Guayaquil

Guayaquil

Dia 26 de julho, nós chegávamos novamente a Guayaquil, vindos de Galápagos. Hospedados de novo em um simples hotel ao lado do aeroporto, aproveitamos o final da tarde para postar fotos na Internet, que só pegava do terraço, e descansar. No dia 27, pela manhã, ainda gastei meu tempo em inúteis e-mails enviados à empresa de aviação Tame. Sem respostas, saímos à tarde para investigar os centros histórico e velho de Guayaquil.

Da avenida do aeroporto, pegamos um táxi, por U$ 3,00, até a Avenida Nove de Octubre, no centro da cidade.

Fundada em 1538, Guayaquil é hoje a maior cidade do Equador, uma fervilhante metrópole com mais de três milhões de habitantes. Como porto principal e centro econômico do país, Guayaquil transpira modernidade. Talvez por isso, a cidade não tenha propriamente um Centro Histórico; não há uma divisão muito precisa entre uma área concentrada de construções antigas e uma região mais moderna. Nas imediações da Avenida Nove de Outubro, há diversas igrejas e prédios de valor histórico-cultural, mas tudo está meio misturado com arranha-céus envidraçados, arquitetura de meados do século passado e construções bastante atuais. De um modo geral, Guayaquil é uma bela cidade e caminhar pelas suas ruas principais até o Malecón Simón Bolívar é indispensável.

centro turístico de Guayaquil (marcações em azul são a ordem que nós andamos)

centro turístico de Guayaquil (marcações em azul são a ordem que nós andamos)

Então, nossa primeira parada foi a Iglesia San Francisco, na Avenida Nove de Outubro. Construída no início do século XIX, a igreja está bem conservada e bonita; a fachada restaurada mescla tons de azul, rosa e bege com harmonia, mas não é nada de muito diferente em relação a todas as outras igrejas católicas que já visitáramos. A Plaza Vicente de Rocafuerte, logo em frente, dá um pouco de verde ao asfalto e é, com frequência, palco de apresentações de artistas de rua. Do outro lado da avenida, chegamos a consultar um posto de DHL para verificar a possibilidade de enviar ao Brasil a capa da mochila do Michael, lotada de presentes e compras feitas ao longo da viagem no Equador. O “morto”, como a estávamos chamando, ficara pesado demais e nos atrasava na locomoção. Entretanto, o valor de transporte para São Paulo era de quase 400 dólares! Os preços somados das mercadorias que compráramos não chegavam nem perto disso e, assim, nos conformamos em continuar carregando o morto até que outra solução aparecesse, durante a viagem.

Igreja São Francisco

Igreja São Francisco

 

Praça Vicente de Rocafuerte

Praça Vicente de Rocafuerte

Seguimos caminhando até a Calle Victor Manuel Rendon, na qual a pequena Iglesia La Merced dá o tom de antiguidade entre edificações mais contemporâneas.

La Merced

La Merced

Dois quarteirões adiante, está um dos melhores passeios na cidade de Guayaquil, o Malecón 2000 ou Malecón Simón Bolívar. Nele, almoçamos e permanecemos por umas duas horas. O Malecón 2000 é um calçadão de aproximadamente 2,5 km de extensão que margeia o lado oeste do rio Guayas. Ao longo desse percurso, podemos encontrar centros comerciais, praças de alimentação, monumentos, fontes e chafarizes limpos e bem cuidados, jardins, museus e pequenos portos onde embarcações oferecem tours diurnos e noturnos pelo rio Guayas. O malecón foi inteiramente reformulado e reformado na década de 1990, em um esforço bem sucedido entre o governo e a iniciativa privada, que pretendiam renovar os espaços comerciais da cidade e encorajar investimentos na região. Reinaugurado em 1999, o Malecón recebe hoje milhares de turistas estrangeiros e equatorianos, todos os meses, e é considerado um modelo de regeneração urbana, por padrões internacionais, tendo sido, inclusive, declarado Espaço Público Saudável pela Organização Mundial de Saúde.

Malecon 2000 (reprodução de foto da Internet)

Malecon 2000 (reprodução de foto da Internet)

No período colonial, as margens do rio começaram a ser ocupadas e uma estreita calçada fora construída, a fim de conter a erosão causada pelas águas do Guayas. No século XIX, a área cresceu demograficamente e sofreu muitas modificações; um calçadão com belos jardins e praças tornara-se, então, um ponto de encontros sociais da próspera elite da cidade de Guayaquil. Porém, ao longo do século seguinte, a relocação da aristocracia abastada da cidade para outros bairros relegou o calçadão a segundo plano e a decadência tomou conta da região. Nos anos 80, esquecido e sem manutenção, o malecón estava destruído e detinha a péssima reputação de ser um antro de bandidos, traficantes de drogas e prostitutas, que se aproveitavam da mata e da má iluminação para realizar suas atividades ilícitas.

Hoje, moderno, bem iluminado e seguro, o malecón reuni novamente famílias, estudantes e turistas. Os parques e jardins do lugar são lindos e bem conservados; em suas lagoas, árvores, pontes e ilhotas, caminham despreocupadamente iguanas amarelas, que se alternam entre o rio e a cidade.

jardim no malecón

jardim no malecón

Há ainda áreas destinadas aos exercícios físicos, playgrounds infantis, um antigo vagão de trem, usado para exposições, e o Iate Clube de Guayaquil. Além da natureza, o Malecón 2000 ainda oferece um centro cultural que conta com o Museo Antropológico y de Arte Contemporáneo, o MAAC, o Centro Cultural Simón Bolívar e um planetário. O primeiro cinema IMAX da América do Sul também se instalou ali e, da mesma forma, ajuda a promover o malecón como passeio fundamental em Guayaquil. Essas últimas atrações citadas se encontram no lado norte do calçadão e, dessa área, é possível ter uma boa visão do bairro Las Peñas, morro cheio de casas coloridas. Descrito como “bairro colonial de Guayaquil”, Las Peñas é outro popular tour depois do malecón, mas, francamente, eu devo discordar com sua descrição; só vi casas comuns e sem nenhum traço de antiguidade, que somente se destacam pelas cores vibrantes das suas fachadas. Nós nem nos demos ao trabalho de ir até lá.

centros culturais no malecón

centros culturais no malecón

 

Las Peñas

Las Peñas

Da parte norte do malecón, fomos andando em direção à outra extremidade, o lado sul, e aproveitando as outras atrações do lugar. Então, ainda dentro do parque, nós caminhamos até La Rotonda, um monumento dedicado ao encontro, em 1822, entre Bolívar e José de San Martín, militar argentino que, assim como Bolívar, lutou para libertar seu país contra o domínio espanhol. La Rotonda está bem em frente à Avenida Nove de Outubro e, de lá, é possível enxergar em linha reta o obelisco do Parque Centenário.

La Rotonda

La Rotonda

 

obelisco do Parque Centenário

obelisco do Parque Centenário

A Torre Moorish, inaugurada em outubro de 1842, é outra parada histórica e expõe um belo relógio Inglês trazido por Lizárraga, rico comerciante espanhol e figura ilustre na independência do Equador. No final do malecón, o Monumento a Olmedo homenageia Joaquín de Olmedo, poeta e político de renome, nascido em Guayaquil.

a Torre do Relógio

a Torre do Relógio

 

malecón

malecón

 

Monumento a Olmedo

Monumento a Olmedo

 

mapa malecón

mapa malecón

Saímos do Malecón 2000 e continuamos pelas ruas da cidade. Entre belíssimos prédios históricos e modernas alamedas comerciais, chegamos ao Museu Municipal, onde aprendemos mais sobre a história da cidade e das civilizações passadas que habitaram a região. O acervo do museu alberga desde cerâmicas antigas até carros e pinturas realistas dos presidentes do Equador. Logo em seguida, a Catedral de Guayaquil e o Parque Bolívar merecem atenção. O Parque Bolívar, também chamado de Parque das Iguanas é uma pequena praça onde os lagartos amarelos passeiam aos montes, sem se importar com os transeuntes. Os animais sobem pela estátua de Simón Bolívar, estão sobre a grama, em cima das árvores e nas mãos de visitantes sem semancol. Curiosamente, as iguanas não saem da praça, pois já aprenderam sobre os riscos fatais que as movimentadas avenidas do entorno podem trazer. Do outro lado da rua, depois do parque, a Catedral de Guayaquil é digna de uma fotografia.

Guayaquil

Guayaquil

 

Simon Bolívar e a Catedral

Simon Bolívar e a Catedral

 

iguana na praça

iguana na praça

 

Catedral

Catedral

A próxima visita relevante do nosso itinerário foi ao Parque Centenário, praça grande que ocupa quatro quarteirões do centro da cidade e cujo destaque é um bonito monumento representando a liberdade. Um bom samaritano nos aconselhou a esconder as câmeras e tomar cuidado com os trombadinhas. Na verdade, essa área de Guayaquil não é mesmo tão bela quanto às proximidades do malecón. Construções mais decadentes, lixo e mendigos saltam aos olhos e um comércio bem popular atrai multidões. Na Avenida Quito, tomamos um ônibus de volta ao hotel, por 25 centavos. Descemos no ponto errado, devido à afobação do Michael, e tivemos que andar o restante do caminho. Envergonhado pelo meu categórico: “Eu falei que não era ali, mas você saiu correndo!”, o pobre não parava de me pedir desculpas. Chegamos ao quarto passado das seis da tarde e não tínhamos muita ideia do que faríamos no dia seguinte.

Parque Centenário

Parque Centenário

Em 28 de julho, recebemos a sugestão de alguém do hotel para visitarmos o Parque Histórico Guayaquil. Esperando que fosse algum bairro antigo da cidade, pegamos um táxi com o nome do ponto turístico em mãos e partimos, surpreendentemente, para a área mais moderna de Guayaquil. Situado em um bairro nobre da cidade e às margens do rio Daule, o Parque Histórico é uma área de oito hectares dividida em três zonas: a Zona de Vida Silvestre, um tipo de zoológico mais interativo, a Zona Urbano-arquitetônica e Zona de Tradições. Com elas, o parque tem o objetivo de promover passeios culturais e ambientais, resgatando as tradições e a vida natural do país. “Recreação com educação” é o lema do parque, que abre de Quarta a Domingo, entre 9h00min e 16h30min. A entrada é gratuita, mas contribuições espontâneas são bem-vindas.

Iniciamos o percurso pela zona de vida silvestre, enorme área verde que guarda diversas espécies de animais separados por muros de pedras ou alambrados. O visitante caminha por passarelas de madeira que serpenteiam as florestas e proporcionam uma visão superior e abrangente das moradas dos bichos. Passamos por papagaios e araras coloridas, tartarugas, aves aquáticas, preguiças de dois dedos, crocodilos, macacos, veados e vários outros animais que gozam de muito espaço e tranquilidade. Não há jaulas ou grades espessas e os turistas se separam dos bichos por obstáculos naturais, como fossos de água, ou pela própria posição da passarela. Os colossais crocodilos rastejam em baixo dos caminhos onde passamos e redes de proteção evitam que eventuais quedas de visitantes possam se transformar em tragédias. Redes também previnem as águias de voarem para fora do parque, mas nós não conseguimos ver nenhuma, apesar de subirmos num mirador alto, pois elas estavam entre as árvores. Placas informativas esclarecem sobre os hábitos de vida e anatomia dos animais e tudo é bastante organizado. Além da vida silvestre, os diferentes ambientes naturais do parque também agradam; bosques secos, manguezais, florestas e desvios do rio Daule criam uma atmosfera de paz e sossego.

passarelas no Parque Histórico

passarelas no Parque Histórico

 

animais

animais

 

Parque Histórico

Parque Histórico

 

morada dos macacos

morada dos macacos

Na saída das passarelas de madeira, alcançamos a zona urbano-arquitetônica do complexo. Nela, há edificações de valor histórico construídas no início do século XX. Porém, essas construções não são originais da área, mas foram desmontadas de outros lugares e remontadas no parque pelo Banco Central del Ecuador, nos anos 80. Juntamente com os prédios, o Malecón 1900, um bonde elétrico e personagens vestidos de época ajudam a recriar a vida em Guayaquil nos finais do século XIX e começo do XX. Um velho hospício com capela deixa algo de sinistro no ar.

Parque Histórico

Parque Histórico

 

Parque Histórico

Parque Histórico

 

Parque Histórico

Parque Histórico

Adiante, na zona de tradições, ambientes rurais, como fazendas, casas-grandes, hortas e muitas flores trazem de volta as raízes culturais e tradicionais dos agricultores coloniais da costa do Equador. Os jardins são lindos e as crianças se divertem nas plantações e na interação com os patos, galinhas e personagens em fantasias.

Parque Histórico

Parque Histórico

De um modo geral, o Parque Histórico é um passeio familiar e agradável. Eu recomendo. Por volta da uma da tarde, saímos do parque e caminhamos pelas ruas adjacentes até a avenida, onde paramos em um lindo shopping para almoçar. O bairro é impressionante! Alamedas e ruelas arborizadas guardam mansões e condomínios fechados de alto luxo. As portarias são tão lindas quanto as casas e os carrões que entram nas áreas residenciais exclusivas. Tudo é limpo e muito ordenado. A impressão que eu tive é que até o paisagismo foi cuidadosamente pensado nesse bairro; árvores frondosas, canteiros de flores, palmeiras e chafarizes impecáveis pincelam as ruas e avenidas. Realmente muito bonito. Nas proximidades do parque, há também o Teatro Sanchez Aguilar e chiques centros comerciais.

teatro

teatro

Tive até medo do almoço no shopping refletir a bonança econômica do entorno, mas ele não foi caro, para minha alegria. Comi muito bem, inclusive feijão, por apenas U$ 5,35.

Voltamos de ônibus até a Avenida Nove de Outubro, no centro, pois deveríamos parar em alguma loja da Western Union para reaver U$ 32,00 de reembolso devido ao erro que tivemos na aquisição do passeio de trem, em Alausí. Compráramos assentos Vips para o tour e a agência Gulliver, de Quito, reservara lugares regulares. Assim, tínhamos o direito de reaver a diferença assim como gastos extras de telefonemas para a agência; por e-mail, combinamos tudo e resgatamos o valor em um posto da Western Union, em Guayaquil. Acabou dando tudo certo e até ficamos felizes, pois, como eu relatei, nem valia a pena pagar mais dinheiro pela área VIP do trem de Alausí.

Pegamos, em seguida, outro ônibus para nosso hotel. Bem cedo, no dia 29 de julho, pagamos U$ 2,00 para ir de táxi ao terminal de ônibus de Guayaquil. Apesar de perto, tínhamos todas as mochilas e o morto. Por mais U$ 8,25, compramos passagens para Cuenca, a última cidade que visitaríamos no Equador. Fizemos muita pesquisa entre várias empresas de transportes, já que pela distância entre Guayaquil e Cuenca, o valor do bilhete estava proporcionalmente mais caro se comparado aos outros ônibus intermunicipais que pegáramos no país. Entretanto, U$ 8,25 foi o mais barato que pudemos encontrar. Há muitas empresas e os ônibus saem a cada 40 minutos.

Deixamos Guayaquil quase na hora do almoço. Eu gostei bastante da cidade e sugiro mais uma visita a Guayaquil do que até propriamente a Quito, apesar do Centro Histórico da capital valer muito a pena, assim como os passeios feitos a partir de Quito, como a Otavalo ou Cotopaxi. Guayaquil é mais moderna e menos tradicional; há poucos indígenas pelas ruas e a atmosfera é mais cosmopolita. Entretanto, mesmo moderna e bonita, a cidade obviamente ainda enfrenta problemas com violência e desigualdade social.

E ainda, como machismo velado não cai nos índices da criminalidade, eu não tenho estatísticas, mas afirmo que Guayaquil, apesar de “pra frentex”, como dizia minha velha professora de filosofia, continuava perpetuando o comportamento “Macho man” de todas as cidade na América do Sul… Incrível que, não importava se eu pagasse, o troco sempre voltava para o Michael. Inacreditável…

6 Comments

6 thoughts on “Guayaquil

  1. Ana, gostei muito do seu relato. Sou carioca, morando em Manaus há quinze anos, onde conheci minha esposa. Entraremos de férias em janeiro de 2015. Viajaremos para Lima, depois Guayaquil e Quito. Já cansei de procurar e gostaria que você me ajudasse: que empresa de ônibus faz o trajeto Guayaquil a Quito? Qual o custo aproximado?

  2. Obrigado pela gentileza, Ana. Valeu!

  3. Olá, Ana. Mais uma vez obrigado pelas dicas. Li todos os os links que você postou sobre os ônibus que saem de Guayaquil e vão até Quito. Infelizmente não encontrei nenhum que vá pela Avenida dos Vulcões (Amato e Riobamba). Só por Santo Domingo. Gostaria de ver o Chimborazo. Em Quito farei o tour até o Cotopaxi. Outra coisa: você não colocou o ano em que esteve por lá. Sei que foi em julho e pelo que vi o tempo estava muito bom. Só posso ir em janeiro de 2015. Sabe dizer se faz frio ou se chove muito nessa época? Deixamos para comprar agasalhos por lá? Moro em Manaus e aqui a temperatura média é de 35º. Hoje (1º de outubro está fazendo 38º). Não existem abrigos para se comprar aqui. Muito obrigado por suas respostas e você escreve muito bem.

    • Olá, Humberto! Obrigada pelo elogio! Fiz essa viagem em 2012 e vi tanto o Chimborazo quanto o Cotopaxi e, claro, recomendo os dois. Quanto ao tempo em janeiro, realmente não consigo te ajudar, pois não faço ideia de como é o clima nessa época. De qualquer modo, nos passeios aos vulcões sempre faz frio, já que eles estão muito altos em relação ao nível do mar. Lembro-me de ter passado calor e muito frio no mesmo dia, no passeio ao Chimborazo. Nós tínhamos agasalhos e sugiro que levem mesmo, mas também é possível encontrar por lá sim, embora não tenha prestado atenção aos preços para te passar essa informação. Qualquer coisa, escreva! Abraços!

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