Riobamba – Guayaquil

Riobamba – Guayaquil

Dia 20 de julho, me levantei cedo e olhei para fora da janela do hotel, em Riobamba. O dia estava decepcionantemente cinza. Nossa intenção não era ficar na cidade e só voltáramos a Riobamba para poder ir a Guayaquil, de onde há voos ao arquipélago de Galápagos. Nós tínhamos, inclusive, as passagens de avião compradas para o dia seguinte, 21 de julho, na parte da manhã, para Galápagos. Dessa forma, tínhamos que ir para Guayaquil imprescindivelmente no dia 20 à tarde; chegar lá, nos instalar e acordar dia 21 somente para ir ao aeroporto. Apesar de Riobamba distar apenas cerca de 220 km de Guayaquil, numa viagem de três a quatro horas de ônibus, seria arriscado viajar muito tarde no dia 20, pois chegar a uma cidade nova à noite é sempre estressante. Da mesma maneira, também seria arriscado sair cedo no dia 21, já que qualquer atraso do ônibus comprometeria nossa viagem de avião. Então, só poderíamos mesmo aproveitar a manhã daquele dia em Riobamba e partir no início da tarde. Assim, quando eu vi o dia amanhecer nublado, me frustrei, pois perderíamos o Chimborazo.

A principal atração de Riobamba é o vulcão Chimborazo, o maior do Equador, com mais de seis mil metros de altura. Não era a vontade do Michael, entretanto, fazer qualquer tipo de trilha na região. Nós só queríamos pegar um táxi e nos aproximar dele, para dizer simplesmente que o vimos. Porém, não enxergaríamos nada com tantas nuvens escondendo o horizonte. Ficamos no quarto do hotel por alguns minutos, num impasse, pensando no que fazer… Esperaríamos um pouco para ver se o tempo melhorava? Iríamos a Guayaquil diretamente? Decidimos correr o risco e, mesmo com o tempo contra, ir ao Chimborazo. Já tínhamos até desistido de chegar cedo a Guayaquil, a fim de pegar alguma agência da Fedex aberta e despachar o “morto”, pesado de compras, para o Brasil; para isso, teríamos que deixar Riobamba ainda na parte da manhã e consideramos o Chimborazo mais importante… O “morto” teria que seguir conosco até Galápagos…

Então, quase dez horas da manhã, tomamos um táxi pelo chorado preço de U$ 20,00, ida e volta, para o Parque Nacional Chimborazo, a 35 km do terminal de ônibus. O céu abrira, para nossa alegria, mas algumas nuvens ainda se concentravam sobre o vulcão. A região é muito verdejante até uns 20 km da montanha e, depois disso, a paisagem ganha um seco ar de areia.

na estrada Parque Chimborazo

na estrada Parque Chimborazo

Novamente, nos beneficiamos da recente lei de entrada gratuita em todos os parques nacionais do Equador e economizamos os U$ 5,00 de ingresso que costumavam ser cobrados. Da entrada do parque, levamos ainda uns 20 minutos até o estacionamento e refúgio, a 4500 metros de altitude. Tivemos apenas um contratempo na portaria, devido a uma resolução implementada bem no dia anterior, 19 de julho de 2012, que determinava a qualquer visitante do parque a contratação de um guia habilitado para poder entrar. Semanas antes, a morte de um montanhista espanhol, que subira sem guia e se perdera no abismo, motivara a recente regra que, segundo o taxista, jamais daria certo… Para escalar a montanha, em uma trilha de nove horas que exige técnica e experiência, obviamente a norma procedia; porém, somente ir até o estacionamento e ter que gastar com guia contratado de Riobamba seria totalmente inviável. Concordamos. Nunca haveria um número suficiente de profissionais e fatalmente a quantidade de visitantes cairia consideravelmente. Bom, como nós já sabemos, a regra foi apenas uma resposta imediatista a uma tragédia que ninguém impediu, por incompetência, pois é lógico que há a necessidade de ajuda técnica especializada para escalar o Chimborazo. Ninguém tomou providências antecipadas e o espanhol morreu. Como costuma acontecer nos países sul-americanos, a resposta foi só para calar a boca de alguns, e não verdadeiramente melhorar as condições de uso do parque; não houve coerência e todos sofreram com uma resolução absurda. Nosso motorista argumentou que ainda não sabia sobre a nova norma, que nós só iríamos ao estacionamento, que ele já conhecia o caminho de cor e salteado, que seria impraticável retornar à cidade em busca de um guia e blá blá blá… Cansou tanto o porteiro que ele liberou a entrada. Provavelmente hoje a norma já seja outra…

Em 20 minutos, estávamos aos pés do Chimborazo. Há mais três vulcões menores na área e a paisagem é mesmo de tirar o fôlego. Lhamas correm livremente sobre o solo rochoso e o vulcão impressiona com seus 6310 metros de altura e 30 km2 de área de base. A montanha é vermelha e seu pico nevado é alvo de montanhistas do mundo inteiro. Em dezembro, a neve alcança o estacionamento e dificulta o passeio. Nós subimos apenas alguns metros – o que já foi bem cansativo –, tiramos fotos e logo voltamos para o táxi; fazia muito frio.

Parque Chimborazo

Parque Chimborazo

 

Chimborazo

Chimborazo

 

Parque Nacional Chimborazo

Parque Nacional Chimborazo

 

pico do Chimborazo

pico do Chimborazo

Calcula-se que a última erupção do Chimborazo foi há 10 mil anos, mas sua cor de sangue ainda denuncia o histórico destrutivo da montanha. Fiquei feliz de ver o vulcão, ainda que rapidamente.

retornando

retornando

Retornamos, almoçamos um PF nojento e esperamos a saída do ônibus para Guayaquil, no início da tarde. A passagem pela empresa Cooperativa de Transporte Patria foi U$ 4,75. Em Riobamba, na rodoviária, reparamos que as cholas tinham um “uniforme” diferente das indígenas do norte; era sempre uma sainha de lã rodada, na altura do joelho, de cores fortes, especialmente verdes ou vermelhas, e com muitas anáguas; na base da saia, bordados de flores coloridas; em cima, ponchos de lã coloridos, rosa Pink, azul marinho e outras cores vibrantes, também com muitos bordados; o último traço mais característico eram as meias de lã até o joelho, combinando com o restante do traje. Bonito…

O caminho entre Riobamba e Guayaquil é belíssimo! Logo que deixamos a cidade, vemos o Chimborazo crescer sobre o vale. Outros dois vulcões e mais uma infinidade de picos nevados da Cordilheira dos Andes emolduram a paisagem. Dá vontade de tirar uma foto panorâmica, mas o ônibus vai rápido, deixando o quadro só na memória. Saímos do terminal em Riobamba precisamente às duas da tarde. As montanhas vão ficando mais e mais verdes à medida que nos afastamos dos vulcões, que são secos e avermelhados. Umas três horas depois, lá pelas cinco da tarde, a paisagem se planifica e os Andes ficam para trás. A seguir, veem-se muitas plantações de banana, cana e arroz. Tudo fica mais verdejante perto de Guayaquil, aonde chegamos por volta das 18h30min.

O terminal de ônibus é formidável! Enorme (uns três andares), moderno, bem iluminado, cheio de lojas, mais parece um shopping. Esse é o Terminal Terrestre de Guayaquil e o aeroporto José Joaquin de Olmedo fica bem ao lado dele. Na avenida em frente ao aeroporto, há outro terminal, o Terminal de Transportes do Ecuador, infinitamente mais simples. Eles estão bem perto um do outro; o aeroporto fica de lado com o primeiro e na frente do segundo terminal. Porém, chegando à noite e cheios de malas, achamos mais prudente pegar um táxi para ir de um terminal ao outro, coisa de um quilômetro ou pouco mais. O motivo é que perto do primeiro, no qual chegamos, não há hotéis. Nas imediações do segundo, na outra avenida, sim. Guayaquil tem um trânsito bem forte, a cidade me pareceu atual e cosmopolita. Na entrada, nada de favelas, mas um belo braço de mar, com ponte e prédios modernos. O táxi demorou alguns minutos para cruzar a avenida e nos deixar no Terminal de Transportes do Ecuador. Eu fiquei ali com as malas enquanto Michael, mais leve, foi fazer uma pesquisa de preços nos albergues próximos. Em pouco tempo, ele retornou com a opção barata do Hotel Señorial, que ficava em uma travessa da mesma avenida. Xexelento e de péssimo atendimento, não valeria a sugestão, a não ser pelo fato de ser econômico, U$ 20,00 o quarto privativo. A água era fria e o banheiro imundo, mas a essa altura, já nem ligávamos pra mais nada e, de qualquer modo, sairíamos cedo no dia seguinte.

Eu estava meio resfriada, devido à considerável variação de clima no mesmo dia, e caí na cama rapidamente. Naquela manhã, por exemplo, tínhamos passado um frio polar no Chimborazo, quando minha boca e mãos até congelaram, e, mais tarde, um super calor em Guayaquil! O ônibus também estava muito quente, e o bom da viagem, além do belo caminho, foi somente um filme ótimo que recomendarei aqui: “My name is Khan, and I am not a terrorist”, exemplo do que a incrível Bollywood indiana é capaz de fazer.

Em 21 de julho, levantamos cedo e partimos diretamente ao aeroporto de Guayaquil, para nosso voo ao arquipélago de Galápagos.

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