Jainismo

Jainismo

O jainismo ou jinismo, assim como o hinduísmo e o budismo, nasceu na Índia e é uma das religiões mais antigas do país. Ela também é uma das religiões mais importantes da Índia, apesar de contar com um número bastante limitado de adeptos – são cerca de apenas quatro milhões de praticantes jainistas, contra mais de um bilhão de devotos hindus, por exemplo. Sua importância advém do fato da filosofia ter influenciado de modo bastante expressivo a vida social, cultural e artística de seus seguidores, que se concentram especialmente no norte do país (no Rajastão), embora haja comunidades jainistas espalhadas por toda a Índia. Ao contrário do budismo, que hoje em dia conta igualmente com poucos adeptos na Índia (por volta de oito milhões, apenas), mas milhões de seguidores ao redor do mundo, o jainismo nunca se propagou fora do país, por não considerar o trabalho missionário uma missão executável. Contudo, devido aos movimentos migratórios, já existem pequenas comunidades jainistas na América do Norte e também na Europa.

Embora seja possível afirmar que a origem do sistema de crenças do jainismo anteceda ao próprio bramanismo, que é o hinduísmo primitivo, a forma atual da fé foi dada pela ação religiosa do profeta Nataputra Vardhamana, conhecido como Mahavira, ou o “Grande Herói”, por volta do século V a.C., e, portanto, a religião é entendida como tendo surgido por volta dessa época.

Mahavira (599 a.C. – 527 a.C (data tradicional apontada por uma das correntes do jainismo) ou 540 a.C – 470 a.C. (segundo os acadêmicos)) é considerado, então, pelos estudiosos das religiões, como o fundador da religião jainista, ideia, no entanto, não compartilhada pelos próprios seguidores da fé jainista, que afirmam ser sua religião eterna e sem fundadores, tendo sido apenas moldada em seu feitio atual por Mahavira. Segundo os adeptos, chamados também de jainas, a doutrina da religião foi revelada, ao longo de várias eras, desde o início dos tempos até o momento ou era atual, por 24 profetas – ou tirthankaras (“alguém que ensina o caminho”). Mahavira é tido puramente como o último e o mais importante entre esses 24 profetas, em cujos ensinamentos os princípios jainistas se baseiam.

Mahavira, assim como seu contemporâneo Sidarta Gautama, o Buddha (Buda), protestava contra os cultos ritualistas e a noção discriminatória de castas da religião hindu dominante; por isso, acredita-se que a filosofia da religião jainista tenha nascido como uma dissidência do bramanismo, isto é, como um movimento de reforma dentro do bramanismo ou hinduísmo primitivo. Apesar  disso, como já mencionado, o sistema de crenças do jainismo pode ser entendido como mais antigo do que o próprio bramanismo (e eterno, segundo os jainistas). O jainismo não é uma seita do hinduísmo, como alguns historiadores já chegaram a afirmar, mas é sim uma religião independente que apenas partilha com o hinduísmo e também com o budismo alguns pontos em comum. Os conceitos de carma e nirvana/ nirjara (para o jainismo), por exemplo, refletem o ambiente hindu, mas os pensadores jainistas deram a eles interpretações bastante distintas.

Segundo a crença essencial do hinduísmo, a alma humana é imperfeita e, devido a essa imperfeição, necessita evoluir, o fazendo por meio de sucessivas encarnações, sob diferentes formas de vida (animais e humanas), de acordo com o seu carma (ou karma), isto é, a soma dos méritos e deméritos de uma vida. O carma é um princípio moral de causa e efeito; é um saldo das inevitáveis consequências de atos passados e, assim, o carma determina necessariamente as vidas futuras de um indivíduo e, portanto, para a maioria absoluta dos hindus, ele justifica o nascimento do homem em uma ou outra casta; ou seja, homem renasce continuamente em formas de vida entendidas como superiores – castas melhores – ou inferiores – castas piores – determinadas pelo carma (tudo que ele fez nas vidas passadas).

A casta social na qual o indivíduo nasce é, portanto, para o hindu, indicação do seu status espiritual (um carma bom significa evolução no ciclo das reencarnações e um carma ruim, o contrário). Esse ciclo de morte e de renascimento é a prisão do homem; no entanto, a libertação do ciclo de reencarnações (moksha, a salvação) e consequente união com Deus pode ser almejada e alcançada se o espírito for, então, capaz de evoluir.

Para a maior parte das tradições hinduístas, a fuga dessa transmigração da alma e a consequente salvação (moksha) consistem em libertar-se do carma, em libertar-se do renascer, libertar-se da roda das reencarnações, e unir-se a Deus, ou Brahma, o eterno princípio por trás de toda a existência. No bramanismo e no hinduísmo, reencarnar é continuar sempre participando das dores do mundo, como se fosse o recomeço do sofrimento e, assim, parar de reencarnar e atingir a salvação deve ser o objetivo de todos.

Para alcançar a libertação do sansara (da roda das reencarnações), o fim do sofrimento e a união com Deus são necessários, em um primeiro momento, o sacrifício e, no segundo, o conhecimento. A libertação vem com a prática de uma variedade de caminhos sagrados para que, então, o homem evolua espiritualmente tanto quanto o permita escapar do sansara – não reencarnar mais e unir-se a Deus. Para o hindu, são necessárias muitas reencarnações para que a alma consiga atingir um grau de evolução espiritual tal que a permita ser considerada perfeita e que a deixe escapar da roda de sansara.

O jainismo partilha da noção de reencarnação do hinduísmo e da ideia de carma (tudo o que se faz gera consequências), mas rejeita a divisão de castas e a concepção de que, de acordo com o carma, o homem necessariamente renasça em formas de vida encaradas como superiores ou inferiores. Para o hindu, o carma determina que o homem volte, no ciclo das encarnações, como um brâmane (a mais importante das castas), um dalit (indivíduo impuro, sem casta e sem privilégios) ou mesmo como uma barata, encarada como ser inferior; e, nesse sentido, para evoluir nesse ciclo e ter a possibilidade de salvar-se, ele deve agir de uma maneira boa (lê-se: de acordo com o que se espera de sua própria casta, de um modo conformista).

Para a filosofia jainista, o carma não é apenas um sistema no qual uma ação produz uma reação dentro do processo de reencarnações, mas o carma é também uma substância física que se agrega à alma e produz resultados ainda nessa vida. O carma é ao mesmo tempo processo e substância. Para os jainas, as partículas de carma simplesmente existem no universo e associam-se a uma alma devido às ações que ela imprime na sua própria existência; se o indivíduo transgride, matando, roubando ou mentindo, por exemplo, as partículas de carma vão se unir a sua alma na proporção dos males feitos, determinando a felicidade ou infelicidade de sua vida, nessa existência. A ausência de partículas de carma estabelecerá o momento no qual essa alma alcançará a verdadeira libertação.

Assim, o carma é importante para os jainistas por influenciar não processos futuros, em vidas futuras, mas processos presentes. Assim como o budismo e o hinduísmo, o jainismo crê no dualismo ação e reação (as ações produzem reações), com a diferença de que o carma se incorpora à alma como se fosse uma substância e não apenas determina o processo do renascimento de vidas futuras.

Para o hindu, o homem deve preocupar-se com suas ações em vida de modo que, na morte e na reencarnação, haja evolução (ele retorne sempre como um ser superior) e assim sucessivamente até a sua libertação desse ciclo de reencarnações. Para o jaina, o homem deve preocupar-se com suas ações em vida, pois é na sua própria vida que a libertação deve ser atingida. A filosofia jaina, nesse sentido, se aproxima mais da nossa lógica cristã de ter essa vida somente para alcançar a salvação. A reencarnação, para os jainistas, seria não o único meio possível de evolução (como acreditam os hindus), mas apenas mais “chances” de se atingir a libertação, ou seja, “se não foi nessa vida, pode ser na próxima”.

A reencarnação em modos de vida diferentes não é encarada pelo praticante jainista como glória ou castigo devido às práticas de vidas anteriores, já que, para eles, absolutamente todas as formas de vida são importantes, a de um sacerdote ou a de uma barata. Não importa de que jeito o homem retorne em outra vida; a reencarnação só existe, pois o ser ainda não conseguiu atingir a perfeição; faltou-lhe mais tempo (mas só aos humanos a salvação é dada). Dessa maneira, a divisão de castas – cerne do hinduísmo – não existe na prática jainista; todos são iguais e merecem igual tratamento e compaixão; ninguém reencarna brâmane ou dalit, devido ao carma; todos os seres humanos têm a potencialidade para alcançar a pureza.

Para o jainismo, o processo que permite a libertação das partículas de carma de uma alma denomina-se nirjara e inclui práticas diversas amparadas em leis inflexíveis (mas não determinadas pelas castas). Esse processo que visa alcançar a libertação final, ou salvação (o nirvana), também significa escapar dos contínuos ciclos de nascimento, morte e renascimento. Assim, a alma imortal poderá viver em um estado eterno de gozo. Para os jainistas, somente os 24 tirthankaras (palavra sinônima de “jina” ou “vencedor”) já conseguiram atingir a total purificação da alma e, assim, a libertação do ciclo de reencarnações. Eles – como almas puras e perfeitas – podem ensinar a outros como também escapar desse ciclo (e não precisar mais voltar e voltar ao mundo).

O jainismo prega, para tanto – para a purificação –, um código moral severo, centrado no ahimsa, isto é, na prática da doutrina da não violência, ou seja, na abstenção de causar danos a quaisquer seres vivos – física ou moralmente.

Jainismo - símbolo do Ahimsa (reprodução de foto da Internet)

Jainismo – símbolo do Ahimsa (reprodução de foto da Internet)

símbolo do Jainismo (reprodução de imagem da Internet)

símbolo do Jainismo (reprodução de imagem da Internet)

Ao ahimsa, soma-se um treinamento espiritual igualmente rigoroso, pautado no ascetismo extremo e na austeridade, cujo objetivo é levar ao nirvana (absorção dentro do espírito supremo). Enquanto monges e monjas seguem uma rotina austera, ensinam as pessoas a seguir as “três joias da fé”, conhecimento, fé e conduta corretos. Os adeptos devem combater com afinco as paixões mundanas, de modo a se purificar e, com isso, alcançar a perfeição moral e espiritual e, consequentemente, a libertação do mundo. Para tanto, uma série de estágios devem ser seguidos que podem incluir jejum, meditação, mortificação da carne e retiro para locais isolados. Em situações extremas, seguidores do jainismo praticam um ritual mortuário chamado Sallekhana (também conhecido como Santhara, Samadhi-Marana, Samnyasa-Marana), que consiste em praticar o suicídio por meio do jejum. Devido à natureza prolongada da sallekhana, o indivíduo tem tempo suficiente de refletir sobre sua vida e pedir perdão dos seus pecados aos deuses. O voto de sallekhana é tomado quando se sente que a vida tem servido o seu propósito. O objetivo é limpar carmas antigos e impedir a criação de novos. De acordo com a revista Press Trust of India, em média, 240 jainistas praticam sallekhana até a morte a cada ano, na Índia (existe uma prática hindu similar conhecida como Prayopavesa).

Passar fome até a morte é, de fato, uma prática extrema, mas todos os adeptos do jainismo, de um modo ou de outro, já sabem que ser fiel e coerente à fé necessita certa dose de extremismo; o caminho para a libertação e para a felicidade não é nada fácil e exige muito sacrifício, doação e exagero – especialmente aos nossos olhos, os ocidentais. A prática da abstenção de prazeres e a renúncia total ou quase total de bens e do conforto material são fundamentais entre todos os praticamente jainistas.

Mahavira, por exemplo, teve uma vida que ilustra os princípios da filosofia. Acredita-se que todos os Tirthankaras – profetas –, ele incluído, foram almas nascidas como seres humanos que alcançaram um estado de perfeição espiritual e a libertação (moksha) do ciclo dos renascimentos, por meio da renúncia, e que transmitiram os seus ensinamentos aos homens.

Mahavira, o último profeta, nasceu perto de Patna, hoje conhecido como o estado do Bihar. É sabido que pregou na mesma região geográfica que Buddha, muito embora não haja registros de que os dois mestres tenham alguma vez se encontrado. Mahavira pertencia à casta dos guerreiros (kshatriya). Foi casado, viveu no luxo até que, por volta dos trinta anos de idade, convenceu-se de que uma vida de abnegação era o caminho para a “iluminação”. Tornou-se, então, um mendigo errante, vagueando nu pela Índia e suportando abusos e dificuldades. Essa entrega ao ascetismo chamou atenção de outros que, da mesma maneira, procuravam um sentido para a vida e não estavam felizes com a filosofia dominante e a descriminação das castas. Mahavira assumiu, assim, discípulos e consagrou os trinta ou quarenta anos finais de sua vida a pregar a sua doutrina. Faleceu por volta de 527 a.C. em Pavapuri, no Bihar, que é desde então um dos principais locais de peregrinação jainista.

Mahavira era veementemente contra a ideia de reconhecer ou adorar um ser supremo. Ele negou que qualquer Deus ou deuses existissem para serem adorados ou considerados superiores. Nomeado como o 24° Tirthankara, o último e maior dos seres salvadores, Mahavira é admirado e venerado por seus seguidores não exatamente como a um deus, no sentido mais tradicional (como nós conhecemos a ideia de um deus sublime, que deva ser louvado e adorado – e temido…), mas de acordo com os princípios da filosofia jainista. Conforme os escritos dessa crença, Mahavira desceu do céu, quase não cometeu pecado e, através da meditação e altruísmo, libertou-se de todos os desejos terrenos e conseguiu livrar-se dos carmas. Ele atingiu a perfeição espiritual e salvou-se. Porém, no entender dos jainistas, Mahavira ou qualquer outro profeta são considerados seres puros, mas não superiores.

O mundo não teria sido criado por um demiurgo, ou seja, um deus criador, superior e mantenedor do universo, mas seria eterno. O universo não teria tido um início, mas seria infinito, operado por leis naturais (por isso, até alguns teólogos consideram o jainismo uma religião ateísta, mas há controvérsias). Para a maior parte dos hindus, escapar da roda de sansara é unir-se a deus, e para o jaina, o mesmo é simplesmente atingir um estado de eterno prazer espiritual.

O tempo, para o crente jaina, também é infinito e cíclico. Ele é visto como uma grande roda dividida em duas partes idênticas: uma realiza um movimento ascendente (Utsarpini), enquanto que a outra um movimento descendente (Avasarpini). Cada uma destas partes divide-se em seis eras (ara). Durante o período ascendente os seres humanos progridem ao nível do saber, estatura e felicidade, enquanto que o período descendente caracteriza-se pela degradação do mundo, pelo esquecimento da religião e pela perda de qualidade de vida pelos humanos. Segundo os jainas, vivemos atualmente num período de movimento descendente, numa era de infelicidade (Dukham Kal), que começou há 2500 anos e que durará 21 mil anos.

Vertentes jainistas

Como em qualquer outra religião, o jainismo possui correntes diferentes dentro do seu próprio universo. As duas principais vertentes jainistas têm os nomes das roupas de seus monges, Svetambara (vestidos de branco) e Digambara (nus ou vestidos de céu). Logicamente, há pontos em comum que dão unidade à filosofia, mas alguns aspectos diferem de grupo para grupo.

Os jainas em geral acreditam que todos os seres vivos, homens ou animais, incluindo insetos, plantas e até cursos de água, contêm um corpo físico ou matéria e também uma alma ou um princípio vital. A essa alma, eles dão o nome de jiva; toda jiva é interligada a outra por elos cármicos. Como vimos, durante a vida, todo o ser vivente imprime na sua alma a quantidade de carmas resultante de suas ações. Todas as jivas, porém, independentemente dos carmas que tenham, são consideradas igualmente importantes; seu valor não se enquadra em aspectos de superioridade ou inferioridade. Cabe ao homem executar boas ações para que o resultado disso influencie na diminuição da quantidade de carmas de sua própria jiva e também de outras, como efeito de sua interação com elas. Cabe ao homem ajudar e tornar o mundo melhor para si e para todos, não discriminar, não segregar e não considerar outro homem seu inimigo ou seu inferior. Não cabe ainda ao homem escolher matar animais ou mesmo plantas nem que seja para sua sobrevivência, quanto menos para o seu deleite e conforto. Eles não podem se considerar superiores em relação à natureza.

A destruição de recursos naturais com o fim de possuir bens é considerada uma forma de violência, rejeitada pelo princípio básico e essencial do ahimsa. A posse é relacionada à violência tanto física quanto psíquica; física pela ruína do recurso em si e psíquica pela devastação moral, já que a necessidade da posse leva ao desejo de dominar, controlar e, consequentemente, faz o homem sentir-se e ver-se em posição de superioridade (em relação aos animais, à natureza, etc.). Ao controlar, subjugar, domesticar ou dominar, o homem usa seu poder físico e mental de exploração, noção completamente repelida pelo jaina. Todos são iguais e as relações entre os seres não podem jamais ser de exploração, mas de amor e igualdade.

O princípio da não violência é, de fato, a noção aceita por todas as correntes jainistas. Todos evitam toda e qualquer forma de agressão, sendo intencional ou não; isso inclui tomar cuidado com as ações, as palavras proferidas e até os pensamentos formulados – três regras que todos os monges especialmente devem seguir.

Aqui, podemos observar alguns aspectos distintos em relação aos próprios adeptos jainas. Os Digambara ou “Vestidos de Céu” andam estritamente livres e nus; o único objeto que possuem é um espanador de penas para limpar delicadamente o caminho por onde passam, evitando pisotear e matar qualquer tipo de insetos ou outros seres vivos.

Os ascetas jainas mais extremos se recusam a ter quaisquer posses e até um privilégio transitório, como se utilizar de algo e depois dá-lo para alguém, é visto como uma forma repudiada de apego à materialidade. Comem com as mãos e não se utilizam nem de copos. De fato, o preceito do desapego, entre os Digambara, é extremamente rigoroso. Às monjas, no entanto, é permitido o uso de uma fina veste branca. Esses também defendem o veganismo e não comem nem tubérculos. Tudo que é ingerido é inclusive minuciosamente observado, a fim de que vermes ou insetos sejam retirados e não mortos pela ingestão acidental.

Os monges do ramo Svetambara ou Shvetambara, “Vestidos de branco” andam com vestes despojadas e brancas e usam uma máscara de tecido semelhante a uma máscara cirúrgica (mukhavastrika) de modo a não engolir nem involuntariamente nenhum ser vivo. Suas vestes e uma tigela na qual recebem alimentos são as únicas posses autorizadas. Os menos extremos podem ser lacto-vegetarianos, o mínimo esperado para um praticante da religião, e podem até se utilizar de recursos naturais, mas sempre ao mínimo possível.

Entre os Svetambara, a entrada na vida monástica, considerada como ideal de vida dos seres humanos para o jainismo, já é possível a partir dos sete anos de idades, para meninos e meninas. Os noviços abandonam sua vida pregressa, assumem votos e têm sua cabeça raspada no momento da ordenação (diksa). Nesse grupo, o número de monjas é bastante grande, ao contrário dos Digambara, já que esses últimos aceitam a doutrina que afirma que para se avançar no caminho espiritual é necessário nascer com um corpo masculino.

Os monges jainas levam uma vida itinerante, em grupos ou sozinhos. Somente na época das monções, eles podem se recolher a uma determinada localidade. Todos dependem da caridade dos leigos jainas (praticantes que não são monges) para suprir sua alimentação e em troca oferecem assistência espiritual.

Em relação aos cultos, algumas diferenças também podem ser observadas. Todos os jainas homenageiam os profetas (os tirthankaras), mas há grupos que são contra o culto de imagens, como os Sthanakavasis e os Terapanthis, e grupos que aceitam as estátuas representativas dos profetas, que são banhadas de mel, chá, arroz e flores durante festivais. As estátuas dos dois grupos são também diferentes: os Tirthankaras dos Svetambara possuem roupas e uma decoração mais rica, enquanto que as dos Digambara estão nuas; estas diferenças fazem com que um adepto dos Digambara não possa praticar o culto num templo Svetambara.

estátua nua jaina (reprodução de foto da Internet)

estátua nua jaina (reprodução de foto da Internet)

Na verdade, o adepto jaina não adora a estátua em si, já que, como mencionado anteriormente, assim como o budismo, o jainismo compartilha da ideia da ausência da necessidade de Deus como criador ou figura central. O crente jaina venera as qualidades associadas à estátua do profeta, de modo a receber inspiração para seguir o mesmo caminho. As estátuas dos tirthankaras podem ser adoradas nos templos ou então em pequenos santuários existentes nas casas. São feitas normalmente em mármore ou bronze e representadas em postura meditativa (dhyanamudra) ou em posição rígida em pé (kayotsarga).

Estátua de um Tirthankara

Estátua de um Tirthankara

Estátua Gomateshwara, datada entre 978-993 d.C. (reprodução de foto da Internet)

Estátua Gomateshwara, datada entre 978-993 d.C. (reprodução de foto da Internet)

Digambar (reprodução de foto da Internet)

Digambar (reprodução de foto da Internet)

Então, estas estátuas não são encaradas como deuses presentes capazes de atender aos pedidos dos humanos e de ajudar às pessoas, mas como deuses no sentido que servem antes como forma de inspiração para que o crente possa alcançar o ideal de renúncia e os elevados valores espirituais por elas representados (é possível dizer, então, que a filosofia jaina é uma religião de autoajuda, já que não há pedidos de auxílio ao deus, mas “veneração” do “deus” no sentido de olhar para si próprio, tomá-lo como exemplo e agir na vida). Essa noção de “deus” é muito diferente da nossa – cristãos –, que entende a concepção divina como um ser absolutamente superior e perfeito, elevado, devendo ser venerado e de quem se espera muita ajuda. Os chamados “deuses” e “deusas” do jainismo são, então, na verdade, seres que foram capazes de atingir um maior grau de pureza e ausência de um fluxo cármico em suas almas e são eles os alvos da adoração jainista nesse sentido, de servirem como bons exemplos a serem seguidos e copiados.

Como forma de distinguir os Tirthankaras/ profetas uns dos outros, a arte jaina representa cada um deles associado a um animal, símbolo ou com uma determinada cor no corpo. Não é possível estabelecer qualquer forma de contato com os tirthankaras através desta forma de culto, uma vez que estes, tendo alcançado a libertação, ficam fora do contato humano. Contudo, durante a Idade Média cada Tirthankara foi associado a uma deusa protetora, em relação às quais se desenvolveram formas particulares de devoção. As deusas mais importantes são Ambika (associada ao 22º Tirthankara, Arishtanemi), Padmavati (associada a Parshva), Lakshmi e Sarasvati.

As orações jainas fazem referência aos grandes atos dos tirthankaras e aos ensinamentos do profeta Mahavira, sendo proferidas em um antigo dialeto do Bihar, o Ardha Magadhi. A principal oração é o Namaskara Sutra, através da qual o jaina presta homenagem às qualidades dos cinco grandes seres do jainismo, que habitam cinco mundos correspondentes, no universo. Os seres são considerados supremos (não superiores uns aos outros) e são eles: os arhats, estes são também conhecidos como os tirthankaras ou jinas (profetas); um arhat é o primeiro ser supremo, um mestre que lança os fundamentos para a libertação de outros, podendo fazê-lo sem a orientação de outro mestre. Sua imagem está no centro do Siddahachakra (um diagrama místico usado pelos jainas).

siddhachakra (reprodução de foto da Internet)

siddhachakra (reprodução de foto da Internet)

Os siddhas, os segundos seres supremos, são o equivalente jainista de um santo; um siddha é uma alma que alcançou a libertação sob a orientação de um mestre, vivendo em estado de êxtase no topo do cosmos, a morada suprema ou siddhashila. Os acharyas, guias espirituais, formam o terceiro nível dos seres supremos; cada acharya conduz uma ordem de monges ou monjas. No siddhachakra, a imagem do acharya aparece a leste. Os upadhyayas, o quarto nível dos seres supremos, são monges instrutores que transmitem seu conhecimento das escrituras a outros monges e monjas. No siddhachakra, a imagem do upadhyayas aparece ao sul. O restante dos monges jainistas ocupa o quinto nível dos seres supremos. No siddhachackra, o monge aparece a oeste.

Para os jainas, abaixo da morada suprema, onde estão as almas salvas, se encontram trinta céus, habitados por seres celestiais, alguns dos quais caminham para a morada suprema. O mundo médio (madhyaloka) inclui vários continentes separados por mares. No centro deste mundo, encontra-se o continente Jambudvipa, considerado o único continente no qual as almas ainda podem alcançar a libertação. Os seres humanos habitam este continente. Há a concepção de inferno, chamado de mundo inferior (adholoka); ele seria o único lugar que conceberia a existência de vidas consideradas inferiores e incapazes de alterar sua condição. Em sete infernos presentes nesse mundo, seres são atormentados por demônios e se atormentam uns aos outros. Abaixo do sétimo inferno, encontra-se a base do universo (nigoda), habitada por mais inúmeras formas inferiores de vida.

Além dos votos, das orações e da leitura e da adoração aos profetas, o ato de fazer doações para a construção de templos é também considerado uma forma de culto para o praticante jainista, assim como a prática de peregrinações aos lugares considerados sagrados.

Cada uma das correntes jainistas encontra-se ainda dividida em vários subgrupos, mas a maioria dos jainas pertence ao grupo Svetambara. Geograficamente, os Digambara concentram-se no sudoeste da Índia e os Svetambara no noroeste (estados do Gujarate, Rajastão e Madhya Pradesh).

A origem destes dois grupos situa-se no século I d.C. (ou talvez no século III d.C., segundo alguns autores) e deve-se a disputas em torno dos textos que devem constituir as escrituras do jainismo. Os Svetambara consideram que as suas escrituras estão mais próximas dos ensinamentos originais do Mahavira. O Kalpa Sutra, ou Livro do Ritual, por exemplo, narra a vida de Mahavira e é um dos mais importantes textos sagrados, cujos ensinamentos são considerados autênticos apenas pela seita Svetambara dos jainistas. Os Digambara rejeitam uma parte considerável dessas escrituras. Os Digambara consideram igualmente que a renúncia pregada pelo Mahavira implica para os monges a nudez total e que as mulheres devem em primeiro lugar renascer como homens, para poderem atingir a libertação (para os digambaras, só os homens podem alcançar a libertação).

De um modo ou de outro, as crenças jainas se amalgamam nos chamados doze “Anuprekshas” (a “Matéria de Pensamento Profundo”) das escrituras jainistas: todas as coisas mundanas são temporárias; apenas a alma é o único refúgio; este mundo é sem começo e deformado; nada ajuda a alma além de si mesma; corpo e mente são, essencialmente, separados da alma; a alma é essencialmente pura, e o corpo e a mente são impuros; o cativeiro da alma é devido a influência do carma sobre ela; todos os seres devem parar a influência do carma; a libertação é alcançada quando se está absolutamente livre do carma; a alma liberada preenche o espaço; neste mundo, ter um nascimento como ser humano e meditar na natureza da alma é a maior bênção; ter as três joias comum descritas pelo onisciente é apenas moralidade.

Os jainas que não são monges são chamados de leigos. Todos eles devem observar oito regras de comportamento e tomar doze votos. As oito regras variam, mas em geral incluem a prática absoluta e irrestrita de Ahimsa (não violência), que tem seu ponto forte na alimentação: não comer carne de nenhum tipo, não comer certos vegetais (como cebola e alho), nos quais se acredita viverem determinados seres e não usar nenhum produto de origem animal. Outras regras incluem não se alimentar à noite, não ingerir bebidas alcoólicas nem substâncias consideradas alteradoras da consciência (cafeína, teobromina) e praticar a caridade a todos os seres vivos. Ler sobre as qualidades transcendentais dos Tirthankaras e recitar o Navkar Mantra também fazem parte das principais práticas diárias. Os leigos provêm a alimentação dos monges e podem usar alguns utensílios facilitadores das atividades cotidianas, sendo, porém, o mínimo necessário.

Os doze votos são divididos em três classes: os Anuvratas são os cinco votos principais, tomados pelos monges e monjas: abster-se de atos violentos, não mentir, não roubar, não cobiçar o parceiro de outra pessoa e limitar as possessões pessoais; os Gunavratas são três votos que reforçam os cinco votos principais: restringir as atividades pessoais a uma área concreta (digvrata), restringir práticas que proporcionam prazer (bhogopabhogavrata), evitar atos que causam sofrimento (anarthadandavrata); os Siksavratas são quatro votos de disciplina espiritual: meditar, limitar determinadas atividades a certos momentos, adotar a vida de um monge por um dia, fazer donativos aos monges ou aos pobres.

Aos monges, além da obediência a todos os votos e a manutenção de uma conduta ilibada, baseada nas três joias – conhecimento justo, fé correta e boa conduta –, há a obrigação da castidade. O princípio da castidade foi acrescentado por Mahavira; antes dele, os quatro grandes princípios do jainismo – não violência, evitar a mentira, não se apropriar do que não lhe foi dado e não se apegar às posses materiais – foram pregados pelo 23º Tirthankara, o senhor Parshva, que os historiadores consideram ter sido provavelmente uma figura histórica que viveu cerca de três séculos antes do profeta Mahavira. Na verdade, os historiadores reconhecem a existência dos dois últimos Tirthankaras, Parshvanâtha e Vardhamâna (o Mahavira).

Os templos jainistas

De acordo com as crenças do jainismo, a existência de templos nos quais as imagens dos Tirthankaras (profetas) são adoradas não tem uma origem, mas sempre teria existido em Nandisvaradvipa, o continente inacessível aos humanos. Neste continente, se encontrariam 52 templos eternos, nos quais a adoração sempre aconteceu. No que diz respeito ao nosso mundo, a origem mítica do templo estaria em um local feito para adorar Rishabha, o “Senhor Original”, ou o primeiro dos 24 profetas.

Templos do jainismo são mencionados nos textos mais antigos da vertente Svetambara, mas não nas narrações sobre a vida de Mahavira. As inscrições permitem estipular que a data de início da construção de templos jainistas começou entre o segundo e o terceiro séculos antes de Cristo. Anteriormente, existiam lugares chamados de devakulas ou devakulikas, onde a figura de alguém que se considerasse digna de veneração (arhat) era colocada; esses locais também existem dentro do budismo.

Assim, os primeiros templos jainistas remontam a monastérios do século II a.C. e dada a natureza monástica jainista, que prescreve uma vida nômade e mendicante, os primeiros mosteiros eram lugares simples somente feitos para o descanso e o retiro de ascetas. O surgimento dos templos com decoração mais sofisticada, como locais de veneração dos profetas, é bem mais recente e, por vezes, ele está associado à cidade de Mathura, a, aproximadamente, 150 km ao sul de Nova Déli.

Apesar do pequeno número de seguidores do jainismo, há numerosos templos dedicados a esta religião, em especial no norte da Índia. Em grande parte, isso ocorre, pois seguindo o princípio da não violência ou ahimsa e, consequentemente, do desapego materialista (já que a transformação da natureza para fins de prazer ou conforto material humano é vista como uma forma de agressão), muitos jainistas que se dedicaram com sucesso ao comércio e outras atividades lucrativas, doaram, posteriormente, parte de sua riqueza a fim de construir templos ou retiros aos ascetas seguidores da fé, já que acumular riquezas configura-se uma forma de transgressão. Então, há muitos patrocinadores.

Comunidades jainas fora da Índia também construíram templos em lugares nos quais se instalaram. O primeiro templo construído fora do território indiano está localizado em Nairóbi, no Quênia, e foi construído em 1926, pelos descendentes dos comerciantes deslocados para lá desde o século XIX. Há também um templo moderno na cidade de Antuérpia, na Bélgica.

Os templos da filosofia jainista dedicados aos profetas não são geralmente edifícios grandiosos externamente, como é comum para outras religiões; isso porque existe o entendimento de que o externo (como o corpo nu de muitos seguidores) deve ser despojado de riquezas. No entanto, internamente, os templos costumam exibir uma abundância de detalhes muito requintados, ilustrando que a alma deve ser rica de espiritualidade. Essa característica está presente especialmente nos templos do norte da Índia, em estados como o do Rajastão. No sul, podem ser encontradas estátuas colossais na entrada dos templos, criadas especificamente pelos digambaras na mesma época dos templos do norte, que representam os profetas da fé e, embora elas sejam gigantescas, estão normalmente nuas, respeitando o princípio básico jainista do desapego. Muitas vezes, elas estão localizadas no topo das montanhas, longe do assédio dos turistas e onde os seguidores digambaras podem manter-se nus e à vontade.

Os templos de adoração normalmente possuem inúmeras estátuas em mármore ou arenito que forram completamente as paredes internas dos santuários.

detalhes das paredes de templo jainista em Jaisalmer

detalhes das paredes de templo jainista em Jaisalmer

As estátuas representam os profetas, assim como pessoas que fizeram parte de suas histórias. Há também animais que podem simbolizar cada um dos 24 tirthankaras.

detalhes de animais em templo de Jaisalmer

detalhes de animais em templo de Jaisalmer

É comum que exista ainda um exagerado número de colunas talhadas lindamente em mármore, como se fossem rendas, representando que o interior humano deve ser completamente cheio de bons sentimentos. Os domos “rendados”, da mesma forma, costumam fazer parte da decoração dos templos jainistas e também remetem à noção de plenitude da alma.

colunas em templo de Jaisalmer - horror ao vazio

colunas em templo de Jaisalmer – horror ao vazio

domo em templo jainista, Jaisalmer

domo em templo jainista, Jaisalmer

detalhe da parede de templo jainista de Jaisalmer

detalhe da parede de templo jainista de Jaisalmer

A base da iconografia jainista geralmente consiste na figura de um sábio profeta nu (digambara) ou vestido, sentado de pernas cruzadas, ou na posição vertical. Esta figura muitas vezes parece cercada por quatro camadas que se referem aos conceitos básicos do jainismo em torno da ideia principal.

estátua em templo de Jaisalmer

estátua em templo de Jaisalmer

Templo jainista de Jaisalmer

Templo jainista de Jaisalmer

flores sobre estátua, templo em Jaisalmer

flores sobre estátua, templo em Jaisalmer

A partir de certo momento histórico, começaram a proliferar muitos templos jainistas quadrangulares, com portas em cada um dos lados, como Chaumukh ou o famoso Ranakpur, considerado o destaque deste tipo arquitetônico.

É neste ponto, por volta do século XV, quando os templos jainistas iniciaram sua configuração como um complexo de edifícios, quase como templos cidades. Isso se deu, em parte, pelas muitas famílias que promoviam a construção de devakulikas (pequenos santuários com imagens) ou mandapas, espécies de salas ou pavilhões abertos sustentados por colunas, em suas próprias casas e terrenos, que passavam a se interligar. Os corredores, entradas e altares eram frequentemente adornados de toranas (pórticos triangulares).

exemplo de mandapa (reprodução de foto da Internet)

exemplo de mandapa (reprodução de foto da Internet)

templo de Jaisalmer

templo de Jaisalmer

torana (pórtico triangular) em um templo jainista de Jaisalmer

torana (pórtico triangular) em um templo jainista de Jaisalmer

Muitas vezes, estes complexos de templos estavam localizados nas montanhas, como na “cidade-templo” de Shatrunjaya Mount Abu (ou em Girnar); a localização se dava por motivos diversos como, por exemplo, para evitar os ataques de muçulmanos (que destruíram muitos templos jainistas, assim como hinduístas e budistas, na Índia) ou simplesmente por uma inclinação maior ao contato com a natureza (base para o ascetismo).

A planta dos templos jainistas muitas vezes é formada por uma estrutura central, cercada por outras, tais como as mandapas e as devakulas (altares). Os templos, muitas vezes construídos com a ajuda de famílias seculares, sempre foram crescendo, ao longo dos tempos, por causa de adições que lhes foram feitas. Em muitos deles, como o Templo de Hutheesinh, há um santuário primário ou Garbhagriha e em torno deste, foram construídos templos menores que contêm figuras dos Thirtankaras ou de outras instituições veneráveis.

Entre os templos jainistas, são frequentemente encontrados Manastambhas, colunas de honra. Estas construções são comumente vistas no caminho para os templos e são ricamente esculpidas.

Na parte superior destas colunas, há referências aos Tirthankaras, após sua obtenção do Kevala Jnana, estado de onisciência. A construção destas estruturas data da época do Império Kushan, entre os séculos I e III d.C., embora existam exemplares anteriores.

Os jainistas sempre valorizaram a preservação dos textos sagrados escritos, em contraste com os hindus, que sempre mantiveram uma forte tradição oral. Assim, bibliotecas são sempre parte integrante dos templos jainistas; elas abrigaram uma série de manuscritos contendo os textos sagrados. Muitas destas bibliotecas são consideradas as mais antigas da Índia.

No jainismo, um bhonyra é uma sala ou câmara subterrânea que pode ser encontrada em alguns templos e que foi usada no passado para proteger as imagens sagradas em momentos complicados. Atualmente, estes quartos foram adaptados para se tornarem locais de meditação para os monges. Vários templos em Bundelkhand têm uma dessas câmeras.

Os templos da religião também têm elementos como a suástica, mais enfatizada pelo jainismo do que pelo próprio hinduísmo. Ela representa o sétimo profeta santo, o Tirthankara Suparsva. É também considerada uma das 24 marcas auspiciosas, emblema do sétimo arhat dos tempos atuais. Todos os templos jainistas, assim como os livros santos jainistas, contêm a suástica. As cerimônias jainistas começam e terminam com o desenho da suástica feito várias vezes em volta do altar.

Os adeptos também usam o arroz para desenhar a suástica (também conhecida por “Sathiyo”, no estado indiano de Gujarat) diante dos ídolos nos templos. Os jainistas colocam uma oferenda sobre esta suástica – geralmente uma fruta, um doce (mithai), uma fruta em passa ou ainda uma moeda ou cédula de dinheiro.

São particularmente importantes os templos ou complexos esculpidos na rocha, formando cavernas; e um dos seus maiores expoentes constituem as Grutas de Ellora. É preciso distinguir, entre essas cavernas, aquelas que em si são um templo e aquelas que serviram como uma residência para ascetas da fé, que, muitas vezes, eram encontrados nas proximidades. A escolha de cavernas como um lugar de culto e de residência advém de vários fatores. No ascetismo, a regra era viver longe das cidades e as covas também resultavam em moradias extremamente simples. As primeiras cavernas que serviram de templos podem ser datadas do século I a.C.

Considerações finais

Durante a minha viagem pela Índia, visitei diversos templos jainas e confesso que, inicialmente, colocava todas as impressões sobre a religião no mesmo “balaio” do hinduísmo. Mais tarde, depois da minha modesta pesquisa, percebi o quão interessante e distinta essa filosofia é, corroborando a vastíssima diversidade cultural indiana. O jainismo me impressionou como fenômeno social, já que podemos dizer que ela, no meu entender ao menos, é a religião mais ecologicamente correta do planeta. A ausência de um deus superior também nos faz pensar e refletir muito sobre nossas próprias acepções e modos de ver o mundo (praticar uma fé sem necessariamente crer em deus é muito extraordinário). No mais, o que mais simpatizei do jainismo foi o conceito de não absolutismo, que cito no trecho a seguir, tirado da Wikipédia: “a assunção de que alguém tem acesso privilegiado à verdade é o mais potente motor de conflito entre os seres humanos. O conceito de não-absolutismo refere-se ao pluralismo de opiniões, e à noção de que os vários pontos de vista sobre a verdade não são a própria verdade. O jainismo encoraja os seus seguidores a considerarem os pontos de vista de outras filosofias, e consideram que quando qualquer uma destas filosofias, incluindo a jaina, se apega demais às suas próprias ideias está a cometer o erro de considerar o seu ponto de vista absoluto. A ideia é representada pela parábola dos homens cegos e do elefante, em que vários cegos tocam em partes do elefante, como as orelhas e as pernas, e descrevem, de forma contraditória, o que pensam ser o animal completo, partindo do pressuposto de que a parte que tocaram representava a verdade completa. O conceito de “syadvada” ou “talvez-ismo” diz que se deve considerar que todas as proposições são apenas parcialmente verdadeiras (e parcialmente falsas). Os pontos de vista parciais da verdade são chamados de “naya”. Segundo o princípio chamado de “nayavada”, através da abertura a diversos pontos de vista, o jainismo pretende que o praticante integre os diversos pontos de vista parciais, ou “naya”, numa teoria abrangente.”.

A Índia é, de fato, um lugar que nos leva à reflexão, se estivermos abertos a isso. Por isso, tento organizar um pouco as informações que colhi e peço desculpas se há noções equivocadas, pois ainda inicio nessas indagações e entendimentos. O que vale, para mim, é sempre continuar aprendendo…

Os principais festivais do jainismo são (fonte: Wikipédia):

  • Mahavira Jayanti: decorre em março ou abril e celebra a data do nascimento do Mahavira. Neste dia estátuas do Mahavira são levadas em procissões pelas ruas e os jainas reúnem-se nos templos para ouvir a leitura dos seus ensinamentos.
  • Paryushana: durante o mês de Bhadrapada (agosto-setembro) os membros do ramo Svetambara do jainismo celebram um dos seus festivais mais importantes, Paryushana. Este festival está dedicado ao perdão e consiste na prática do jejum durante oito dias. No último dia do festival (Samvatsari) os jainas pedem perdão uns aos outros por ofensas que possam ter causado; aqueles que conseguiram jejuar durante os oito dias seguidos são levados para os templos em procissão. O festival equivalente na tradição Digambara denomina-se Dashalakshanaparvan, e para além da prática do jejum, é lido nos templos um importante texto, o Tattvartha-sutra.
  • Diwali(festa das luzes): celebração comum a toda a Índia, é para os jainas a comemoração da altura em que o Mahavira deu os seus últimos ensinamentos e alcançou a libertação. Ocorre no mês de Kaartika, que corresponde no calendário gregoriano a outubro-novembro.
  • Kartik Purnima: ocorre no dia de lua cheia do mês de Kaartika. Após terem permanecido numa determinada localidade durante os meses da monção, os monges e monjas jainas regressam à vida errante, sendo por vezes acompanhados por leigos no percurso que fazem para outro local. Neste dia muitos jainas realizam a peregrinação aos templos de Palitana, no estado indiano do Gujarate.
  • Mastakabhisheka– Cada doze anos os jainas (principalmente os do ramo Digambara) reúnem-se no santuário de Shravana Belgola no estado de Karnataka, onde se encontra uma estátua de dezessete metros de Bahubali, que é alvo de libações com água, mel, leite, flores, preparados de ervas e especiarias.

Para mais informações sobre o jainismo, sugiro acessar o site abaixo, no qual encontrei um texto interessantíssimo sobre o tema:

http://eusoujaina.blogspot.com.br/2015/07/jainismo-e-crenca-em-deus-escrito-por.html

Reprodução desse texto:

JAINISMO E A CRENÇA EM DEUS

POR JAYARAM V

Ou se está com Deus ou contra Deus, este é um ponto de vista. Eu não creio em Deus, porém creio em mim mesmo, este é outro ponto de vista. Eu não acredito em um Deus, mas eu acredito que o meu ser é divino e, portanto, o meu Ser é Deus, este é o terceiro ponto de vista. Eu não acredito que Deus exista, mas acredito que algumas almas possam atingir a divindade através da perfeição, este é o quarto ponto de vista. Com exceção do primeiro, o credo do jainismo serpenteia por todas as outras óticas sem comprometer a sua doutrina essencial. Um estrangeiro pode ter dificuldade de classificar o jainismo, simplesmente, como sendo teísta ou ateísta. No entanto, um jaina considera sua fé como teísta porque ele crê na divindade essencial da alma individual e na sua existência eterna em uma realidade eterna que personifica a mais alta perfeição. Na explicação seguinte entenderemos porque isto é assim:

Uma característica interessante de algumas tradições originárias da Índia é a sua descrença na existência do Deus Criador. Samkhya, budismo e jainismo acreditam nas funções previsíveis e rotineiras da Natureza e sua divisibilidade. No entanto, eles não reconhecem a existência transcendental do princípio eterno que, comumente, outras religiões identificam, no campo da filosofia, como sendo causa singular das causas e, na prática religiosa, como sendo Deus. A ideia de que alguém pode ser ateu e, ainda assim, religioso é um paradoxo para muitos, especialmente, para aqueles que são educados na noção de que a crença em Deus e a prática religiosa caminham juntas e não podem ser separadas.

No cristianismo e no islamismo, sem o comprometimento com a fé em Deus e sem a submissão a Sua supremacia e a Sua lei inviolável, a pessoa não pode fazer parte da congregação – ou da comunidade de seguidores – e encontrar uma passagem segura para entrar nos portões do céu. Já no hinduísmo, jainismo e budismo a crença em Deus não é um pré-requisito para a prática da religião ou para se alcançar a libertação.

Eles colocam mais ênfase na responsabilidade individual e salvação pessoal baseados em um comportamento justo e uma prática assídua dos ensinamentos deixados por mestres iluminados. Nesta jornada o que os auxiliam são o desapego, a renúncia, a ausência de desejos e a pureza interior. Quando a individualidade de um ser desaparece, ele se liberta das coisas que o definem e o limitam. Quando essas balizas de separação – essas coisas que nos limitam – são obliteradas no mundo interior que existe em cada um de nós, tornamo-nos parte do oceano da existência e deixamos de ser indivíduos sujeitos a dualidade e a ignorância. Neste processo se é o caso de recorrer a Deus ou a uma divindade é uma escolha pessoal, depende do caminho e da fé que se elege.

As religiões indianas não são religiões ateias. No entanto, elas oferecem uma ampla gama de opções para os seus seguidores testarem suas crenças nas águas da vida e fazerem suas próprias escolhas. Além disso, na maior parte das religiões da Índia, a crença em Deus não é um requisito essencial para se alcançar a salvação, embora seja desejável, uma vez que aumenta as chances de alcançar o objetivo final. Essas religiões são muito flexíveis em deixar as pessoas fazerem suas escolhas e encontrarem a verdade através da tentativa e erro, pois depositam fé na doutrina do carma, segundo a qual cada indivíduo está sujeito as consequências de suas ações. O hinduísmo, o budismo e o jainismo acreditam na lei do carma. Entretanto, eles diferem no que diz respeito à sua causa e a sua continuidade.

Deus é um grande enigma que ninguém pode, verdadeiramente, compreender. Estudantes da ciência moderna sabem o quão difícil é entender a origem e a natureza do universo material, imaginemos, então, a extensão do problema que é conhecer a realidade invisível e transcendental chamada Deus, a quem não podemos alcançar em circunstâncias normais. Nenhuma mentalidade comum pode, definitivamente, construir a visão do universo material, mesmo que seja parcialmente, usando o campo da observação; e é ainda mais difícil prever o reino espiritual que desafia todas as leis conhecidas da existência e é, ostensivamente, além de nossa percepção.

Estas três tradições sugerem que a aspiração religiosa começa com uma inclinação inata da pessoa, de acordo com o seu carma; em última instância, por meio de auto esforço para se obter uma abertura interior em que a verdade é percebida ou experimentada para além das barreiras da mente condicionada e das limitações das escrituras e autoridades temporais.

Portanto, de acordo com o hinduísmo, o budismo e o jainismo, a religião é um meio de autodescoberta e esforço espiritual para alcançar a verdade e não deve ser interpretado como um dogma autoritário e coercitivo (que impede a livre investigação e exige a rendição incondicional aos preceitos das Escrituras ou aos ensinamentos messiânicos) que a pretexto de peso da autoridade, muitas vezes, persegue quem blasfema contra ele.

Em todas as religiões indianas o conhecimento adquirido através da experiência pessoal é mais válido do que o conhecimento obtido através das Escrituras ou de ensinamentos. Este último se torna aceitável e importante, mas, aí, não existe a experiência pessoal legítima, nem o conhecimento direto. Pode-se recorrer à fé cega e a autoridade das Escrituras ou de um mestre nas etapas iniciais do esforço espiritual, porém, no final, é imprescindível, alcançar o objeto de tal fé, em um estado de não-dualidade, para que se experimente a unidade e ser absorvido na mesma.

Neste ponto de vista podemos perceber verdades subjacentes:

 – que a não-violência é o método sugerido para que se alcance a perfeição; a tradição defende que não se pode violar o princípio da não-violência para realizar esse objetivo.

 – da  mesma maneira que muitas dualidades da vida, a fé, que é um facilitador no início, torna-se um obstáculo em algum estágio do caminho espiritual; portanto há que se renunciar a fé para transcender as construções mentais e noções intelectuais e experimentar a verdade diretamente. 

No jainismo e no budismo é dada prioridade aos ensinamentos daqueles que tenham atingido a perfeição e experimentaram a verdade e não a fé cega na existência de um Ser Eterno. Ambas as religiões negam a existência de Deus como uma entidade absoluta e eterna e não reconhecem seu papel como o criador do mundo e da realidade em que vivemos.

No budismo qualquer discussão a respeito de Deus é considerada como inútil, porque ela é de pouco valor na libertação de um indivíduo. Especular é considerado como função de uma mente ociosa  e propensa a distrações. Não leva a mitigação do sofrimento humano, nem a libertação. O que mais importa é o esforço pessoal e a sinceridade com que o caminho óctuplo é praticado. O Buda aconselhou seus discípulos a permanecerem no presente, conscientes de seu imediato mundo perceptível, para conhecerem a verdadeira natureza de sua existência e encontrarem soluções adequadas para o problema dos seus respectivos sofrimentos.

Se o budismo não afirma, nem nega, claramente, a existência de Deus, deixando a questão inconclusiva e sem resposta, já o jainismo tem uma posição bastante enfática ao negar a existência de Deus como um Ser universalmente absoluto responsável pela criação; o jainismo sobre esse assunto não deixa margem para ambiguidades e incertezas.

Entretanto, paradoxalmente, embora o jainismo não acredite na existência do Ser Supremo Universal, não podemos classificá-lo como uma tradição ateísta, uma vez que tem, ostensivamente, elementos do teísmo. O jainismo não reconhece esse Deus, mas defende a fé que há inúmeras almas individuais em diferentes estados de escravidão e perfeição que são tanto divinas, quanto eternas. Isso quer dizer que o jainismo  acredita na natureza eterna das almas individuais que habitam as diferentes regiões do universo, essas almas têm o potencial de atingir seu mais alto estado de perfeição, através de seu esforço individual. O jainismo também repousa sua fé nos ensinamentos de Seres Perfeitos (os Arhats) e a existência de moradas mais elevadas que são povoadas por deuses (os Siddhas). Ambos Arhats e Siddhas são considerados veneráveis e dignos de serem imitados.

Para um jaina, Deus não é o centro do mundo. No entanto, um mundo desprovido de Deus ainda pode ser divino e eterno. O jaina percebe divindade, ou a qualidade essencial que é a perfeição de Deus no reino mais elevado do universo e nas almas individuais, que são intrinsecamente puras e que adquiriram a capacidade da onisciência, onipotência e onipresença através  de suas escolhas e ações. O universo e a alma são realidades permanentes que não podem ser negadas. Mesmo a materialidade de nossa existência não é uma ilusão, mas uma realidade que tem componentes variáveis chamados tattvas. Matéria e substância são reais, assim como as almas o são. De acordo com o Akaranga Sutra: “Aquele que nega o mundo, nega a si mesmo; e aquele que nega a si mesmo, nega o mundo”.

Assim sendo, no jainismo Deus é substituído por uma realidade permanente – as almas individuais – que são eternas, incriadas e indestrutíveis. As almas habitam o universo que, também, é incriado e indestrutível. O universo está sujeito ao movimento de prolongados ciclos de tempo repetitivos durante milhões de anos em que as almas passam por fases alternadas de declínio moral seguido de recuperação espiritual, tal qual a mecânica compassada, do dia que é seguido pela noite e a noite pelo dia.

O Deus do jainismo ou o seu princípio superior de existência não é ser um doador de dádivas ou um libertador dos seres, mas possui um estado ideal de pureza eterna e bem-aventurada consciência para que a humanidade possa nele se inspirar e aspirar através da renúncia, do auto esforço intenso e purificação alcançar o mesmo estágio. Um jaina que se compromete a trilhar a senda dos seres Perfeitos, conhecidos como Tirthankaras ou Arhats ou jinas, visa atingir tal estado de divindade não pelo amor a Deus, ou para estar com Deus, ou tornar-se semelhante a Deus porque Ele é um Ser superior, mas para escapar do sofrimento existencial, para recuperar a liberdade perdida da alma. Em suma, no jainismo, não há lugar para o bhakti*.

Nota:
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

* Bhakti (em sânscrito quer dizer devoção) é uma das três doutrinas ou caminhos básicos prescritos pelo hinduísmo para a liberação espiritual (moksha). De acordo com as características pessoais de cada praticante, pode-se optar por um ou mais destes caminhos, simultânea ou separadamente e a qualquer tempo ou período de vida. São eles:

– Karma – ou o caminho do trabalho com desapego aos resultados ou frutos por ele produzidos.

– Bhakti – ou o caminho da devoção a um dos múltiplos aspectos do absoluto (Braman)


– Jnana  ou gnosis – o caminho do conhecimento, descobrindo a espiritualidade através do inquirir racional.

Pelo fato do jainismo, hinduísmo e budismo terem coexistido, até os dias atuais, na mesma região e seus proponentes terem interagido com frequência, o jainismo tem traços de ambas as tradições; bem como as outras duas, também, absorveram alguns de seus aspectos. Sendo assim, parece que, em algum período da história do desenvolvimento religioso na Índia, a adoração do Senhor Krishna encontrou seu caminho para o jainismo. Arishtanemi, o Tirthankara 22, está ligado a ele. O resultado foi a origem da comunidade de Vaishnava jainistas, uma sub seita independente do jainismo, cujos adeptos adoram devocionalmente o Senhor Krishna da mesma forma como os hindus  o fazem. No entanto, essa ramificação foi uma exceção e não deve ser interpretada como prática comum no jainismo.

As Escrituras jainas questionam a existência de Deus tanto lógica quanto teisticamente*. O Mahapurana declara que se devem rejeitar todas as noções de algum Deus criador do universo. Ele pergunta: “Se Deus criou este mundo, onde Ele estava antes da criação e onde está agora e como pode um Deus imaterial criar um mundo material?” E conclui: “Saiba que o mundo é incriado, como o próprio tempo o é, sem começo e sem fim…” Incriado e indestrutível, ele perdura sob as compulsões de sua própria natureza, dividido em três seções – o inferno, a terra e o céu.

* Teísmo – é um conceito filosófico-religioso desenvolvido para se conceber o Criador. Esta filosofia defende que este Ser é a única entidade responsável pela criação do universo; é onipotente, capaz de realizar tudo sem a ajuda de quem quer que seja; é onisciente, pois é Aquele que tudo conhece e é possuidor de infinita liberdade e suprema generosidade.

Teísmo é um termo que provem do grego Théos, que significa “deus”. Neste sentido, o Teísmo se contrapõe ao ateísmo, que não acredita na existência de uma divindade suprema. A filosofia teísta foi difundida em 1678, pelo filósofo e teólogo inglês Ralph Cudworth, integrante do movimento filosófico conhecido como Platonistas de Cambridge.

O Teísmo pode ser classificado em:

– Monoteísmo – fé em um único Deus.

– Politeísmo – devoção a diversas divindades.

– Henoteísmo – quando se adora um Deus Superior, mas não se rejeita a existência de outros deuses.

Não é que o hinduísmo não possa responder a uma pergunta tão crucial. No entanto sua resposta não se coadunaria com o ponto de vista jaina sobre o universo e sua natureza eterna. Para um hindu o universo material é irreal e ele veio a existência como projeção ou manifestações de Deus. Para um jaina o universo é real porque a matéria é real e não criada. Embora possa passar por vários estados ou condições o universo sempre esteve aí e deve manter-se sempre, sem começo e sem fim, assim como as almas individuais.

Embora os jainistas não reconheçam a presença de Deus, eles reconhecem a existência de seres superiores chamados Arhats e, no céu, alguns deuses (Siddhas). Os deuses são almas que gozam de uma maior liberdade e um maior grau de pureza, conhecimento e inteligência e são incorpóreos. Os Arhats não têm qualquer interesse nos assuntos profanos. Neste aspecto eles são completamente indiferentes ao que se passa no mundo. No entanto, estão interessados no bem-estar do universo e em ajudar as almas imperfeitas a subirem a escada da pureza e da justiça através de austero auto esforço para que alcancem o mundo dos seres perfeitos.

Os jainas adoram os Arhats não para ganhar favores deles, mas para limpar o seu carma. O próprio ato de adorar os seres perfeitos é interpretado como sendo benéfico, uma vez que tem o efeito purificador de reduzir o fluxo de matéria cármica em seus corpos e, assim acelerar o seu progresso no caminho espiritual. Assim, antes de tudo a adoração aos Arhats não é um esforço devocional mas espiritual (no entanto, algumas seitas jainistas acreditam que os Arhats podem remover o mau carma de quem lhes presta devoção).

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