Bogotá

Bogotá

A viagem durou nove horas e o ônibus da Rápido Ochoa era igualmente desconfortável. Chegamos a Bogotá, dia 26 de junho, às 6h40min da manhã. Na própria rodoviária, há um guichê onde informamos nosso destino e já somos avisados do preço da corrida, que é fixado por zonas da cidade, e da placa do táxi que nos espera do lado de fora. O endereço do albergue que escolhêramos pela Internet indicava que ele ficava no Centro Histórico, no bairro La Candelaria. Ainda que a área fosse, via de regra, turística, o motorista do táxi não fazia ideia para onde estava indo. Ele rodou e rodou e eu já começava a me irritar. O sistema de nomenclatura das ruas de Bogotá, assim como de diversas outras cidades colombianas, é numérico. Assim, eu não entendia qual era o problema em se chegar à Rua Nove, depois da Oito e antes da Dez. Quando finalmente a alcançamos, ele ainda se enrolou todo para encontrar a travessa apontada. Estava demorando tanto que pedimos pra descer. Caminhamos dois quarteirões até o albergue, sem problemas.

Como eu ainda tinha alguns contatos pendentes do Couchsurfing, para Bogotá, nós decidimos pagar somente uma noite no albergue e esperar para ver se iríamos para a casa de alguém. Não dava nem vontade, porém, de deixar o Musicology, pois ele era ótimo (Musicology Hostel. Calle 9 # 3-15, La Candelaria/ Centro Histórico – Bogotá/ (57-1) 2869093/ contact@musicologyhostel.com/ www.musicologyhostel.com). Além do café da manhã, o albergue também dá o jantar e oferece pequenas conveniências que facilitam muito a vida do mochileiro, como lockers espaçosos, carregadores para todo tipo de celular, WIFI, água quente e tomadas em número suficiente, que estão dentro dos armários, de modo que podíamos sair e deixar o laptop carregando, por exemplo. O ambiente era calmo e limpo. Eu gostei bastante. O preço da diária, na época de 22 mil pesos, compensava, pelo café e jantar oferecidos. A localização era outra vantagem do Musicology, que está bem no Centro Histórico, o bairro La Candelaria, onde nasceu a cidade de Bogotá, em 1538.

Eram umas oito da manhã. Nós já tomamos café no albergue e saímos. Com suas ruas estreitas de paralelepípedos, fachadas coloridas em estilo barroco colonial, casarios já dos tempos republicanos, alpendres, varandas e muitas torres de igreja, o Centro Histórico de Bogotá é um encanto, uma viagem ao passado de uma cidade que só se expande. É um patrimônio bem preservado do qual os bogotenhos devem se orgulhar. Há muitos museus, prédios públicos, restaurantes, monumentos históricos, universidades, bibliotecas e teatros na região; as ruelas aladeiradas caracterizam a área, mas não dificultam a caminhada e dá até pra levar um susto quando descemos a delgada Calle 10 e, sem aviso, nos deparamos com a magnitude da Plaza de Armas ou Plaza de Bolívar, que se abre grandiosamente à nossa frente. De fato, a gente não espera aquela “clareira” depois de uma rua estreita e “Uau!” é a primeira interjeição que vem à boca. Ela é mesmo enorme e, por tradição, guarda os ramos do poder político do país, sediando vários edifícios governamentais, como o Capitólio Nacional, onde fica o Parlamento, o Palácio Nacional de Justiça e a Prefeitura de Bogotá, chamada de Palacio de Liévano. A Catedral Primaz da Colômbia também cerca a praça, assim como o Colegio Mayor San Bartolome, primeira universidade de Bogotá, datada de 1604. Ambas as edificações ajudam e emoldurar lindamente o coração político e administrativo do país. A estátua de Simón Bolívar, bem no centro, não está a cavalo, mas em pé, empunhando uma espada e lançando a todos um olhar benevolente. O último desenho da Praça de Armas data de 1960 e permanece atual.

mapa de La Candelaria

mapa de La Candelaria

Centro Histórico de Bogotá

Centro Histórico de Bogotá

ruas do centro histórico

ruas do centro histórico

Plaza de Bolívar

Plaza de Bolívar

34 - Simon Bolívar

Praça de Armas

Praça de Armas

Nas proximidades, está também a Sede do Governo da República da Colômbia e a Residência do Presidente, a Casa de Nariño, que é fortemente guardada por policiais de todos os lados. A presença de repórteres é, da mesma maneira, permanente.

Durante a manhã, nós entramos em um dos muitos museus da área, o Museo Colonial, de 1942. Mobília, porcelana, esculturas, objetos litúrgicos e quadros predominantemente de tempos coloniais barrocos podem ser admirados por 2000 pesos, valor do ingresso. Tentamos ainda ir ao Museo Botero e ao Museo Casa de la Moneda, um ao lado do outro, na Rua 11, mas era terça-feira e, por isso, eles estavam fechados. Devemos atentar ao horário de funcionamento das atrações, já que muitas fecham durante determinados dias da semana.

Almoçamos em um restaurante horrendo na Praça de Armas; o lugar era até simpático, mas a comida tão ruim que Michael nem conseguiu terminar o prato; pelo menos, ela era barata, 5000 pesos o PF, incluindo um caldo ralo a que chamaram de sopa. À tarde, o passeio foi ao Cerro de Monserrate. Andamos a pé até o Cerro, apesar de não ser perto da Praça de Bolívar. Fomos “costurando” da Calle 9 até, mais ou menos, a Calle 26, ou seja, quase vinte quarteirões e o mesmo para voltar. Bom exercício! A área lembra demais o centro velho de São Paulo.

Clássico tour de Bogotá, a subida ao Cerro de Monserrate de teleférico é cara, 15400 pesos, e sem graça. O bondinho, onde cabem umas 20 pessoas, vai irritantemente lotado até atingir o cume, aos 3152 metros acima do nível do mar. O trajeto é rápido e não é muito alto. No topo, a vista da cidade é bonita e faz frio; há uma igreja construída no século XVII, o Santuário del Señor de Monserrate, dedicado a El Señor Caído, e a área é cercada de vegetação exuberante. A montanha é rota de peregrinação de devotos que pagam promessas caminhando as mais de dez etapas da crucificação, representadas em estátuas de bronze ordenadas ao longo de um percurso calçado e bem ajardinado. O Cerro também é destino dos turistas, que sobem por teleférico, trem (desativado quando estávamos lá), ou até escalando pela trilha. Os jardins são lindos e típicos de climas de inverno; plantas de folhas completamente brancas e aveludadas chamam muito a atenção. Há ainda um restaurante caríssimo que não passamos nem perto.

Cerro de Monserrate

Cerro de Monserrate

vista de Bogotá

vista de Bogotá

Santuário del Señor de Monserrate

Santuário del Señor de Monserrate

Via Crucis

Via Crucis

jardins

jardins

Na volta, na altura da Calle 21, ainda paramos no Parque da Independência, pequena área verde que quebra o asfalto do centro. Retornamos ao albergue a tempo de pegar a janta e não fizemos mais nada. No dia seguinte, nosso plano era visitar a Catedral de Sal em Zipaquirá, cidade a poucos quilômetros de Bogotá.

Dia 27 de junho, perdemos a hora devido à tranquilidade do Musicology. Diferente do que o próprio nome diz, o albergue é silencioso e não mantém o som alto até de madrugada. Dá pra dormir em paz. Saímos quase onze da manhã, com destino a Zipaquirá, a cerca de 50 quilômetros de Bogotá.

Caminhamos até a Calle 13 com a Carrera 12, para chegar à avenida onde passam os ônibus de linha Transmilenio, que possuem um sistema de terminais e de tarifa integrada parecido com o de Curitiba. Em Bogotá, há os micro-ônibus, ou busetas, que transitam nas ruas mais estreitas e nos diversos morros da cidade; as busetas da capital são bem mais rodadas e menos bonitinhas do que as do interior (sem intenção de trocadilho). Nas avenidas e vias principais, rodam os carros do Transmilenio, ônibus grandes, do tipo “minhocão”, sempre vermelhos ou verdes. Do Centro Histórico, então, tomamos o ônibus B1, por 1750 pesos, para ir até o terminal Portal del Norte (qualquer Transmilenio “B” do centro chega ao Portal Norte). É um terminal de transportes afastado, situado nas imediações da Calle 180. A viagem dura cerca de uma hora e o ônibus trafega por avenidas largas, passando por centro de compras, clínicas médicas, comércio variado, home centers de construção e super “Êxitos”, a mega rede de supermercados colombiana. Por sorte, no mesmo instante que descemos no Terminal Norte, o ônibus intermunicipal para Zipaquirá, com passagem a 3900 pesos, já estava de saída. Entre Bogotá e a cidade vizinha são aproximadamente 50 minutos de viagem; por volta de 1h15min da tarde, o cobrador avisou aos turistas que chegáramos a Zipaquirá, no ponto indicado para a Catedral de Sal.

Caminhamos, seguindo as placas de sinalização, até a entrada do complexo. O passeio à Catedral de Sal é único e indispensável. Realmente, um dos tours mais interessantes que fizemos na Colômbia. No ingresso de 29000, está incluída a visita guiada ao interior da Catedral, o passeio à Ruta del Minero e a entrada também com guia ao Museo de La Salmuera. Há diferentes opções de tickets, que oferecem mais ou menos quantidades de passeios. Nós resolvemos fazer esses três. Se adquiridos separadamente, a Rota dos Mineiros sai por 6000 pesos e o Museu da Salmoura por três mil.

Compramos os bilhetes e tivemos que esperar um pouco até que um grupo atingisse o número máximo de pessoas para um guia. Na entrada, placas sugerem que gorjetas podem e devem ser dadas, como reconhecimento ao trabalho do cidadão. Minha opinião é que esse valor já está bem embutidinho em 29 mil pesos e eu não ganho nenhum extra por fazer minha própria obrigação.

Enfim, partimos para o interior da mina, depois de breves instruções de segurança. O percurso de 2,5 quilômetros se inicia na entrada de um túnel, sob a montanha verde. Tudo fica bem escuro e, até que os olhos se acostumem, uma manta de milhares de lâmpadas no teto vai refletindo, uma a uma, as bandeiras coloridas de diversos países e todos já começam a tocar nas laterais do túnel, a fim de comprovar se o gosto é mesmo salgado. Contrária à minha expectativa, a mina não expõe paredes e tetos branquinhos como o sal que usamos na cozinha, mas um branco enegrecido, como sujeira, devido à presença de outros minerais na sua composição. A galeria de mais de dois quilômetros segue demonstrando, com a indicação de números romanos dourados, as estações da Via Crucis, em pequenos altares com enormes cruzes de sal e luzes coloridas estrategicamente posicionadas. Ao final do túnel, a Catedral propriamente dita se revela; um buraco cavernoso colossal, ornado no altar da nave central com uma enorme cruz de 16 metros de altura e, no final, com a obra talhada em mármore “A Criação do Homem”, do artista Carlos Henrique Rodríguez, que faz alusão ao trabalho de Michelangelo, na Capela Sistina. Muitos bancos de madeira, tradicionais de igreja, acolhem mais de cinco mil pessoas ao longo da nave principal. Sem surpresa, a Catedral carrega o título de A Primeira Maravilha da Colômbia.

etapas da Via Crucis na Catedral de Sal

etapas da Via Crucis na Catedral de Sal

Catedral de Sal

Catedral de Sal

Catedral de Sal

Catedral de Sal

A Criação do Homem

A Criação do Homem

Saindo da Catedral, fomos à outra galeria assistir a um show de luzes. A mesma manta de lâmpadas da entrada, agora em proporção bem maior, exibe desenhos que dançam de acordo com a música clássica tocada. É bonito. Em seguida, no auditório da mina, um confortável espaço de cinema, dentro de outra caverna de sal, nós vimos um vídeo informativo.

A rota dos mineiros é um passeio que, sinceramente, se pode dispensar. Nós apenas vestimos capacetes com lanternas acopladas e adentramos um pouco mais em um túnel da montanha, onde é dada uma pequena palestra sobre a composição química das paredes da mina, bem como sobre os métodos de extração do sal, e os turistas se divertem tirando fotos com enormes picaretas, fingindo que trabalham.

na Rota dos Mineiros

na Rota dos Mineiros

Muito mais válido é o tour ao Museu da Salmoura, que fica ao lado da entrada para a Catedral. Regressamos no mesmo percurso de 2,5 km e, no museu, nós chegamos às cinco da tarde; não havia mais ninguém para formar um grupo, de modo que tivemos um guia exclusivo e ainda falante de Português. Os outros guias já tinham passado praticamente as mesmas informações. Porém, ouvi-las na nossa Língua ajudou a confirmá-las e esclarecer algumas dúvidas.

O sal existe nas montanhas e foi resultado da conversão do oceano em montes, há milhões de anos. Em 1834, nos primórdios da mina, a extração do mineral era primitivamente feita com picaretas nas rochas e carrinhos para transporte. Atualmente, brocas pneumáticas e explosivos, na proporção de 10% de dinamite e 90% de água, retiram as rochas das montanhas, que vão de caminhões diretamente para as refinarias. Esse processo, segundo o guia, será o mesmo até o ano de 2030. Depois de dias na água, as rochas liberam somente o sal e retêm os outros minerais. A água salgada, chamada de salmoura, vai então para os processos de sedimentação e refinaria. As minas de sal representam boa parte da base econômica de Zipaquirá e já era assim para as primeiras tribos indígenas da região.

Para os índios, o sal significava dinheiro e era moeda de troca. Vem daí a origem da palavra “salário”. Conforme estudiosos, o ouro nessa época era apenas usado em rituais religiosos, sem configurar-se como valor monetário. O chefe da tribo, intitulado de El Dorado, banhava-se em mel ou cera de abelha e envolvia-se com pó de ouro para deitar-se no meio de um lago, levando ouro e esmeraldas, em belas cerimônias religiosas. Na região, era o sal que valia mais e ele era extraído da superfície do solo, separado em panelas de barro e transformado em pães, a moeda da tribo. Somente em 1801, Humboldt, geógrafo e mineralogista alemão, trouxe a técnica de extração do minério através de buracos nas rochas negras. Em 1834, a mina contava somente com um primeiro nível, a superfície. Na época, já havia uma pequena igreja interna, criada pelos mineiros necessitados de devoção religiosa e um padre vinha rezar as missas. Por estar muito próxima à superfície, essa primeira igreja se estragou, devido a infiltrações. Em 1876, o segundo nível foi aberto e apenas em 1976, cem anos depois, o terceiro nível, a 180 metros de profundidade, começou a ser explorado e é dele que, até hoje, são retiradas 400 toneladas de sal diariamente. Um quarto nível também já está em atividade. Conforme explicações do guia, nunca houve riscos de desmoronamento, pois as rochas são muito duras; o problema são gases tóxicos e um fato curioso é que, antigamente, passarinhos eram enviados à mina para detectar qualquer gás nocivo na simples ideia de que, se eles não voltassem, alguma coisa de ruim havia. Hoje, aparelhos sensíveis a toxinas poupam a vida de cobaia das pobres aves.

O Museu da Salmoura é pequeno, mas de grande valia para o passeio. Há apenas um corredor com tecnologias interativas, como a tela na qual o guia tocava para dispor as informações de maneira mais atraente. Há TVs, vídeos e objetos usados no interior da mina. Ao sair, estávamos verdes de fome, já que o café da manhã fora tarde e puláramos o almoço. Sem poder esperar mais, comemos um bolinho de queijo caríssimo, por 2000 pesos, em uma das lanchonetes da área. Os preços por ali são bem abusivos.

Atualmente, a Catedral de Sal, que passou por uma grande reforma iniciada em 1991, está protegida pela profundidade de quase 200 metros e não corre riscos momentâneos nem de infiltrações, nem das explosões ainda presentes na mina. Segundo os engenheiros, ela ainda servirá à comunidade, por muitos e muitos anos. Entretanto, somente os não supersticiosos a utilizam para batismos e casamentos, já que o sal traz azar, segundo os bolivianos. Tomar banho de sal grosso para espantar mal olhado é só coisa de brasileiro.

Da Catedral, fomos dar uma voltinha no Centro Histórico de Zipaquirá, praça grande, bonita com construções de valor histórico e um bom comércio. Um dos muitos cães da área nos seguiu por um bom tempo e tive vontade de levá-lo pra casa, coitadinho. Se bem que ele era meio enjoado, pois até recusou bolacha recheada do Michael.

Centro Histórico Zipaquirá

Centro Histórico Zipaquirá

Caminhamos uns três quilômetros até o Terminal de Ônibus da cidade e tomamos a condução de volta a Bogotá, pelo mesmo preço da vinda. Já era início da noite. Descemos no Terminal Norte e novamente pegamos o Transmilenio J72 até La Candelaria. O ponto mais próximo foi na Calle 17 com Carrera 12 e caminhamos bastante ainda até a Praza de Bolívar. Voltamos ao albergue precisamente às 8h30min da noite.

Em 28 de junho, nossa intenção era visitar os museus que não conseguíramos dois dias antes, na Calle 11 do Centro Histórico. O museu da Casa da Moeda acolhe velhas prensas, máquinas de fazer moedas, cédulas e moedas antigas e também atuais. Algumas esculturas e pinturas de arte moderna de artistas colombianos também estavam temporariamente expostas. O Museu Botero é o prédio ao lado e, entre os dois, há até uma passagem interna. As fachadas das duas edificações acompanham o estilo colonial espanhol como tantas outras do centro histórico; os interiores, porém, restaurados para abrigar obras de valor cultural inestimável, são modernos, bem iluminados e seguros. O museu Botero, por exemplo, além do trabalho original do artista colombiano, alberga também Picassos, Monets, Renoirs e muitos outros artistas de igual fama e valor. Essas duas atrações são gratuitas, o que as torna ainda melhores.

fachada dos museus

fachada dos museus

Museu Botero

Museu Botero

Monalisa na visão de Botero

Monalisa na visão de Botero

Outros museus que me pareceram de interesse, presentes na área do centro histórico ou próximos a ele, são o Museo del Oro, cujo acervo de peças da ourivesaria pré-colombiana é o mais importante do mundo, e o museu Casa Museo 20 de Julio, na esquina da Praça de Armas, em uma casa de 1810, onde foi dado o grito da Independência. Ela conta com mais de 4000 peças dessa época. Nós não entramos em nenhum dos dois, pois já tínhamos visitado o Museu do Ouro de Cartagena e, francamente, tínhamos enjoado de museus pela semana. Contudo, deixo aqui a minha sugestão.

No centro de Bogotá, há muita história e cultura, mas como relaxar a mente também é preciso, as comprinhas tiveram seu lugar ao sol. Comprei bolsas indígenas coloridas e típicas nos diversos centros e galerias de artesanato da região e um belo colar de miçangas nas barraquinhas de rua, trabalho comum entre as índias locais.

Mais à tarde, caminhamos até a Calle 27 para checar a Plaza de Toros e matar algum tempo. Nessa arena, não há touradas, mas o hábito ainda é comum na Colômbia. O prefeito quer, inclusive, convertê-la em um centro cultural.

Plaza de Toros

Plaza de Toros

a arena

a arena

Voltamos para o albergue a fim de encontrar um contato bogotenho do Couchsurfing, o bem vestido e articulado Andreas. Nós tínhamos até já feito check-out do Musicology, para nos hospedarmos na sua casa. No início da noite, ele foi nos encontrar no albergue. Andreas aparentava ter dinheiro e vir de uma família tradicional. Ele era culto, inteligente e parecia transitar fluentemente nas altas rodas de Bogotá. Mesmo com um compromisso agendado, Andreas veio nos ver e, para ao menos dar o ar da graça na sua obrigação social, fomos os três até um dos casarões do centro histórico, onde acontecia um encontro político e convenção de economia. O lugar, uma bela casa colonial com tradicional pátio interno e chafariz, estava muito bem decorado e o restaurante local servia vinho aos participantes. Todos estavam na estica, num desfile de ternos e tailleurs, e Michael e eu, usualmente mal vestidos de “mochileiros” destoávamos com força. Andreas conversava com todos e ficou cheio de mesuras e tapinhas nas costas de um homem em particular que, mais tarde, soubemos ser o ex-presidente, advogado e economista colombiano Ernesto Samper. Em seguida, nós fomos conversar mais calmamente num café da franquia Juan Valdez, onde eu tomei um caríssimo frapê de manga com leite por 8500 pesos. No mesmo prédio, na Rua 11, situa-se a biblioteca mais visitada da Colômbia, a Luis Ángel Arango e, na esquina, um ambulante vendia seu serviço, comum na cidade: Bogotá não tem muitos telefones públicos, mas barraquinhas nas quais vendedores oferecem ligações telefônicas, com celulares de todas as operadoras do país.

Andreas contou fatos interessantes sobre política e parecia saber bastante da história colombiana; fez uma lista do que deveríamos visitar na cidade e, polidamente, foi embora. Acabamos não indo à sua casa, devido a uma viagem de última hora que ele não pudera recusar. Esmerado nas desculpas, nos convidou a permanecer em Bogotá até que ele retornasse, quatro dias depois, e passar uma semana em sua companhia. Entretanto, além de não querermos ficar na cidade mais dez dias, não teríamos verba para acompanhar um colega abastado. No Couchsurfing, convém também sempre perguntar quais os tipos de restaurantes ou passeios que o anfitrião deseja nos levar. Não há vergonha nisso, já que muitas vezes não compartilhamos do mesmo nível social e ninguém precisa entrar no prejuízo…

Voltamos e nos instalamos novamente em outro quarto do Musicology, dessa vez por 20000. Curiosamente, era a terceira vez que mudávamos de quarto, no mesmo albergue. Na primeira noite, ficamos em um quarto de seis camas, a 22 mil pesos, pois era o único que tinha vagas. Na noite seguinte, passamos a outra “habitación” para dez pessoas, a 18 mil. Finalmente, fizemos check-out, por crer que nos hospedaríamos na cada da família de Andreas. Na negativa, voltamos ao albergue, num novo quarto de oito camas, pelo preço de 20 mil, onde dormimos nas próximas duas noites. Tivemos sorte de conseguir camas, ainda que na parte de cima do beliche, que eu odeio, já que o Musicology era bem requisitado. Geralmente, para óbvia economia de espaço e aumento de lucros, os albergues enchem os quartos de beliches; eu não gosto da parte de cima, pois não é nada prático ficar se empoleirando, subir e descer a toda hora, ir ao banheiro ou simplesmente colocar as mochilas. Entretanto, no Musicology, gostei de ter meus lençóis protegidos no alto, já que em uma manhã, ao acordar e olhar para baixo, Michael se surpreendeu com a Lola, cadela grandalhona e carinhosa do albergue, confortavelmente enrolada nos cobertores da cama de baixo e roncando discretamente, como se o quarto fosse dela. Então, o último a sair do quarto, que apague a luz e também feche a porta! Os cachorros mascotes dos albergues sempre faziam sucesso. Eles dão aos estabelecimentos um ar de casa e são sempre muito meigos com todos os hóspedes. Ainda no La Brisa Loca, em Santa Marta, outro cão amolecera o coração do Michael e chegou a ganhar pedaços de hambúrgueres do seu jantar já que, segundo meu sensível companheiro de viagem, ele tinha “olhos lacrimejantes” de cachorro pidão.

Enfim, no dia seguinte, seguindo as sugestões do Andreas, partimos de ônibus para investigar a parte mais moderna de Bogotá. Da Carrera 7, tomamos a buseta até a Carrera 68, por 1450 pesos. Nossa primeira parada, ao lado da Avenida 68, foi o Parque Metropolitano Simón Bolívar, um tipo de Ibirapuera. Há uma grande lagoa, playgrounds, estações de exercícios, uma prainha artificial, praça de eventos, mirante e um monumento a Bolívar. É muito bonito, arborizado e perfeito para piqueniques, passeios de bicicleta e brincadeiras com a criançada.

Parque Metropolitano Simon Bolívar

Parque Metropolitano Simon Bolívar

Em seguida, cruzamos a avenida e, umas duas quadras depois, está o Jardim Botánico José Celestino Mutis, cujo ingresso é 2700 pesos. O jardim é enorme e tem uma variedade imensa de plantas e flores, com relevo para as belas e coloridas roseiras e altas palmeiras. Galerias de estufas reproduzem o clima de distintas regiões do planeta, bem como suas floras características. Assim, no mesmo lugar, circulamos entre lagoas de vitórias-régias e árvores úmidas até cactos secos em terrenos de areia. É um bom passeio.

Jardim Botânico

Jardim Botânico

oca no Jardim Botânico

oca no Jardim Botânico

Finalmente, ainda a pé, chegamos à Biblioteca Pública Virgílio Barco, na Carrera 60, mas não entramos.

Biblioteca Pública

Biblioteca Pública

Vimos um acidente de carro na rua e logo resolvemos pegar um táxi para o Centro Comercial Santa Bárbara ou Hacienda Santa Barbara, um shopping caro e chique na Calle 117 com Carrera 7. Almoçamos em um McDonald´s próximo para evitar as facadas da praça de alimentação do shopping, o que não mudou muito.

A avenida 7 tem muitas agencias bancárias, edifícios residenciais e comerciais. O que me intrigou foi o grande número de prédios de tijolinho à vista. Por esse fato, parte de Bogotá me pareceu excessivamente amarronzada. Na Carrera 7, pegamos um ônibus para retornar. Essa avenida termina na Plaza de Armas, mas os coletivos não vão até lá. Por isso, descemos na Calle 19, lotada de óticas, com a Carrera 12. Caminhamos até a Carrera 7, na Plaza de Bolívar, e subimos até nosso albergue, na Calle 9 com Carrera 3.

Pisamos no quarto e começou a chover, ainda bem! A sorte com o tempo foi uma constante na nossa viagem; apenas duas vezes paráramos por chuva e, em Bogotá, fazia frio durante as manhãs e noites, mas o restante do dia, o sol convidava ao passeio. Então, como estava frio e chuvoso, não prosseguimos com a última sugestão da lista: a Zona Rosa, área de bares e boates, famosa pelas noites badaladas.

No dia 30, nosso último em Bogotá, fomos nos despedir da Praça de Armas e assistimos a uma graduação de soldados. Tudo muito solene, famílias emocionadas, presença ostensiva da polícia… Interessante.

graduação de soldados na Plaza de Bolívar

graduação de soldados na Plaza de Bolívar

Fizemos check-out, saímos para almoçar, caminhamos sem pressa e fizemos hora no albergue. Pedimos táxi na recepção, pois não fazia diferença com os preços da rua, e seguimos para o terminal de ônibus de Bogotá, no Salitre, bem afastado do centro histórico. A rodoviária é grande, cheia de lanchonetes, restaurantes, cabeleireiros, capelas e até cassinos, permitidos no país, que se espalham em um andar térreo e um mezanino, que contorna todo o prédio. Há três áreas separadas com guichês de empresas e todas estavam lotadas, com filas quilométricas. Na Expresso Brasília e Rápido Ochoa, não encontramos passagens para Cali e não tínhamos feito reservas ou comprado antecipadamente, pois muita gente nos dissera que sempre havia vagas nos ônibus para Cali. Ficamos assustados, a princípio, mas a empresa Bolivariano trouxe o alívio e os bilhetes foram comprados para as 7h30min da noite. Na sala VIP da companhia, comemos bolachas ainda compradas em Medelín, já que café e jantar eram garantidos no albergue de Bogotá, e esperamos umas duas horas até o embarque; a sala VIP era impressionante; Internet, água, tomadas e cadeiras confortáveis; o ônibus espaçoso e novo, e a passagem nem fora tão mais cara, 62 mil. Porém, como alegria de pobre dura pouco, tivemos que enfrentar um terrível cheiro de merda e xixi que vinha do banheiro, durante toda a viagem. Pra completar, o ônibus atrasou; partiu quase oito e meia da noite e ainda parou por mais uma hora em outro terminal. Os passageiros já estavam reclamando.

Com três horas de atraso, chegamos à rodoviária de Cali por volta das oito da manhã do dia 1º de julho de 2012.

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