redes, e também mais sofisticadas, como os Ecohabs. Os Ecohabs, que também são encontrados em Cañaveral, são charmosos bangalôs de madeira com telhado de palha, decoração inspirada nas primeiras habitações indígenas da área. Entretanto, eles não têm nada de humildes! Cada um comporta de 4 a 6 pessoas, cujos bolsos devem ser bem grandes, para poder desembolsar o suficiente que pague mimos e luxos como minibar, TV de plasma, água quente, toalhas, pantufas, roupa de cama chique e até hidromassagens. É um conforto para poucos.

ecohabs (reprodução de foto da Internet)

ecohabs (reprodução de foto da Internet)

interior de um ecohab (reprodução de foto de Internet)

interior de um ecohab (reprodução de foto de Internet)

Enfim, depois de uma manhã nublada até Cañaveral, começávamos, em Arrecifes, a enfrentar uma tarde de sol forte e caminhar passou a ficar mais cansativo. Arrecifes tem uma larga e comprida faixa de areia que é ladeada por palmeiras e montanhas de selva densa. Atravessamos toda a extensão da praia e seguimos por caminhos de pedras, em mata mais fechada, até La Piscina, área de mar mais calmo e propício ao banho. Ainda não paramos ali, pois estávamos carregados e com fome e não há vestuários ou restaurantes em La Piscina. Seguimos, assim, quase mais uma hora de caminhada até Cabo San Juan de Guía, espaço especialmente dedicado ao camping pobretão e onde também há alguns poucos bangalôs para hospedagem. Chegamos por volta de quatro da tarde e logo pagamos 20000 pesos pelo aluguel de uma rede para passar a noite. As barracas do parque eram 25000 por pessoa e não perguntamos o preço do terreno somente, já que não tínhamos nossas próprias barracas para montar. Nesse momento, o tempo voltara a nublar e imagino que isso foi um dos fatores fundamentais para moldar a minha opinião sobre o Parque Tayrona.

Ao observar fotos na Internet, podemos afirmar que a beleza natural do Tayrona é inegável. As fotografias exibem mares azuis, praias curvilíneas de areias brancas, montanhas verdejantes, palmeiras, pedras enormes estrategicamente pinceladas na paisagem e os encantadores ecohabs. A impressão de “paraíso” é a que primeira se imprime nas nossas mentes. Inclusive partes da minha própria descrição acima podem corroborar essa ideia. Dessa maneira, eu poderei surpreender ao revelar que eu odiei o Parque Tayrona! Eu odiei com força e não o recomendo a ninguém.

Cabo San Juan (reprodução de foto da Internet)

Cabo San Juan (reprodução de foto da Internet)

praia no Tayrona (reprodução de foto da Internet)

praia no Tayrona (reprodução de foto da Internet)

Tayrona (reprodução de foto da Internet)

Tayrona (reprodução de foto da Internet)

Vários elementos contribuíram para minha forte avaliação negativa. Alguns deles foram subjetivos, admito, como o próprio fato de eu ser uma pessoa mais inclinada a passeios urbanos do que uma “rata de praia” e também o resultado de eu ainda me sentir solitária. Explico: como eu estava com um amigo novo e não com um namorado e ainda me sentia machucada pelo recente chutão na bunda, era necessário algo de muito extraordinário para fazer com que eu me entusiasmasse por alguma coisa. Los Roques, arquipélago caribenho na Venezuela, fora excepcional; o Monte Roraima tinha se mostrado difícil, mas, da mesma forma, inesperado; Salto Ángel também tivera, para mim, toques fenomenais de natureza diferente e inédita, como os tepuis, que eu jamais vira até então. O Parque Tayrona é bonito, certamente, mas é comum. Para um brasileiro, as praias colombianas não são nada além de outras praias bonitas, mas não são extraordinárias. Valem um passeio de domingo, mas não uma viagem de avião. Eu confesso que me sentia traída pelas fotos da Internet, que parecem pintar muito mais do que o parque realmente é. É fato que tudo parece mais bonito em fotografia, mas no caso do Tayrona, na minha opinião, essa afirmativa ganha muito mais força.

Outro fator de prejuízo na minha apreciação do Tayrona foi o clima. De dois dias, um ficou praticamente nublado o tempo inteiro e choveu. O mar, de azul passou a cinza e a mata, de verdejante transformou-se em enlameada. Convém dizer que os períodos de chuva são os meses de maio, junho, setembro e novembro.

Bem, sejamos justos, vamos supor que eu estivesse ao lado de um Brad Pitt apaixonado, curtindo um sol ininterrupto. Teria sido melhor? Claro que sim. Até jogo de futebol em campo de várzea deve ficar bom, nessas circunstâncias. Entretanto, imagino que eu ainda conserve certa distância e objetividade para continuar afirmando que o Parque Tayrona vale um bom passeio de fim de semana, mas nunca o objetivo de uma viagem internacional. Ele não é feio, mas não é sensacional. Mesmo sob o brilho do sol, o Tayrona tem apenas mares azuis, e não verde-água hipnotizante, como o Caribe de Los Roques; tem belas paisagens, mas nada que surpreenda tanto o olhar. Nós temos praias parecidas até no litoral Paulista…

Um amigo australiano, que também tinha visitado o parque em 2012, se espantou diante da minha frase “I hated Tayrona!”. Apesar de ser da Austrália, terras de lindas praias, ele conseguiu, diferentemente de mim, observar o parque com outros olhos e até me mostrou bonitas fotos tiradas lá. Definitivamente, eu não enxerguei os mesmos ângulos e, por isso, não senti as mesmas vibrações. Segundo ele, o que o agradou no Tayrona foi a diversidade. Ver vestígios arqueológicos para, em seguida, meter-se em mata fechada e, depois, sair da trilha e ver o mar abrir-se diante dele. Essa combinação de cultura e natureza o instigou. De fato, a partir de Cabo San Juan, faz-se a trilha para o povoado Chairama, atual Pueblito, onde é possível observar os sinais deixados pelos antigos Tayronas, como construções de pedra, e a volta tem mesmo o mar como final do percurso. Essa sensação de variedade, conforme descrita por ele, fez o Tayrona valer a pena.

Enfim, algo que ambos concordamos e que foi, primordialmente, aquilo que mais me decepcionou nesse lugar e fortaleceu minha vontade de não recomendá-lo como tour na Colômbia foi a pífia infraestrutura turística. Isso sim me irritou profundamente! Se eu não tivesse me sentido explorada pela administração do Parque Tayrona e lamentado a sua falta de respeito pelo turista, especialmente o mochileiro, o clima desfavorável ou mesmo qualquer lembrança do “falecido” não teriam me influenciado tão negativamente. Se tivéssemos sido bem tratados no Tayrona, provavelmente, eu o recomendaria com a resalva de que ele tem praias muito bonitas, porém não maravilhosas. Eu provavelmente declararia que o parque é um bom passeio para aqueles que curtem muito a natureza e que se alegram, em alto grau, com a simples visão de qualquer mar. Certamente, eu indicaria o lugar àqueles que gostam de mergulho, trilhas ecológicas, cavalgadas ou puramente de apreciar momentos de relaxamento, lembrando, contudo, que não encontrarão ali nada de extraordinário. Entretanto, eu não o sugerirei a ninguém e, pelo contrário, proponho até um boicote ao Parque Tayrona! O problema é que “mochileiro” nunca reclama de nada. Para esse tipo de viajante descompromissado, tudo está bom, desde que seja barato. Eu mesma sou assim e, geralmente, não me irrito com pouca coisa. Sigo a viagem sempre com um sorriso. Porém, aí é que reside a diferença do Tayrona. Ele não é barato, para a bosta que oferece. Posso dizer que meu bom humor não deixou com que isso estragasse minha passagem pela região, mas dizer que eu retornaria lá, de jeito nenhum! Minha filosofia de viagem é: ou pagamos caro e temos um serviço, no mínimo, decente; ou pagamos bem barato e eu sigo sem reclamar…

Tirando os luxuosos ecohabs, a estrutura para o turismo financeiramente acessível no Tayrona é uma verdadeira piada! Interessante é que, no começo da trilha, lá na entrada do parque, eu me lembro de ter, inclusive, me surpreendido e até comentado com o Michael sobre a organização dos serviços: sinalização, passarelas de madeira sobre a trilha, corrimões, etc. Entretanto, o que começou bem, terminou decepcionante.

Os serviços de alojamento em Cabo San Juan são, no mínimo, ridículos e revoltantes. Há uma série de barracas pequenas armadas em um campo; as redes ficam penduradas em um galpão aberto e cada uma tem um mosquiteiro. Para as cerca de 200 pessoas que estavam ali, havia apenas quatro cubículos com vasos sanitários nojentos, sem papel higiênico e sem lixeira; atrás deles, mais quatro espaços pequenos e desconfortáveis para banho; eles eram separados com divisórias tão baixas que se podia ver a pessoa ao lado inteiramente e, por isso, todos se banhavam de biquines e sungas. A água fria saía de canos visivelmente improvisados, presos por arames e braçadeiras enferrujadas à parede. Para lavar o rosto ou escovar os dentes, não tinha nem uma, nem uma pia! Havia apenas um tanque de cimento e um desses espelhinhos ridiculamente pequenos, de moldura alaranjada, vendidos em camelô. Tudo imundo e asqueroso!

As redes, deus meu! Fedorentas e incrivelmente sebosas. Dava pra sentir a gordura de todos os corpos que já tinham se deitado nelas e, certamente, elas nunca viam água com sabão. A minha rede realmente estava fétida e úmida. Dava nojo! Assim, alugá-las por cerca de R$ 30,00, que era a cotação na época, foi caríssimo. O único restaurante de Cabo San Juan também foi, para nós, motivo de decepção. Em primeiro lugar, ele monopoliza a área, nos deixando sem qualquer outra opção; em segundo lugar, a comida é péssima e, finalmente, ele acompanha os preços altíssimos para a porcaria que oferece.

El Cabo

El Cabo

as redes

as redes

olha a cor da rede...

olha a cor da rede…

instalações xexelentas em El Cabo

instalações xexelentas em El Cabo

Por isso, eu afirmo que o Tayrona é muito caro, para padrões normais de viagem. Pelo que pagamos: entrada no parque, micro-ônibus de ida e volta ao começo da trilha, aluguel da rede ou mesmo de barraca, comida superfaturada, ônibus ida e volta da cidade e estadia em Santa Marta, já que ela não oferece nada além do Tayrona, é demais e não justifica o perrengue. Então, é completamente dispensável! Ou meu conselho é: visite o parque com dinheiro e fique hospedado nos ecohabs. Muitas pessoas poderão pensar: “Ah, acampar é assim mesmo; é tudo meio improvisado e se você não quer usar as barracas, redes ou o restaurante do lugar, leve seu próprio equipamento e comida”. Bem, isso não exclui o fato de ter que se pagar caro para entrar e acampar no Tayrona.

Soube que em Arrecifes, há um camping mais ajeitado e que os banheiros, separados por masculino e feminino, são mais limpos. Pegamos até um cartão, mas Michael queria pernoitar em Cabo San Juan, pois o mar de Arrecifes não é apto ao banho. Talvez eu tivesse me sentido melhor se tivéssemos ficado lá (Bukaru Camping. paraisobukaru@hotmail.com/ 316 414 6846/ 321 686 1022).

Enfim, estávamos em Cabo San Juan, inventando o que fazer. Almoçamos um macarrão a bolonhesa sem graça e caminhamos na garoa. O Michael, pra não perder a viagem, deu um mergulho, mas eu não me animei. Não queria me sujar ou ter sal no corpo, pois não sabia como seria para tomar banho depois. Sequer havia lugares para se sentar, já que a grama e a areia da praia estavam molhadas; fiquei em pé até que ele retornasse do mar. No acampamento, era escuro e desconfortável ficar nas redes. Assim, passei o final da tarde, sentada em uma cadeira plástica, assistindo ao filme “Velozes e Furiosos 5 – Operação Rio” em um galpão fedorento com teto de lona preta, junto com alguns trabalhadores locais. Minha maior distração foi tentar manter os mosquitos afastados.

ninguém merece Velozes e Furiosos em dia de chuva!

ninguém merece Velozes e Furiosos em dia de chuva!

Não tomei banho, pois fiquei com preguiça de toda a logística necessária para a tarefa e também com nojo do banheiro. Não tinha nem como pendurar uma toalha. Michael se lavou de sunga e saiu assim até a rede.

Sugeri que fôssemos embora no mesmo dia, mas não teríamos ressarcimento do nosso dinheiro e já era muito tarde para retornarmos à entrada do parque. Assim, tão logo anoiteceu, fui me deitar rezando para que o tempo passasse bem depressa e que amanhecesse sem demora para irmos embora de uma vez. Outro inconveniente é que não havia armários o suficiente para guardar quaisquer objetos de valor, além do serviço também ser caro. Por isso, ainda dormi com máquina fotográfica e repelente em cima de mim, na rede. Super confortável…

Dia 14, me levantei com o sol. Escovei os dentes no único tanque disponível, passei o indispensável repelente de mosquitos, sobre a pele suja e já com camadas de filtro solar do dia anterior, e ambos tomamos um café da manhã dispendioso no horrível restaurante local. Coloquei-me a postos para iniciarmos a marcha de volta tão logo o Michael estivesse pronto e, sem mais delongas, tomamos o caminho da trilha. Para fechar com chave de ouro nossa incursão ao Tayrona, pegamos o caminho errado na volta e dividimos o percurso com os cavalos. Não havia como fugir da enorme quantidade de esterco, lama e até pequenas escalaminhadas que há no trajeto.

Quando chegamos à área de La Piscina, uns 30 minutos depois, eu resolvi tomar um banho de mar, só pra dizer que eu tinha feito algo de bom no Parque Tayrona. O dia estava lindo e o mar, eu confesso, bastante convidativo. Foi gostoso e me deixou com a confortante sensação de ter aproveitado um pouco mais do lugar. Eu estava com o maiô por baixo da roupa e, assim, só esperei que ele secasse para me vestir e retornarmos à trilha. Michael não entrou no mar, mais uma vez, por culpa da falta de infraestrutura de turismo do Tayrona. Em La Piscina, que é uma das melhores áreas para banho, não há vestuários, duchas e nem um banheirinho sequer. A praia está a pelo menos meia hora de Cabo San Juan (e pela trilha errada) e a mais de uma hora da entrada do parque. Assim, ela só é uma boa opção para quem estiver hospedado em Arrecifes, a cerca de 10 minutos dali. Alternativa é ir embora “salgada”, como eu fui. Só sequei o maiô sob o sol e continuamos.

La Piscina

La Piscina

La Piscina

La Piscina

La Piscina

La Piscina

Muita gente pode estar lendo e pensando que se quiséssemos “banheiros, duchas e bons restaurantes”, ao invés de simplesmente curtir a natureza selvagem, que fôssemos a um resort… Bem, o Tayrona é o parque mais visitado da Colômbia e, como eu mencionei, cobra caro pelo ingresso. Então, posso rebater o argumento acima dizendo que se eu quisesse só apreciar a natureza em seu estado intocado, eu me enfiaria em alguma praia deserta sem gastar um tostão e, ainda, possuir uma infraestrutura decente para o número de pessoas que o frequenta seria, no mínimo, um ato ecológico de preservação, afinal, a “natureza selvagem” vai eventualmente sofrer os impactos de tantos visitantes…

Enfim, em pouco tempo, ainda pela trilha de dentro da floresta, chegamos ao ponto do micro-ônibus interno. Pagamos novamente 2000 pesos e ele nos deixou na entrada do parque. Voltamos com o ônibus de linha e, por volta de 12h30min, já estávamos em Santa Marta. Tomei um belo banho e almoçamos no restaurante ao lado, confirmando os altos preços para alimentação na Colômbia. Nossos almoços, por piores que fossem, saíam na faixa de R$ 30,00 e os cafés da manhã, por R$ 10,00. Se quiséssemos ovos, já que sem eles, não havia quase nada, a média de acréscimo era de R$ 4,00. Dessa forma, minha primeira impressão do país não era das melhores. Passamos o resto do dia descansando.

Na recepção do albergue, troquei 100 dólares e, por 42000 pesos colombianos para cada um, compramos ali mesmo passagens para Cartagena, próxima cidade do nosso roteiro.

Dia 15 de junho, acordamos cedo, ajeitamos rapidamente nossas mochilas e ficamos esperando o ônibus que nos levaria à Cartagena. Às 9h40min da manhã, partimos em uma van. Santa Marta não deixou saudades, a não ser pelos amigos feitos e revistos no albergue. Coincidentemente, no primeiro dia que entramos no quarto do La Brisa Loca, antes de ir ao parque, uma única pessoa estava deitada em uma das camas. Era o Jaison, australiano que fizera o Monte Roraima e Salto Ángel conosco. Em longas viagens, é curioso como os mochileiros vão se reencontrando pelos caminhos, já que todos sempre seguimos roteiros semelhantes. Porém, Jaison ficou por ali mesmo, aceitando um emprego para trabalhar por dois meses no bar do albergue. Figura interessante ele; engenheiro civil formado, trabalha seis meses e viaja seis, assim nessa “rotina” há anos; só acho que ele poderia ter arrumado um lugarzinho melhor pra permanecer por mais tempo…

Serviço, porém, não faltaria ao Jaison, já que os estrangeiros “cuca-fresca” continuarão lotando o Parque Tayrona. Outro passeio popular que sai de Santa Marta é o trekking de até cinco dias para a Ciudad Perdida, que nós não fizemos. A Ciudad Perdida é um conjunto de ruínas em pedra deixado pelo Império Tayrona e foi o centro urbano mais importante desses indígenas. As construções, feitas sobre platôs escalonados, formam interessantes anéis de cinco a oito metros de diâmetro cada. Parece ser um lugar válido para visita, mas como ele está no meio da selva colombiana, preferimos não arriscar. Hoje, a segurança em sítios turísticos é assunto essencial para o governo do país, que se esforça na divulgação do slogan: “Colômbia – O único risco é querer ficar”. Mesmo assim, a presença das FARC ainda pode ser vista em locais mais isolados da Colômbia e, inclusive, nesse mesmo trajeto a Ciudad Perdida, um grupo de turistas estrangeiros fora raptado e muitos deles mortos pelas forças revolucionárias alguns anos antes. Então, preferimos não nos embrenhar pela selva colombiana. Outro lugar de destaque que também pode ter Santa Marta como ponto de partida é o arquipélago de San Andrés, no mar do Caribe. Decidimos também não ir a esse ponto uma vez que já tínhamos visitado Los Roques, na Venezuela, e sabíamos que San Andrés é um destino mais agitado, de baladas e vida noturna. De qualquer modo, o caribe colombiano é bonito, mas não se compara em cores e beleza às praias de outros países que dividem o mesmo mar.

Enfim, de Santa Marta, só levei ainda o contato de um peruano gatíssimo, o que definitivamente valeu a passagem pela cidade! Na noite do dia 14, ainda fui muito inocente ao encarar com desatenção uma investida sutil. Para mim, era só um cara que realmente precisava de repelente e, sem querer fazer barulho no quarto de dez camas, pediu pra única pessoa que estava acordada. Eu estava no escuro e me distraía ao laptop; meus pensamentos nem divagaram muito enquanto ele passava o creme emprestado e me fazia perguntas casuais. Só depois que a sutileza passou a um certo questionamento mais direto, que basicamente envolvia a mim e ao fato de Michael não ser meu namorado, é que eu “me toquei”. Na manhã seguinte, enquanto eu retirava as mochilas do quarto, ele me olhou com carinha de anjo e, preocupado, disse: “Te vas?”. Como é bom aprender espanhol num contexto tão agradável… Rapidamente, ele se levantou para procurar papel e caneta; trocamos e-mails e combinamos manter contato. Infelizmente, ele estava num “timing” diferente do meu. Naquela manhã, enquanto eu viajava para Cartagena, ele iria ao Tayrona por dois dias, o que fez com duas canadenses sortudas. Posteriormente, Cartagena também seria o seu destino e eu torci para ainda estar na cidade e poder reencontrá-lo.

Em viagens desse tipo, paqueras, affairs e algumas loucuras têm sempre lugar garantido. É muita gente jovem viajando e em períodos livres de estresse. Tudo parece mais fácil e mais fluido. É um momento muito bom para esquecer mágoas passadas. Entretanto, é também um pouco melancólico dar adeus a tanta gente interessante que encontramos pelo caminho, pessoas que moram tão longe e que passam por você por um tempo tão curto, com roteiros parecidos e trajetos similares. Elas realmente deixam saudade…

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