Pucon

Pucón

A viagem de Santiago a Pucón, a 785 km de distância, levou umas 10 horas e chegamos à rodoviária da cidade por volta das oito da manhã (na verdade, chegamos à garagem de ônibus da empresa Pullman). Tinha sido servido café da manhã no ônibus da Pullman e ele foi até bonzinho; havia também travesseiro e coberta. Gostei…

No caminho para Pucón, passamos pela cidade de Villarrica e, pela primeira vez na nossa longa viagem, eu observava uma paisagem inédita.

A Cordilheira dos Andes, maior cadeia montanhosa do mundo em comprimento, que começa na Venezuela, em Mérida, e se estende até a Argentina, em mais de sete mil quilômetros, experimenta uma variedade de climas que é difícil de descrever; nós já havíamos passado por desertos e montanhas areentas, por vales encharcados e morros verdejantes; já havíamos visto de cânions a vulcões, de glaciais a rochedos impenetráveis, de picos nevados a montes áridos; já tínhamos sentido frio e calor, tocado em plantas estranhas, acariciado lhamas e admirado o revoar dos condores; já tínhamos aprendido sobre a história de vários povos que tinham e têm nos Andes a sua casa. Passamos pela Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e Chile, e nesse último país, entramos no calor do Atacama e, em questão de dias, sofríamos com um frio miserável daquele 25 de setembro, mais ao sul do país. No caminho para Pucón, os Andes tinham ganhado um quê de Alpes Suíços e as cidades, por óbvia diversidade cultural e econômica, estavam com a melhor cara de Gramado ou de Campos de Jordão. Depois de passar meses em tanta cidadezinha pobre e histórica, vilas andinas indígenas ou metrópoles cosmopolitas, era muito diferente, estar naquela região do Chile, de cidadezinhas amadeiradas, de grama verde bem cuidada e com o charme de chalés que têm picos nevados no quintal e lindos lagos no jardim da frente. Era a primeira vez que eu via araucárias em meses! As árvores, típicas dali, cobriam as montanhas e deleitavam meus olhos.

O amanhecer no ônibus foi notando a semelhança de Villarrica a cidades do interior dos EUA. Nenhum prédio; somente casinhas de madeira com bandeiras nas portas frontais, ruas largas e calçadas generosas.

cidade de Villarrica

cidade de Villarrica

Entre Villarrica e Pucón, a estrada de 25 km era estreita e arborizada e o nascer do sol dava um brilho envernizado aos chalés na beira do lindo lago Villarrica, do lado esquerdo. De pequenas cabanas charmosas a grandes hotéis elegantes, tudo me fazia querer comprar uma casinha no lugar e ficar ali pra sempre.

mapa da região de Pucón (reprodução de imagem da Internet)

mapa da região de Pucón (reprodução de imagem da Internet)

Embora a região, que faz inclusive parte da área das Araucanías do Chile, marcada exatamente pela presença abundante de pinheiros, lagos e montanhas, tenha a cara do inverno, os campings e prédios lindos de três a quatro andares da beira do lago lotam na temporada de verão, fazendo a diminuta Pucón, de apenas sete mil habitantes fixos, mais que quintuplicar durante a estação acalorada.

Finalmente, ao chegar ao pequeno terminal de ônibus de Pucón, fomos abordados por Mário, dono de uma pousadinha supereconômica em uma rua próxima: sua própria casa (algo muito comum na cidade). Pelo preço e cara de boa gente do dito Mário, aceitamos a carona para, ao menos ver como era. Eu achei ótimo, pois ventava fria e desgraçadamente e tudo que eu queria era já me instalar dentro de algum lugar quentinho. Ele nos levou de carro e, assim, nem pagamos táxi. A casa era bem modesta, mas limpa e quente. Tinha WIFI, TV a cabo na sala, um computador liberado aos hóspedes e duas cozinhas equipadas. Mário e a esposa, simpatias em pessoa, alugavam três quartos da própria casa, no andar de baixo, e moravam com a filhinha no segundo piso. Dois banheiros eram coletivos e às vezes não esquentavam, mas Mário estava sempre solícito e pronto a resolver os problemas. Certa vez, Verónica, a esposa, me serviu de graça uma jarra de mote com huesillos e foi o bastante pra eu me apaixonar. O local não tinha mesmo cara de hotel ou albergue; era simplesmente a morada de uma família de Pucón e os hóspedes, se cruzando na sala ou na porta do banheiro, acabavam fazendo a amizade de parentes em férias, na casa do mesmo primo.

Nosso quarto era humilde, mas a roupa de cama estava até cheirosa. Tínhamos um aquecedor à lenha e uma pequena cozinha exclusiva e eu adorei fazer ali, durante quatro noites, meu delicioso mingau de aveia. Vi gente chegar de carro e recusar a casa do Mário, pela rusticidade mesmo. Eu, pelo contrário, gostei exatamente do fato dela não ter a frieza de um hotel; fora o preço que era maravilhoso: 5000 pesos a diária. Recomendo!

casa do Mário

casa do Mário

 

casa do Mário

casa do Mário

 

casa do Mário

casa do Mário

 

Casa Mario Hospedagem

Casa Mario Hospedagem

Bom, depois de nos instalarmos, descansamos um pouco e logo saímos para conhecer Pucón. Havia também bicicletas na casa do Mário, cedidas aos hóspedes gratuitamente, mas todas já estavam sendo usadas, infelizmente (o aluguel de bicicletas é bem comum na cidade). Fomos a pé mesmo. Ainda ventava demais e, segundo Mário, era o polche, vento que vem da Argentina e dura, na época da primavera, até umas onze da manhã, todos os dias. Deveria esquentar um pouco à tarde e fazer frio à noite – e foi assim mesmo. Em Santiago, estava fazendo ainda frio de manhã e à noite. À tarde, muito calor!

Pucón é bem pequena e tem um perfil tranquilo, mas, apesar do tamanho e da calma do interior, oferece uma variedade enorme de opções turísticas, a começar pela própria cidade. Caminhar pelas ruas planas e largas, observando as construções de madeira, esmeradas por flores e por uma decoração sedutora, é querer clicar a máquina fotográfica a cada segundo. A rua principal, a Libertador O’Higgins, é onde estão bancos, as lojas, o maior mercado, restaurantes caros e turísticos e agências de viagem, que fazem todos os passeios pela região. Nas travessas, é fácil encontrar restaurantes muito mais em conta e comércios mais baratos também. De qualquer modo, Pucón é bem inflacionada.

Avenida O'Higgins

Avenida O’Higgins

Da rua principal, caminhamos até o lago azulado – o Villarrica; tiramos fotos de patos, cisnes, cachorros e nos encantamos com a paisagem. Perto do lago, a pitoresca Plaza de Armas só nos lembrava de que ainda estávamos na América do Sul pelas duas estátuas de madeira de índios mapuche que ornam um agradável pergolado.

Plaza de Armas Pucon

Plaza de Armas Pucon

O vulcão Villarrica, símbolo onipresente e onipotente da região, com seus quase três mil metros acima do nível do mar e ainda ativo, está ao longe do lado esquerdo. Ele ainda estava muito coberto de neve e rendeu fotos bonitas. Nos meses mais quentes, a neve diminui bastante e ele perde um pouco do charme, mas não da beleza. O vulcão pode ser visto de toda a cidade, mas é no lago que ele dá o toque de cereja no bolo e completa o quadro perfeito do cenário natural.

Lago Villarrica e vulcão

Lago Villarrica e vulcão

 

Lago Villarrica e vulcão

Lago Villarrica e vulcão

 

Lago Villarrica

Lago Villarrica

Pucón foi fundada sobre um assentamento de militares em 1883. Na década de 1940, despontou como ponto turístico, com a abertura do clássico Gran Hotel Pucón, que está nas imediações do lago. Porém, somente nos anos 2000, tomou a fama e popularidade atuais, quando agências de turismo se instalaram e começaram a explorar os atrativos naturais da região com mais profissionalismo, como a atraente subida ao vulcão Villarrica – principal atividade –, as águas termais, a neve e os esportes nos rios e corredeiras da área.

Como ainda estava frio e pelo próprio encanto dos chalés e edificações aconchegantes da cidade ou pela vegetação de toda a região, minha primeira impressão, como mencionei anteriormente, foi de que Pucón orientaria todos os seus esforços turísticos para a temporada de inverno, que tem uma média de 4 graus centígrados. De fato, o lugar também é famoso nessa época, ou em qualquer outra do ano, mas é no verão que o agito acontece, apesar da temperatura não passar de 25 graus. Toda a região, que engloba Pucón, Villarrica e o balneário de Lincan Ray, a 25 km de Pucón, tem cerca de 20 mil habitantes e chega a incríveis 300 mil nos meses de dezembro a fevereiro; tudo fica ainda mais caro, lotado e concorrido. No lago Villarrica, ainda na área urbana de Pucón, há sofisticadas casas de veraneio e prédios baixos de apartamentos só destinados a serem alugados nesse período. Aliás, no verão, é prudente reservar a estadia de antemão, pois tudo fica 100% ocupado, desde as hospedagens familiares aos hotéis caros.

até a lixeirinha é bonitinha

até a lixeirinha é bonitinha

 

Pucon

Pucon

De qualquer modo, há o que se fazer em Pucón nos 365 dias do ano e seja quando for, vale a pena visitar a cidade. Só é interessante saber o que se quer para se escolher a melhor época, de acordo com as atividades. Nos meses mais quentes, que se estendem de novembro a março, o lago Villarrica se enche de Jet-skis, lanchas e guarda-sóis e suas praias de areias negras veem um desfilar de corpos sarados. A cidade se agita e os clubes noturnos, bares e cassinos estão sempre apertados de jovens com hormônios a mil. Lembramos, porém, que assim como em Santiago ou em todo o Chile, não é permitido beber na rua ou em lugares públicos abertos, como praças.

Pucón no verão (reprodução de foto da Internet)

Pucón no verão (reprodução de foto da Internet)

 

praias de areias escuras em Pucon

praias de areias escuras em Pucon

 

praias de areias escuras em Pucon

praias de areias escuras em Pucon

Ainda no calor ou no período sem neve (primavera e outono também), os esportes radicais são igualmente bastante populares. Dentre as práticas que levam milhares de visitantes a Pucón, estão o rafting no rio Trancura, caiaque, canoagem, quedas livres dos Saltos Marimán, trekkings em dois parques nacionais, cavalgadas, windsurfe no lago, a diferente “pesca com mosca” das trutas trazidas pelos alemães no século XIX e, é claro, a inevitável escalada à cratera do vulcão Villarrica. A subida do vulcão não é feita no inverno, por causa da grande quantidade de neve.

Nos meses mais frios (julho a setembro), a pedida é esquiar e praticar snowboard nas estações aos pés do vulcão, curtir a cidade ou derreter nas muitas piscinas termais da área, algo que também pode ser feito em qualquer período, mas, convenhamos, deve ficar meio desconfortável durante o calor entrar numa piscina de 42°C… Relaxar a dois e tomar chocolate quente em um chalezinho também deve ser outra boa atividade de inverno.

Nós estávamos lá em finais de setembro, começo da primavera; pegamos muito frio logo cedo e também à noite, e temperaturas amenas durante as tardes, mas nunca calorão. Foi uma época boa; deu pra fazer um pouquinho de tudo e nada estava superlotado…

Voltando pela avenida, curioso é notar, em frente ao prédio da Oficina de Turismo, um semáforo de alerta a possíveis erupções vulcânicas. Dizem que diariamente, um alarme do Corpo de Bombeiros também toca, ao meio-dia pontualmente, chamando os moradores ao almoço. A população já está familiarizada a ele e a outros toques: um toque significa incêndio; dois, algum acidente envolvendo veículos e três toques devem colocar as cidades do entorno em estado de alerta em relação aos vulcões e prontas a usar as instruções de evacuação dadas pela prefeitura periodicamente. Não me perguntem como é o toque da hora do almoço, porque eu não o ouvi.

Pucon

Pucon

 

Pucon

Pucon

Retornamos à casa do Mário umas seis da tarde, depois de pesquisar preços em várias agências de turismo e fechar em uma o principal passeio para o dia seguinte. Pucón tem mais de 30 agências, a maioria na Avenida O’Higgins, e então é fácil obter informações e preços.

agência Politur

agência Politur

 

agência Turismo Volcan Villarrica

agência Turismo Volcan Villarrica

 

agência Trancura

agência Trancura

 

Turismo Andesmar e Turismo Florencia

Turismo Andesmar e Turismo Florencia

 

Pucon

Pucon

 

Pucon

Pucon

Nossa agência foi a Mountainlife Adventure (info@mountainlife-adventure.com /Rua Palguin, 360 – ao lado das garagens de ônibus) e o valor para subir o vulcão foi de 35000 pesos chilenos. Às sete da noite, voltamos a pé ao escritório da agência para provarmos as roupas e botas destinadas à aventura e aprendermos um pouco sobre o equipamento que levaríamos, como grampos e uma picareta para neve; deixamos tudo separado e assinamos um termo de responsabilidade, já que a atividade envolvia riscos, como qualquer ascenso de montanha. Ouvimos algumas explicações e instruções e nos despedimos para descansar. Com tudo organizado, relaxamos e esperamos ansiosos pela próxima manhã. Eu honestamente não estava lá muito confiante de que conseguiria, apesar do vendedor do tour afirmar que a subida do Villarrica é de nível fácil (eu veria posteriormente que não é bem assim…).

Na manhã seguinte, a escalada ao vulcão dava frio na minha barriga. Por tantos trekkings mal sucedidos ao longo de toda a viagem, eu tinha medo de ter gasto um dinheirão com esse e não conseguir chegar ao final, a cratera do gigante. Na reunião com a agência, quando estávamos pagando, tudo eram flores (como de costume): todos iríamos certamente alcançar o objetivo, o percurso era cansativo, mas atingível por qualquer pessoa ou – e transcrevo as exatas palavras do dono da Mountainlife Adventure – “não há problema se vocês se atrasarem um pouco, se chegarem duas horas depois, tudo bem porque vocês saem muito cedo e dá tempo; no decorrer do trajeto, sempre fica um grupo mais distante do outro. O segredo é ir devagar, passo a passo, com calma”. Bom, honestamente eu não tenho queixas contra a agência, eles nos atenderam bem e entregaram o que prometeram; a única ressalva – e eu diria que até entendo – é que eles, assim como todos os outros vendedores, mascaram um pouquinho a dificuldade da subida; e lógico, se falassem abertamente que subir um vulcão não é tão fácil assim e que se você não estiver minimamente condicionado, não conseguirá, muita gente não compraria o tour, eu inclusive; mas sempre fica aquela esperança de sucesso e mesmo sabendo das minhas limitações com o joelho e condicionamento ruim, fui… E realmente não consegui, mas não chego a culpar a agência que, obviamente, não devolve o dinheiro. A agência floreia um pouco, mas todos devemos saber que há sim dificuldades e caminhar por cinco horas em um percurso de subida na neve cansa mesmo! Eu não tiro minha culpa… No final das contas, a coisa é: você finge que é bem fácil e eu finjo que acredito…

Enfim, no dia 26 de setembro, levantamos às seis da manhã. Por volta das sete horas, a van nos pegou e fomos ao escritório da agência pegar o equipamento revisado no dia anterior. Logo em seguida, rumamos ao Parque Nacional de Villarrica, área com 63 mil hectares, onde se encontra o alvo da aventura. O vulcão Villarrica fica a 19 km do centro de Pucón e a 45 km da cidade de Villarrica (ele deveria, portanto, se chamar “Vulcão Pucón”, se a cidade de Villarrica não fosse bem mais velha). A montanha tem 2875 metros de altura e é o vulcão mais ativo e temido da América do Sul.

vulcão Villarrica - um cone perfeito

vulcão Villarrica – um cone perfeito

O Villarrica, que também é conhecido como Rucapillán ou “casa do demônio”, na Língua Mapuche, juntamente com os vulcões Quetrupillán e o Lanin, na fronteira com a Argentina, são os marcos do Parque Nacional Villarrica, e somente ele não é extinto. Embora a última grande erupção tenha sido em 1984, ainda é possível, por meio de sobrevoo, identificar o rastro que a lava seguiu pelos caminhos secos entre as araucárias da floresta. Nessa ocasião, a cidade de Pucón foi evacuada, mas felizmente não sofreu danos. Já em 1971, quando a montanha expeliu 30 milhões de metros cúbicos de lava, que abriram uma fissura de mais de quatro quilômetros de largura, pontes, pastagens e florestas sofreram prejuízos com a força da erupção. Hoje, a montanha não dorme, mas está quieta, somente soltando a fumaça característica. Isso não impede que o turismo e a subida até a cratera sejam bem populares.

A van estacionou e começamos o tour às 8h30min, mais ou menos. Ainda na base, o guia nos oferece um teleférico que economiza dois quilômetros dos seis e meio totais do dia. Eu fui a única que aceitei e desembolsei 7000 pesos para tanto. Pensei que se já me poupasse no início, teria mais chances depois. O primeiro teleférico sobe de trás da primeira cafeteria (na base, onde também se alugam equipamentos e há a bilheteria) até a estação de esqui, onde estão um restaurante e as principais pistas de esqui e snowboard para vários níveis de esportistas, de iniciantes a profissionais. A paisagem estava linda e eu fui admirando a neve branquinha rompendo o azul forte do céu; os galhos nus das árvores ainda eram herança do inverno e pareciam velas sobre um cremoso glacê de bolo.

vulcão Villarrica

vulcão Villarrica

 

vulcão Villarrica

vulcão Villarrica

Eu tinha lotado a cadeirinha do teleférico só com meu equipamento, que incluía uma mochila com lanche, água, luvas e grampos para neve, uma picareta de alpinismo e o “tapa-rabo”, peça de plástico redonda destinada ao divertido “skibunda” da descida. Ainda tínhamos ganhado o traje de calça e casaco e um par de botas para neve que faziam minhas pernas pesarem o dobro, pelo menos… Todos esses quilos extras me preocupavam e foram mesmo fundamentais para minha desistência posterior. Bem, mas naquele momento, eu ainda tinha vontade de ver a cratera e pegar o teleférico foi uma estratégia nesse sentido.

primeiro teleférico

primeiro teleférico

O caminho poupado pela subida na cadeirinha foi de uns 40 minutos a pé, mais ou menos, ou cerca de dois quilômetros quase no plano. No começo da ascensão, eu pude ver o restante do grupo reunido, se preparando para iniciar a andança na pernada. Na primavera, o percurso que eu poupei ainda está coberto de gelo, o que facilita escorregões e exige mais controle do corpo e, no verão, o caminho está coberto de pedras. Assim, se a ideia é se preservar um pouco para a subida do vulcão em si, pegar o primeiro teleférico é mesmo uma boa ideia.

grupo iniciando a caminhada

grupo iniciando a caminhada

 

grupo iniciando a caminhada

grupo iniciando a caminhada

 

grupo iniciando a caminhada

grupo iniciando a caminhada

Cheguei, então, solitária à segunda cafeteria; a montanha estava muito vazia e, apesar das condições ótimas do tempo, poucas agências estavam subindo o Villarrica naquela manhã. Enquanto eu tirava algumas fotos, uma das lentes dos meus óculos escuros, que já tinha caído outras vezes, atingiu o chão novamente e terminou de quebrar. Muito solícito, um funcionário do restaurante disse que ia dar um jeito, pois seria impossível subir sem óculos, já que a visão ofuscante do branco da neve poderia machucar gravemente os meus olhos; 15 minutos depois, ele apareceu com um par de óculos infantis, esquecido na estação e há meses rodando nos “achados e perdidos”; eu agradeci e coloquei a peça com lacinho vermelho de plástico sem reclamar. Óculos e protetor solar são imprescindíveis, de fato.

chegando com o teleférico à 2a cafeteria

chegando com o teleférico à 2a cafeteria

 

segundo restaurante - cafeteria

segundo restaurante – cafeteria

No mesmo momento, o grupo já chegava e fiquei com uma sensação ruim, pois vi que eles eram bem rápidos. Eles tinham caminhado dois quilômetros, em terreno pouco íngreme, mas difícil, praticamente no tempo que eu viera de teleférico; deram só uns 15 minutos de diferença… Michael, meu amigo, não tinha começado nosso mochilão na melhor forma física, mas em quase cinco meses de trekkings, enquanto eu engordara 10 kg a base de doce de leite de toda a América do Sul, ele parecia haver aproveitado mais eficientemente os exercícios e, apesar de fumar, estava com muito mais fôlego que eu naquele dia em particular. Subiam o vulcão pessoas mais gordinhas e gente mais velha também… Então, a subida não é realmente nenhuma missão impossível, destinada somente a atletas e montanhistas profissionais, mas também não é um leve passeio no bosque. Considerada de nível fácil e para iniciantes, a ascensão do Villarrica também tem seus caprichos e quem não estiver em condições físicas minimamente boas, com certa resistência, nem se arrisque. É gastar à toa, como eu fiz.

Bom, me juntei a eles e recomeçamos a subir. Alguns metros adiante, já seria outra parada, mas logo nos primeiros passos saindo do restaurante, eu já dava sinais de extremo cansaço, mesmo tendo vindo até ali de teleférico. A mochila cheia de equipamentos e comida pesava demais, o casacão limitava os movimentos e, a cada passo, parecia que eu levava uns quatro quilos nas botas e uma tonelada nos ombros. Eu me sentia podre! A neve afundava até o joelho e dar mais um impulso adiante era fazer meus pulmões chegarem ao limite do trabalho. Eu era a última do grupo e a estratégia de um dos guias (que seguia praticamente só comigo) para que eu fosse mais rápido era pisar nas pegadas das pessoas à frente para que, dessa maneira, eu não tivesse que fazer mais força para romper os passos na neve compactada. De qualquer modo, mesmo aproveitando os buracos já feitos pelos pés dos adiantados, eu me cansava da atividade repetitiva de pular de passo em passo, com o peso que estava carregando. O ar cada vez mais rarefeito não ajudava na empreitada e – aí sim eu devo discordar da agência – há pressão por tempo! Como disse anteriormente, não consigo culpar o vendedor do trekking por olhar para a minha cara e dizer que eu iria conseguir; aparentemente, eu sou uma pessoa saudável, não sou gorda e possuo todos os requisitos necessários para que alguém comum tenha sucesso na tarefa. Ele não tinha como saber que eu estava muito mal fisicamente condicionada. Então, até aí tudo bem. O único porém é que há certa complacência da agência no sentido de alargar o tempo de percurso diante do questionamento sobre a que horas, no máximo, deve-se atingir o topo. De fato, há sempre dois guias em cada grupo e eles naturalmente se afastam um do outro com duas turmas divididas entre os mais rápidos e os mais lentos; entretanto, a diferença entre os grupos não pode ser de até duas horas, como o rapaz afirmara na agência… Eu não poderia “seguir no meu ritmo”, como me foi dito. Há sim um prazo final para se chegar à cratera que, mesmo com condições de tempo favoráveis, não ultrapassa as duas ou duas e meia da tarde, no máximo. Isso dá de cinco a seis horas de subida e, se parece muito, não é… Para os super cansados…

Ofegantemente, então, eu continuava, pé ante pé, picareta na mão para ajudar no equilíbrio. Demorava muito e simplesmente não tinha mais forças para acelerar; o guia olhava para trás e gritava “Vamos, Brasil!”. Eu desmoronei! Estava ainda no começo e já não aguentava mais; como continuaria assim por mais cinco horas? E ainda com uma pessoa me apressando? “Eu não vou conseguir” – confessei em voz alta; nesse exato momento, ouvi um “Eu também”… Era a Morgana, uma moça que estava uns metros à frente e virara para trás só pra dizer: “Eu só tava esperando alguém desistir pra não ser a primeira”. Rimos muito, nos solidarizamos na deserção e começamos a trocar confetes que duram até hoje.

Vencemos a muito custo uns 200 ou 300 metros até a primeira parada depois do restaurante grande e quando chegamos nela, todos do grupo já estavam ali há algum tempo, já se preparando para continuar. Nós duas confirmamos a desistência e um dos guias avançou subindo com os fortes e obstinados enquanto o outro guia desceu conosco. Nós estávamos engordando as estatísticas de que a brasileirada pede arrego com muito mais frequência; segundo o rapaz que nos acompanhou para baixo, os brasileiros são os primeiros a desistir, por não estarem acostumados a exercícios em altas altitudes, enquanto os europeus detinham o título de grupo mais resistente à subida, com quase 100% de sucesso.

Ali parada, por um momento ainda, tive dúvidas; não queria perder o dinheiro investido. Eu olhava para cima e a montanha não me parecia íngreme o que, de fato, não era; mas a exigência física era considerável, especialmente pela neve que ainda cobria todo o vulcão.

vulcão Villarrica

vulcão Villarrica

 

vulcão Villarrica

vulcão Villarrica

Contudo, surpreendentemente, o guia nos dissera que, durante a primavera e o outono, a escalada se torna mais fácil e melhor exatamente pela presença da camada fofa de neve que, apesar de atrasar mais o passo, faz o caminho mais seguro e menos propenso a escorregadas. A faixa de neve não é exagerada como no inverno, fator que impede o ascenso, mas é suficiente para proteger o aventureiro das quedas.

Durante os meses mais quentes, segundo ele, a subida é mais rápida, pois é feita sobre terra perto da base, mas como ainda é muito frio do meio para o topo do vulcão, a temperatura gelada da noite congela a neve eterna da montanha, criando em vários lugares uma camada fina de gelo, que exige muito mais atenção e técnica (além de grampos nas botas). Precisamente por isso, ele continuou, tinham havido em início de março daquele ano duas mortes no vulcão; era verão, o tempo fechou e um grupo que já descia depois de ver a cratera se dispersou; sem orientação do guia, o engenheiro brasileiro Felipe Santos, de 28 anos, errou por caminhos desconhecidos e escorregou no gelo formado durante a noite, caindo mais de 500 metros em uma fenda da montanha que escondeu seu corpo por dois dias. O mexicano Rodolfo Sarovich, de 21 anos, que também fazia parte do grupo, morreria de forma similar, tendo seu corpo resgatado naquele mesmo dia fatídico. Outro chileno teve fraturas em várias partes do corpo e um suíço escapou com ferimentos leves também depois de escorregarem sozinhos no gelo da montanha. Essa foi a história do guia; já nosso anfitrião Mário relatou que os aventureiros foram todos vítimas do mesmo acidente, quando uma pessoa do grupo de 14 trekkers tropeçou, rolou para baixo e, como uma bola de boliche, carregou os quatro desafortunados que escorregaram para uma fenda, provocando, assim, a morte do brasileiro e do mexicano e ferindo os outros dois. As informações da Internet divergem a esse respeito; umas até dizem que os acidentados não faziam parte do mesmo grupo, mas que coincidentemente tiveram seu fim na montanha devido ao mau tempo, em incidentes isolados; outras trazem a informação de que o brasileiro morreu de hipotermia por ter se perdido na névoa e ficado muito tempo a mercê do clima inóspito. De qualquer modo, as mortes ocorreram, assustando os visitantes, guias e moradores da região, que não viam acidentes fatais no Villarrica desde 1995 e que ainda tinham sido causados por ataques cardíacos.

Dessa forma, independentemente do período do ano, a presença de um guia é necessária, fundamental e obrigatória para a subida do Villarrica. Há que se também observar as condições climáticas e não forçar ou tentar nada que a natureza não queira. Se o tempo estiver horrível e a agência falar que tudo bem, a desconfiança deve ser levada em conta. Além disso, conhecer os próprios limites é importante; nós carregamos uma picareta de montanhismo, por exemplo, que não serve para nada se nós não estivermos familiarizados com ela, isto é, não podemos ter uma sensação de falsa segurança por termos um equipamento de estabilidade que ajuda nas quedas, se não soubermos lidar com ele e, nesse caso, a nossa atenção tem que ser ainda mais redobrada; não dá para se arriscar ou querer ir mais rápido do que o próprio limite por confiar no equipamento. Os guias, por exemplo, nos informaram que se houvesse qualquer incidente, como escorregar no gelo, nós deveríamos fincar a ferramenta na neve, impedindo quedas fatais; a informação é válida, mas na hora do desespero e do flash de segundo que leva um escorregão, quem não tem a habilidade ou a destreza de um montanhista ou ainda a familiaridade de lidar com aquele objeto estranho, como eu, deve mais se atrapalhar com a picareta do que usá-la para o bem… Assim eu imagino… Então, o risco sempre deve ser calculado, mesmo que tenhamos equipamentos a nosso favor.

pose de quem entende...

pose de quem entende…

Bem, de qualquer modo, a maioria das agências de Pucón é séria, tem guias com larga experiência em montanhismo e costuma ser atenta no que diz respeito à segurança, sem colecionar acidentes.

Enfim, estávamos ali, o guia, Morgana e eu conversando quando iniciamos nosso caminho de volta para a base do vulcão (voltamos ao segundo restaurante e tomamos o teleférico de volta à entrada). Me senti frustrada, mas a divertidíssima Morgana ajudou a passar o restante do dia sem me fazer lembrar disso. Ali onde nós estávamos, que era uns 300 metros acima do restaurante, já era possível contemplar uma bela paisagem das montanhas e lagos do Parque Villarrica; comemos nossos lanches e ficamos observando o grupo do Michael continuar a subida, ficando cada vez mais pequenininho. Eu observava que as filas iam caminhando em zigue-zague e, conforme explicações do nosso guia, isso também era um método de evitar cansaço e acidentes.

Parque Nacional Villarrica

Parque Nacional Villarrica

 

Parque Nacional Villarrica

Parque Nacional Villarrica

 

Parque Nacional Villarrica

Parque Nacional Villarrica

Naquele ponto exato, era possível ver ao longe, imagino que cerca de um quilômetro adiante, uma casinha de madeira que era a base de outro teleférico que partia do restaurante onde as pistas de esqui estavam e terminava ali, num local que parecia muito mais perto do cume; infelizmente, ele estava desativado naquele momento e eu só pude subir de cadeirinha do pé do vulcão até a segunda cafeteria. Seria bom se, talvez, tivesse poupado forças até aquele último teleférico, mas duvido que mesmo assim teria podido alcançar a cratera. Eu não conseguia subir nem mais um lance de escadas.

segundo teleférico

segundo teleférico

 

segundo teleférico

segundo teleférico

Mais tarde, com o relato do Michael, percebi que a coisa toda se dificultava; perto das geleiras, a quase 2400 metros de altitude, o uso dos grampos nas botas e da picareta se faz imprescindível e, no último trecho antes da cratera, há um momento empinado que pede apoio das mãos em pedras e gelo – a parte perto do cume é a mais problemática e que exige mais cautela contra escorregões. A exaustão também o consumira, mas ele teve como prêmio a vista: a Cordilheira dos Andes de cima do Villarrica, na boca de um vulcão ativo! Segundo ele, o cheiro de enxofre é forte, dificultando mais ainda a respiração, e a fumaça saindo da cratera de mais de 200 metros de diâmetro dá medo! Eles não se aproximaram tanto da boca do gigante, mas dependendo de onde se chega e das condições do clima, dá até para olhar dentro do buracão.

subindo o Villarrica

subindo o Villarrica

 

subindo o Villarrica

subindo o Villarrica

 

subindo o Villarrica

subindo o Villarrica

 

subindo o Villarrica

subindo o Villarrica

 

a cratera

a cratera

 

a cratera

a cratera

 

cratera do Villarrica (reprodução de foto da Internet)

cratera do Villarrica (reprodução de foto da Internet)

 

vulcão (reprodução de foto da Internet)

vulcão (reprodução de foto da Internet)

Para descer, o grupo colocou o “tapa-rabo” e partiu escorregando em velocidade, algo que apavorou Michael, conforme suas próprias palavras. A descida, com os trechos íngremes e rápidos do skibunda, leva em torno de duas horas. Morgana e eu também fizemos o skibunda em uma parte do nosso percurso de volta, mas não teve tanta graça por ser um pedaço mais plano.

voltando

voltando

 

voltando

voltando

 

voltando

voltando

 

voltando

voltando

 

adeus ao Villarrica

adeus ao Villarrica

Já de volta à cidade, minha recém-amiga e eu almoçamos e fofocamos a tarde inteira; nos identificamos com histórias de amor fracassadas e rimos muito com os nomes de dois cachorros, mascotes do albergue no qual ela estava: Tomás e Mateus, que faziam a analogia perfeita a Thomas – meu “falecido” que me deu um pé na bunda – e Matthew, um inglês babaca que estava em Pucón com ela e subira o vulcão no mesmo grupo. Como eu, nossos dois casos também tinham nos conhecido pela Internet, eram ingleses e pareciam padecer da mesma doença de esquisitice e falta de comprometimento, apesar de pela tela do computador a coisa ser completamente diferente… Matthew ficou por Pucón mesmo, com o carro alugado, enquanto Morgana, orgulhosa, voltou sozinha de ônibus para Santiago depois de uma discussão… Bom pra ela que hoje conseguiu realizar o grande sonho de morar na Irlanda e conhecer alguém que, de fato, valha a pena…

quintal do albergue da Morgana

quintal do albergue da Morgana

 

quintal do albergue da Morgana

quintal do albergue da Morgana

 

Tomás e Mateus

Tomás e Mateus

Enfim, voltamos à agência para devolver o equipamento e esperamos um pouco por eles que chegaram por volta das 17h30min. Retornamos ao albergue e eu fiquei um pouco no computador. Surpresa foi o jantar que Mário e Verónica ofereceram ao grupo, como recompensa ao trabalho executado; para Mário, subir o Villarrica merecia um bom prato de comida na volta e, sem cobrar nada por isso, ele e a mulher serviram arroz, frango e salada fartamente. Muita gentileza!

Em 27 de setembro, levantamos por volta das onze horas da manhã. Morgana não queria passar o dia com o recém-desafeto e súdito da rainha e já tinha telefonado para a casa do Mário querendo se juntar a nós para os passeios do dia. Quando ela chegou, ficamos de papo e ela esperou um pouco enquanto eu almoçava qualquer coisa. Nessa manhã, nós tínhamos fechado com o Mario mesmo um tour pela “Zona” (estranho…) – passeio que abraçava pontos turísticos naturais da região. O preço foi de 13000 pesos, para transporte, guia e ingressos aos Ojos del Caburgua e termas Los Pozones, que são ambos propriedades privadas. O valor chegava a estar mais barato do que se comprado em agências e por ter pagado ao dono da casa, que foi nosso intermediário, não peguei o nome da agência que nos levou, infelizmente, pois deu tudo muito certo. Gostaria de recomendá-la e, de qualquer modo, indico a Hospedagem do Mário, sem sombra de dúvidas. Os passeios adquiridos com o Mário poderiam ser também feitos por conta, com ônibus de linha, mas pelo preço, nós preferimos a comodidade do carro privado, mais rápido e confortável.

Por volta das 14h30min, a van do tour veio nos pegar. Diferentemente do céu azul e limpo do dia anterior, a tarde estava nublada e cinza, mas perfeita para as atividades que teríamos adiante. Pucón está numa área de transição entre a região das Araucanías e os bosques chuvosos de Valdívia e, de fato, é comum que uma neblina orvalhada cubra os campos em épocas de outono, primavera e inverno.

As próximas horas estavam reservadas, como eu disse, para um passeio pela “Zona” e a ida às Termas Los Pozones. A Zona abrange alguns pontos e começamos passando por dois rios, seguindo logo depois para os Ojos del Caburgua, um conjunto de três quedas d’água pequenas que emergem da terra por um rio subterrâneo. As cachoeirinhas são serpenteadas por passarelas de madeira e é fácil dar uma olhadinha em todas.

Tour por La Zona

Tour por La Zona

 

Tour por La Zona

Tour por La Zona

 

Ojos del Caburgua

Ojos del Caburgua

 

Ojos del Caburgua

Ojos del Caburgua

 

Ojos del Caburgua

Ojos del Caburgua

O lago formado pelos dois primeiros saltos é lindo e lotado de moedas, apesar da placa proibindo a prática; elas são jogadas ali acompanhadas de um desejo e o meu era somente meter a mão na água e sair com um monte de dinheiro; juro que se não tivesse gente por perto, era isso que eu teria feito.

moedas no leito da lagoa

moedas no leito da lagoa

A pequena Laguna Azul, adiante, têm uma cor tão forte de azul turquesa que hipnotiza o olhar; todos os laguinhos ficam azuis, verdes ou translúcidos dependendo da incidência da luz. São lindos!

Laguna Azul

Laguna Azul

 

Laguna Azul nos Ojos del Caburgua

Laguna Azul nos Ojos del Caburgua

No verão, dizem que os Ojos se lotam tanto de turistas inconvenientes que nadam nas lagoas, apesar das restrições, que o local perde um pouco da magia… De qualquer modo, a beleza se mantém intacta.

Depois dos Ojos del Caburgua, nós fomos ao Lago Caburgua, que se estende por 53 km². O lago toma ares de praia durante o verão, com direito a lotação de guarda-sóis, gente bronzeada, farofa e tudo mais nas areias da Playa Blanca. Naquele dia cinzento, tudo estava calmo, vazio e a cor da água refletia a opacidade do céu, exibindo um tom escuro e sem graça, bem diferente do azul esverdeado das fotos da estação mais quente. Na frente do Caburgua, lindas casas de veraneio embelezam a região.

praia no Lago Caburgua no verão (reprodução de foto da Internet)

praia no Lago Caburgua no verão (reprodução de foto da Internet)

 

Lago Caburgua

Lago Caburgua

 

Lago Caburgua

Lago Caburgua

 

Lago Caburgua

Lago Caburgua

Passamos pouco tempo no lago, pois estava frio, e rumamos para um lugar muito especial, Los Tres Saltos de Huepil. Como o próprio nome diz, são três belas cachoeiras vencidas com um trekking fácil e agradável no meio da mata.

primeiro salto

primeiro salto

 

primeiro salto

primeiro salto

 

segundo salto

segundo salto

 

terceiro salto

terceiro salto

 

entrada dos Saltos

entrada dos Saltos

 

flores

flores

Para terminar o dia, o Tour por La Zona incluía a visita às mais famosas termas da região, Los Pozones. As Termas Los Pozones, a 35 km do centro de Pucón, são formadas por sete piscinas naturais de diferentes tamanhos, com rochas ao redor; as temperaturas variam de 30 a 42 graus Celsius, dependendo da piscina. Ao lado dos poços quentes, corre o rio Liucura e todo o lugar é abraçado pela floresta. A infraestrutura conta com vestuários e banheiros bem simples, mas o chato mesmo é descer e depois subir 100 metros de degraus.

Termas Los Pozones

Termas Los Pozones

 

Termas Los Pozones

Termas Los Pozones

 

rio Liucura

rio Liucura

Como o dia estava frio e nublado, relaxar nas piscinas quentes era a melhor coisa a se fazer. Ruim mesmo era sair delas e ir ao vestiário ou trocar de piscina. O ideal é visitar as termas no frio. No verão, todas ficam muito lotadas e o tempo fica limitado aos diversos grupos que visitam as termas, que precisam fazer rodízios nas piscinas. Além do mais, é quente demais para banhos a 40°. Como Los Pozones também são as únicas termas a abrirem durante a noite, costuma haver muita agitação até com baladas durante o verão; por isso, se o desejo é relaxar, é bom evitar a época.

Nós chegamos, nos trocamos e pulamos de uma piscina a outra até escolher a que melhor nos agradava na temperatura. Ficamos lá relaxando por um bom tempo e conversando com uma animada professora aposentada argentina. De vez em quando, como inclusive recomenda o parque, saíamos da água para evitar que a pressão baixasse (fica realmente muito quente). Aliás, dentre as instruções na entrada do complexo, a mais engraçada era a proibição de fazer sexo dentro das piscinas. Diante da placa, Morgana e eu rimos e uma chilena comentou que a regra cabia bem para nós, brasileiras. Encaramos como elogio e sorrimos, embora imagino que a intenção não fosse exatamente enaltecer nossa fama de boas de cama. Coincidentemente, ao passar por uma piscina rumo ao vestiário, um casalzinho jovem mantinha as mãos dentro d’água, provavelmente em algum lugar que a direção do lugar reprovaria, dada a cara de “pré-orgasmo” da mocinha chilena de família. Morgana e eu até comentamos depois, enquanto Michael nem notou a movimentação suspeita. Da nossa parte, só relaxamos e falamos mal de homens, aproveitando o ensejo.

Termas Los Pozones

Termas Los Pozones

 

Termas Los Pozones

Termas Los Pozones

 

Termas Los Pozones

Termas Los Pozones

 

Los Pozones (reprodução de foto da Internet)

Los Pozones (reprodução de foto da Internet)

Abaixo, um mapinha das nossas atrações do dia: Ojos de Caburgua, Lago Caburgua, Tres Saltos de Huepil e Termas Los Pozones.

mapa turístico de Pucón e arredores (reprodução de imagem da Internet)

mapa turístico de Pucón e arredores (reprodução de imagem da Internet)

Dia seguinte, acordamos tarde novamente, pois nosso planejamento era uma cavalgada e o passeio só sairia às 14h00min de novo. Pagamos 14000 pesos do tour ao Mário, que mais uma vez, intermediou a compra.

Almoçamos no albergue mesmo um macarrão com molho branco que eu fiz (pra variar) e saímos no horário combinado. Fomos primeiro a uma comunidade rural Mapuche a alguns quilômetros de Pucón. Nada de exótico ou diferente. Gente normal em casas de madeira habituais, no campo. Basicamente um passeio ao campo; nada de ocas ou roupas típicas.

cavalgada

cavalgada

Andamos a cavalo pelos arredores e fomos ao mirador na montanha, a 500 m de subida a cavalo. O caminho era estreitinho e de barro e, em vários momentos, deu medo para descer com os bichos escorregando na lama. Os animais, porém, eram mansos e obedeciam a todos os comandos. Também cruzamos um percurso de montanha de um lado e despenhadeiro de outro rumo aos mirante e foi mais um ranger de dentes.

cavalgada

cavalgada

 

araucárias

araucárias

 

araucárias

araucárias

No mirante, toda a vista da pequena Pucón cabia no olhar. O passeio durou quatro horas e durante todo o tempo, dois cães do guia nos seguiram, coisa comum para eles. Nossas bundas estavam doloridas, mas eu fiquei satisfeita com o tour.

cavalgada

cavalgada

 

cavalgada

cavalgada

 

cavalgada

cavalgada

 

cavalgada

cavalgada

 

cavalgada

cavalgada

 

cavalgada

cavalgada

Ao voltar para a propriedade do rapaz que também era nosso guia, entramos numa casa de madeira, muito simples e comemos uns salgadinhos típicos mapuche e um suco muito estranho, tudo feito por uma mulher gorda, trajada tipicamente. Os salgadinhos estavam deliciosos, mas o suco fermentado parecia até ter gás e nos brindava com gosto de queijo podre; horroroso. Voltamos para cidade e não fiz mais nada. Foi um dia calmo e interessante.

cavalgada

cavalgada

O dia 29 seria nosso último dia em Pucón. Michael planejara a ida a um famoso parque nacional chamado Huerquehue. Entretanto, nossos planos foram frustrados pelo tempo chuvoso e macambúzio do lado de fora da nossa janela. Eu escutei a chuva forte e pensei estar sonhando, e confesso até ter gostado do clima forçosamente restritivo. Tomei banho, fique na cama vendo filmes na Internet e não me arrependi nada do dia inteirinho desperdiçado. Adorei ouvir, dias depois, em outra oportunidade, o relato infeliz de dois colegas de passeio que se arriscaram ao Huerquehue, mesmo na chuva; a narrativa só incluía lama e chateação. Cheio de lagoas, montanhas e cachoeiras, claro que o parque vale a visita, mas eu estava cansada e já tinha visto tanta natureza nos últimos dias que já dispensava diversão. Só sai da cama para tomar mote com huesillos oferecido pela Verónica e descobrir que o nome do Mário era “Luis”; honestamente, se ela explicou o motivo do apelido/nome, eu me esqueci…

O Parque Nacional Huerquehue foi o primeiro parque nacional do Chile. Ele fica pouco depois do Lago Caburgua, a cerca de 40 km de Pucón, e cobre uma extensão de 12500 hectares; tem 19 lagos e é cercado de vegetação nativa. O trekking mais comum é feito durante um dia inteiro, em 16 km ida e volta, mais ou menos, e passa por subidas aclivadas e cansativas. A recompensa são paisagens de protetor de tela.

Huerquehue (reprodução de foto da Internet)

Huerquehue (reprodução de foto da Internet)

Outro parque bem frequentado da região é o Santuário El Cañi, uma reserva de 500 hectares, a 30 km de Pucón, destinada à conservação das araucárias. A área é boa para campings e um contato íntimo com a natureza.

Santuário El Cañi (reprodução de foto da Internet)

Santuário El Cañi (reprodução de foto da Internet)

Em 30 de setembro, pela manhã, Mário/Luis fez a última cortesia de nos levar à garagem de ônibus que era perto, mas seria um longo trajeto carregando as mochilas pesadas. Às 9h00min, pegamos um ônibus da empresa JAC para Valdívia. Cada passagem custou 3500 pesos.

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