Caracas (Passeio ao Arquipélago Caribenho de Los Roques)

Caracas (Passeio ao Arquipélago Caribenho de Los Roques)

Na noite do dia 30 de maio, pegamos o ônibus com atraso de meia hora, da empresa Ayacucho, para Caracas, capital da Venezuela. Saímos de Ciudad Bolívar às nove da noite e chegamos a Caracas por volta das cinco da manhã. Como ainda estava escuro, nos acomodamos em um canto da rodoviária e esperamos amanhecer. O metrô somente abriria às seis da manhã e, já que não ficava dentro da rodoviária, teríamos que caminhar até ele. Michael, sempre precavido em relação à segurança, não estava nada inclinado a andar pelas ruas de Caracas no escuro e eu concordei com ele. Com o dia claro, fomos a pé para o metrô, uns 10 minutos de caminhada. O Terminal de ônibus de Caracas é grande e movimentado, assim como as estações de metrô. Entretanto, o trajeto entre eles é meio barra pesada; apesar de andarmos na avenida, passamos por entradas de favelas e áreas visivelmente perigosas e, assim, nos alegramos com a acertada decisão de esperar amanhecer para sair às ruas. É necessário notar que há dois terminais rodoviários em Caracas, o La Bandera e o Oriente. Queríamos descer no primeiro, pois ele ficava mais próximo do centro da cidade. O ônibus nem chegou a entrar no terminal e fomos inesperadamente acordados com os gritos do motorista indicando que quem fosse descer ali, deveria se mexer logo. Saímos de forma tão tempestuosa, com o motorista apressando, que o Michael até esqueceu o saco de dormir dele em cima do banco. Uma pena… O terminal La Bandera fica, então, próximo à estação do metrô de mesmo nome; uns 10 minutos de distância um do outro.

Na estação de metrô La Bandera, pagamos a passagem de 1,5 bolívares e pegamos o trem, sentido Sabana Grande. Fizemos baldeação na Plaza Venezuela e descemos na estação de mesmo nome. Dali, caminhamos até a Avenida Casanova e nos informamos sobre a Calle Del Colégio. Tudo isso para chegar a um maldito albergue chamado Backpackers, de onde um atendente cheio de má vontade saiu para nos receber. Eram precisamente 6h45min da manhã e, como se ele não dependesse de viajantes para manter o negócio, muito rudemente, falou que não havia vagas e já ia fechando a porta na nossa cara. Nós, então, perguntamos se não haveria, por acaso, check-outs no dia e, consequentemente, camas vagariam. Ele se dignou a afirmar e, também por iniciativa nossa de perguntar, permitiu que deixássemos as mochilas lá para voltarmos mais tarde. Saímos e tomamos café numa lanchonete de uma universidade próxima. Fizemos uma horinha e, perto da hora na qual muitos viajantes fazem check-out, oito da manhã, retornamos ao albergue. Infelizmente, acabamos não podendo ficar lá, pois descobrimos que ele não tinha WIFI, nem sequer Internet disponíveis e eu precisava me comunicar com o Brasil com certa constância e ter um endereço fixo por alguns dias, para que pudessem me enviar meu cartão Visa Travel Money que ficara pronto um dia depois que partimos para a viagem. Eu estava com medo de precisar de dinheiro antes que o cartão chegasse e, assim, preferimos buscar outra opção de hotel em Caracas. De qualquer modo, o atendimento no Backpackers fora tão ruim, além de só terem vagado camas em quartos diferentes, que eu achei bom sumir de lá. Não gostei nada da atmosfera.

Caracas não é uma cidade amigável para se procurar hotéis. Em primeiro lugar, não há muitos albergues; o único que Michael encontrara, nos guias de viagem, foi o citado acima e, em segundo lugar, os hotéis são caros e estão sempre lotados. Nós andamos pelas redondezas e entramos em quatro hotéis; três estavam cheios e um era caríssimo! Não que os outros fossem baratos, mas era possível encarar. Minha mochila estava pesando uns 100 quilos e as costas arcavam de dor, sem falar no joelho que ainda me magoava. Cansados e sem boas perspectivas pela frente, sugeri que invertêssemos os planos e partíssemos para Los Roques no mesmo dia, ou seja, ao invés de ficarmos ali, lutando para conseguir acomodação, que fôssemos diretamente ao arquipélago e, na volta a Caracas, procuraríamos com mais calma ou até já teríamos achado algo pela Internet. Michael hesitou por alguns segundos, mas concordou em arriscar. Na verdade, nós não mudaríamos muito o itinerário original; de Ciudad Bolívar, nós teríamos ido, de qualquer jeito, a Caracas, pois somente dali saem voos comerciais ao arquipélago caribenho de Los Roques. Na capital, passaríamos alguns dias antes de partir para as ilhas. De Los Roques, então, o retorno inevitável seria mesmo Caracas. Então, era somente uma inversão no planejamento. Ao invés de explorar a capital antes de relaxar no mar do Caribe, o faríamos depois. E digamos que o único tempo perdido fora o de ir de metrô até o centro de Caracas e caminhar em busca de hotéis, ao invés de já ter saído da rodoviária mesmo ao aeroporto, logo pela manhã. Dessa maneira, resolutos do novo arranjo de planos, partimos imediatamente para a praça em busca de um táxi que nos levasse ao aeroporto Internacional de Caracas, na cidade vizinha de Maiquetía, que fica de uma hora e meia a duas horas do centro de Caracas.

Choramos um desconto com um taxista e ele baixou a corrida de 250 para 200 bolívares. Uma senhora venezuelana afirmou que o preço estava bom, já que ela era dali e já pagara 300 pelo mesmo trajeto. Assim, felizes, entramos no carro e depois do começo difícil, tivemos uma sequencia inacreditável de lances de sorte!

O percurso até o aeroporto é longo e pareceu ainda mais por causa do trânsito horroroso que pegamos. Estava muito calor e o táxi sem ar condicionado foi praticamente uma hora de sauna. Passamos por mega favelas, apinhadas sobre morros, e colossais construções de estradas. Eu começava a me questionar se fizéramos bem em mudar abruptamente nosso planejamento, já que não tínhamos nada reservado; nem passagem, nem estadia em Los Roques… “Será que não teria sido mais fácil conseguir um hotel em Caracas do que se aventurar sem reserva de voo ao aeroporto? Será que aquela viagem de carro acalorada não seria em vão? Será que tínhamos gasto o dinheiro do táxi à toa? E para voltar? Meu Deus! Seriam, no mínimo, mais 200 bolívares! E se só conseguíssemos passagem para o dia seguinte? O aeroporto era longe demais para voltar ao centro e retornar no outro dia! Teríamos que amargar uma noite inflacionada em algum hotel próximo dele! O Michael ia me matar!”. Tudo isso passava pela minha cabeça dentro do carro. De entusiasmada com a mudança de planos, passei a preocupada sobre qual seria o tamanho do prejuízo se aquilo não desse certo. Afinal, se pensarmos bem, tinha tudo para não dar.

Então, a sorte veio! Ao chegarmos ao aeroporto, pouco mais de dez horas da manhã, conseguimos comprar passagens de ida e volta ao arquipélago, para o mesmo dia! E isso foi na primeira tentativa, na empresa aérea Chapi Air. Ainda havia outras que também tinham disponibilidade, mas ofereciam preços maiores. Pagamos 2.047 bolívares por cada passagem (ida e volta), mais 45 de taxa de embarque e esperamos pelo voo, que sairia às 15h. Assim como o nosso atual aeroporto de Guarulhos, só há cadeiras no Terminal de Caracas depois da área de embarque. Então, acomodamos nossas mochilas no chão e sentamos ao lado delas até a hora de fazer o check-in. Cortei minhas unhas, comi um doce estranho e conversamos bastante. Nossa sorte foi a de não ser temporada, apesar do tempo sempre estar bom nas ilhas de Los Roques; mas não eram férias, nem feriado. Dessa forma, só haveria turistas estrangeiros e não os habituais caraquenhos que enchem Los Roques nessas épocas do ano.

Às três da tarde, embarcamos rumo ao mar do Caribe. Quando olhei a aeronave, novamente, me surpreendi com a nossa sorte, já que ela só tinha míseros 14 lugares para passageiros e os outros 12 estavam ocupados. Nós tínhamos conseguido comprar as duas últimas passagens e só há um voo por dia para Los Roques. Nós quase tínhamos mesmo entrado num grande prejuízo! Portanto, aconselho a ter reservas de voo para as ilhas. Bom, necessário lembrar também que paga-se por excesso de bagagem: 04 bolívares por quilo, se todas as malas, por pessoa, passarem de apenas 10 quilos; mochila cargueira e de ataque juntas, ou seja, há que se considerarem, por cabeça, quaisquer malas e mais a bagagem de mão juntas, para os 10 quilos. É, portanto, bem pouco. Como nossas mochilas ultrapassaram um pouco a quantidade limite, pagamos uns 18 bolívares de excesso.

Tour ao Arquipélago Caribenho de Los Roques

Dia 31 de maio, aterrissamos em Los Roques, no final da tarde. O voo até o arquipélago é um espetáculo a parte. Durante pouco menos de uma hora, partimos da desordem de Caracas, deixando para trás suas estradas, favelas e arranha-céus para nos hipnotizar com um azul marinho profundo e, em seguida, chegar até o verde mar de Los Roques. É incrível, pois minutos depois da decolagem, o mar muda de repente! Como se fora passado um risco de lápis de cor, numa perfeita linha divisória, o azul escuro passa a verde-água e as muitas ilhas e ilhotas do arquipélago começam a ser vistas. É maravilhoso! O avião voa baixo e chegamos a enxergar sua sombra no mar, no momento do pouso em Los Roques. A pista do pequeno aeroporto fica somente a alguns metros do mar, num ângulo perpendicular, e a aproximação com a ilha já é uma sensação muito excitante, como a de um mergulho nas águas.

voo para Los Roques

voo para Los Roques

 

voo

voo

 

aeroporto

aeroporto

Pagamos 180 bolívares de acesso às ilhas, taxa de preservação do Parque Nacional Archipielago Los Roques, constituído em 1972. O valor é cobrado logo na saída do aeroporto e, depois disso, já adentramos o pequeno povoado de ruas arenosas. Estava muito calor e novamente o peso das mochilas parecia dobrar. Em poucos minutos, começamos a ver os hotéis e pousadas, um atrás do outro; tentamos ficar em dois ou três, mas não havia quartos disponíveis; porém, logo em seguida, num outro lance de sorte, encontramos a pousada Doña Carmen, bem defronte à pracinha. Hospedar-se em Los Roques, para padrões mochileiros, não é tão barato. Por quatro noites, nós pagamos 3.600 bolívares pelo quarto, na pousada. Entretanto, se pensarmos no paraíso que esse pedaço de Caribe Venezuelano é e compararmos com os preços de hotéis no nordeste brasileiro, por exemplo, é uma pechincha! Na conversão da moeda, Los Roques fica mesmo uma ótima opção de passeio para nós e, precisamente por isso, encontramos lá alguns brasileiros, em lua de mel ou simplesmente curtindo férias.

Dona Carmen, óbvia proprietária do estabelecimento, nos recebeu simpática e nos encaminhou a um dos quartos no corredor. Já íamos deixar as mochilas no chão quando ela perguntou se nós não preferiríamos um outro aposento vago, de frente para o mar; o preço era o mesmo. Eu olhei pro Michael, o Michael olhou pra mim… Um quarto cuja porta se abria sobre as areias branquíssimas de uma praia de Los Roques e o mar bailava na nossa frente, num saboroso revoar de gaivotas. Será que era mesmo preciso pensar? Entramos logo antes que a Dona Carmen mudasse de ideia e, mais uma vez, nos deliciamos com a sorte.

Eu não aconselho ninguém a arriscar como nós; melhor ter as reservas de voo e quartos assegurados na ilha antecipadamente. Apesar de Los Roques contar com 66 pousadas, soubemos que, na alta temporada, é muito comum que turistas desavisados cheguem lá e se deparem com todos os quartos lotados! Não há nenhum controle no aeroporto de Caracas para barrar superlotação no arquipélago e, nesses casos, os viajantes devem pedir uma autorização à Guarda de Turismo da ilha para poderem dormir em barracas, num local reservado a camping. A única dificuldade de se fazer reservas por conta própria é que poucos hotéis ou pousadas oferecem ou mesmo têm Internet. A Doña Carmen não tinha e, dessa forma, ela trabalha diretamente com agências de turismo. Enfim, foi nossa sorte acharmos vaga lá. A pousada não tinha Internet, mas em contrapartida, servia um satisfatório café da manhã com direito a sucos de frutas, arepas, pães, ovos, queijo e presunto. Além do “desayuno”, também oferecia o jantar (“sena”) gratuitamente; sempre sopa ou algum peixe local (“pescado”). Foi muito bom!

O povoado de Los Roques, situado na mesma ilha do aeroporto, a Gran Roque, é uma pequena vila de aproximadamente 500 habitantes fixos. Basicamente, o local é formado todo de hotéis, pousadas, bares e vendinhas. Há algumas pizzarias, somente uma agência bancária com caixa eletrônico (portanto leve dinheiro suficiente para os dias de passeio), apenas uma lanhouse e poucas boates para quem quer curtir a noite. As ruas são de terra, não há carros e uma atmosfera bucólica se deita sobre as charmosas casinhas coloridas de bela decoração rústica ou praiana. A singela pracinha ostenta um orgulhoso busto de Simón Bolívar e uma intrigante árvore de frutos que parecem uvas chama a atenção. É tudo tão bonitinho e colorido que a vila tem cara de cidade cenográfica. Todas as pousadas têm um alegre ar de interior, mas há algumas até bem sofisticadas, de decoração rica, porém rústica e de onde podíamos ver estrangeiros abastados levantando seus drinques coloridos; de qualquer modo, todas elas dividem as mesmas ruas de areia e o mesmo desenrolar sossegado do tempo.

casinhas em Gran Roque

casinhas em Gran Roque

 

Plaza Simon Bolívar

Plaza Simon Bolívar

 

ruas de areia

ruas de areia

No final desse dia, só aproveitamos para observar a beleza da paisagem bem à frente do quarto e descansar. A pousada Doña Carmen, apesar de não ser uma das mais caras, é de frente para o oceano, como eu disse anteriormente. São poucas as que se privilegiam dessa posição, já que o povoado se concentra mais em direção ao interior da ilha.

Primeiro dia:

Em 1º de junho, acordamos com a claridade do lindo dia na janela. Tomamos café e logo partimos para o nosso primeiro passeio.

Na mesma praia da pousada, a alguns metros da porta do nosso quarto, bem ao lado do aeroporto, há um píer de onde partem todas as lanchas dos passeios diários oferecidos por vários agentes de turismo. Chega-se pela manhã e, na mesma hora, é possível comprar lugares nas embarcações, para os passeios às ilhas mais populares do arquipélago, dentre as mais de 40 existentes. Esses tours são, na verdade, somente o transporte às diversas ilhas e eles são mesmo vendidos ali no cais, na hora, sem reservas antecipadas. É só chegar cedo. Então, para o dia, resolvemos adquirir um passeio a três ilhas, feito em lancha rápida, ou seja, lancha de alta velocidade.

Compramos os bilhetes de 160 bolívares cada com um tal de Jesus, baixinho falante e comunicativo, que se destacava dos outros agentes e que também já fora bem recomendado em relatos de viagem no site dos mochileiros.

Por volta das nove da manhã, nós partimos e a primeira parada da lancha, cerca de uma hora depois, foi em uma praia chamada Cayo d’Água. Eu posso afirmar, sem dúvida nenhuma, que eu nunca tinha visto uma praia mais bonita na minha vida! Não que ela seja cheia de palmeiras ou formações rochosas inusitadas, comuns em belas fotos de catálogo… Não, pelo contrário… É somente o mar calmo, uma larga faixa de areia e uma pequena elevação na parte de trás, sobre a qual se espalha uma seca vegetação rasteira que cresce no meio do solo arenoso; de vez em quando, surgem umas poucas árvores, aqui e ali, à distância. O que impressiona em Cayo d’Água não é alguma diferente disposição da praia em si ou a presença de acidentes geográficos que saltem aos olhos; não, não há nada disso lá. Cayo d’Água é uma praia bastante simples; na verdade, o que nos impressiona mesmo são as cores da paisagem! A areia é macia e de um tom claríssimo, gostosa de caminhar. A água do mar, limpa e transparente, reflete o céu azul e a luz do sol, que chegam aos seus muitos bancos de areia e recifes de corais; todo o conjunto faz a água adquirir uma cor que eu só consigo descrever como aquele lápis de cor verde-água, da Faber Castell; aquele que sempre sobra na caixinha. Nós usamos o verde-bandeira, o verde-claro, o verde-escuro, o verde-folha… E aquele raio de verde-água sempre fica inteiro, sem paisagem ou objeto de cor correspondente, na nossa pobre paleta de cidade grande. Em Los Roques, entretanto, ele certamente é o primeiro que se acaba do estojo, apontado à exaustão, pelas crianças de vida mansa do mar do Caribe, que pintam a sua própria casa. Cayo d’Água é assim, um verde-água sincero, que magnetiza o olhar, e uma areia clara e fina que somente quebra sua continuidade pelas cadeiras e guarda-sóis dispostos ao longo da orla. De fato, não é preciso carregar esses itens a Los Roques. Obviamente, eles nem poderiam embarcar nos compactos aviões e, dessa forma, é de praxe que as lanchas também ofereçam essa comodidade. A cada casal ou grupo é cedido um guarda-sol e cadeiras em número suficiente. Assim que chegamos às praias, o piloto e ajudantes montam cada unidade, que são indispensáveis; em Cayo d’Água, por exemplo, não há lugares à sombra e o sol é impiedoso. A nós só nos cabe levar bebidas e lanches, já que não há absolutamente nada em Cayo d’Água, nem restaurantes, nem sequer habitações. Em cada hotel e pousada de Gran Roque, podemos pegar emprestado um cooler e, em qualquer vendinha, comprar um saco de gelo; é preciso encher o isopor de gelo para conservar as bebidas e levar bolachas ou outras porcarias, para matar a fome ao longo do dia. Quem nos deu a dica foi a própria Dona Carmen e, assim, nós já nos adiantamos na compra do lanchinho, no dia anterior ao passeio. Ele foi suficiente, já que jantaríamos mais decentemente de volta à Doña Carmen.

Cayo d'Água

Cayo d’Água

 

mar verde-água

mar verde-água

Em Cayo d’Água, deveríamos permanecer até as duas da tarde, quando a lancha nos pegaria novamente para irmos à outra ilha. Nesse tempo, mergulhamos nas águas translúcidas, tomamos sol, atiramos bolachas às milhares de gaivotas preto e branco que sobrevoam a praia e atravessamos um grande banco de areia até próximo de um farol, onde há muitas algas e corais ao longo da encosta.

banco de areia

banco de areia

 

indo ao farol de Cayo d'Água

indo ao farol de Cayo d’Água

Precisamente às duas horas, todo o grupo aguardava de volta ao ponto de chegada, com exceção de um casal. Eu me lembro de eles terem passado por nós e confirmado o horário de partida; entretanto, 45 minutos depois do combinado, eles foram encontrados, completamente “mamados”, caminhando pela ilha, pelo esbaforido e nervoso piloto. Nós até chegáramos a contornar a ilha de lancha na tentativa vã de encontrá-los, mas foi mesmo a pé que o guia chegou a eles. Em seguida, depois da decepcionante informação que, devido ao atraso, nós não poderíamos visitar a ilha das tartarugas, todos os outros ocupantes da lancha, cerca de mais 10 pessoas conosco, começamos a reclamar. Afinal, pagáramos pelo transporte a três ilhas e não a duas e não seria por causa de um casal irresponsável que perderíamos nosso tempo e dinheiro. Enquanto tudo acontecia, os dois, como crianças ajoelhadas no milho, não soltaram um pio. O piloto, por fim, cedeu aos pedidos e partiu para a ilha dos Mosquices, na qual observaríamos tartarugas. Nós não perdemos o dinheiro, mas pagamos um alto preço pela pressa do condutor da lancha. Realmente, eu não tenho certeza se foi apenas a pura necessidade de compensar o tempo perdido ou simples capricho, mas o piloto pareceu tentar quebrar seu próprio recorde de velocidade e voou literalmente sobre as águas; a lancha ia tão rapidamente que nos assustava ao chocar-se contra as ondas, produzindo pulos sequenciais sobre o mar e caindo, em seguida, violentamente sobre ele, que parecia adquirir a rudeza de pedra. A cada salto, nós tínhamos que nos segurar fortemente para não cair da embarcação e eu agradecia a Deus por ser mulher, pois aquilo deveria ser uma provação aos testículos; a capota sobre nós protegia do sol, mas não evitou que o balanço vertiginoso da viagem nos encharcasse a todos! Eu engolia água salgada e lutava para que meus olhos ardidos se mantivessem abertos. O vento parecia um tapa na cara e todos tivemos que segurar bonés e viseiras. Uma mulher começou a chorar e o marido pediu, sem resultado, que o piloto diminuísse a rapidez do barco. Certamente, ele deveria saber o que estava fazendo, pois não colocaria a todos e a ele mesmo em risco de um grave acidente, mas confesso que aquele trajeto não foi nada confortável.

Chegando à ilha dos Mosquices, o casal envergonhado de sua própria atitude e numa tentativa de redenção, pagou o ingresso de todo mundo, 10 bolívares para cada pessoa. Como dinheiro costuma resolver grande parte dos problemas, sorrimos e fingimos que nada tinha acontecido. O tempo ali foi abreviado, mas mesmo assim, conseguimos apreciar os diversos tanques cheios de diferentes tartarugas e ouvir uma breve palestra de um dos pesquisadores da Fundación Científica Los Roques. Na ilha, só havia essa construção e seus usuários, responsáveis pelo estudo e preservação de diversas espécies de tartarugas; grandes, pequeninas, pretas e até albinas. Foi bem interessante!

tartarugas

tartarugas

Finalmente, com um pouco mais de calma, nos encaminhamos à terceira e última parada do dia, a ilha Ezpenqui. À semelhança de Cayo d’Água, Ezpenqui é uma beleza! Areias brancas e um calmo mar verde-água.

Ezpenqui

Ezpenqui

Ali, não chegaram a descer as cadeiras ou montar os guarda-sóis; nós somente nadamos e eu peguei em uma estrela do mar viva. Em pouco tempo, já estávamos de volta a Gran Roque, felizes e relaxados.

Na pousada da Dona Carmen, o banho era frio e o chuveiro nem crivo tinha; a água saia diretamente de um cano. Coincidentemente, assim como no quarto em Salto Ángel, nosso banheiro ali também alagava, o ralo era do tamanho de uma válvula de pia. Esses foram pequenos inconvenientes que não chegaram a estragar o passeio, mas certamente nos faziam pensar. Descobrimos que, na grande maioria dos hotéis, não há mesmo água quente, salvo nos mais chiques e caros. Mesmo assim, o gasto com a estadia nas ilhas é relativamente alto e significativo; assim, por qual motivo a maior parte dos hotéis não investe em melhorias, como reforma nos banheiros ou a instalação de Internet sem fio? Chegamos à conclusão que, apesar de haver 66 opções de pousadas e, consequentemente, um grande números de quartos em Los Roques, supostamente concorrentes, não há crise no arquipélago. É raro uma temporada na qual as pousadas passem sem hóspedes e, dessa maneira, ninguém precisa mexer no que está funcionando.

Enfim, nada diminuiu a beleza do tour e dormimos limpos e renovados.

Segundo dia:

Novamente, fomos ao cais de manhã, tomar uma lancha para a ilha Crazqui, outra escolha popular. Custou 100 bolívares para cada um.

Mais uma vez, um belíssimo exemplo da perfeita junção de praia e mar. Em Crazqui, há poucos e modestos restaurantes, cujo prato principal é o pescado. Almoçamos em um deles, por 80 bolívares, caminhamos e relaxamos sob os guarda-sóis. Eu achei um pouco exagerado o tempo que nos deixaram nessa ilha, quase cinco horas, pois não havia muito que se fazer, a não ser curtir a paisagem e brincar com os muitos cachorros que vivem sortudamente por ali. Descobrimos que a mesma lancha ia e voltava de Gran Roque para as diversas ilha da região várias vezes por dia para, dessa forma, otimizar ao máximo os lucros com o transporte.

Crazqui

Crazqui

 

Crazqui

Crazqui

 

Crazqui

Crazqui

Mesmo assim, à tarde, de volta ao povoado, tivemos tempo de subir até o farol, a fim de pegar o pôr do sol. Há uma trilha de pedras pouco íngreme, que cansa muito menos do que tudo o que eu já tinha feito até então. Podia dizer, finalmente, que meu joelho, exigido tantas vezes anteriormente por difíceis caminhadas, melhorara e, assim, nada mais me atrapalhava.

O farol é desativado e está em péssimas condições. Entretanto, o que vale ali é a vista. Podemos enxergar todo o povoado, as ilhas próximas, uns lagos, o aeroporto e os diversos barcos cruzando a bela aquarela verde-água. O pôr do sol é lindo e compensa a subida.

vista do farol

vista do farol

Um simpático casal de argentinos, que já tinha nos acompanhado aos passeios das ilhas, aproveitava o momento para seu ritual de chimarrão e outros turistas também se deleitavam com o panorama.

À noite, andamos um pouco pelas redondezas e talvez, se encontrássemos, até arriscaríamos alguma opção de “balada”, mas Los Roques é predominantemente um destino de casais e famílias. Havia uma boate meio estranha que preferimos não entrar e um bar bem ao lado do nosso quarto que tocava música venezuelana e até um horroroso Roberto Carlos em espanhol, em excessivos decibéis. Eu desistira e já estava na cama quando Michael veio me chamar, dizendo ter passado por um bar mais moderninho que tocava uma boa música pop, bem ao lado do cais. Fomos até ele e, de fato, o ambiente era até bem bonito mesmo. Durante a noite, o bar dispõe pufes, sofás e almofadões sobre a areia, de frente para o mar, acende tochas e velas e cria uma atmosfera de luau. Muitos estrangeiros bebiam, cantavam e dançavam ao ritmo das músicas e faixas coloridas de laser enfeitavam o ar. Ficamos um pouco, e eu voltei primeiro ao quarto.

Terceiro dia:

O tour do dia, no mesmo esquema dos outros, começou pela paradisíaca ilha de Francizqui, a aproximadamente 20 minutos de Gran Roque. Os trajetos de lancha desse passeio, assim como o do dia anterior, foram calmos e sem lances dramáticos. Cayo d’Água é a praia mais distante do cais de Gran Roque e, portanto, para ela há a necessidade das lanchas de alta velocidade. Para as outras, é só aproveitar o momento. O preço do transporte para Francizqui e ainda para uma segunda ilha chamada Madrizqui foi novamente de 100 bolívares para cada um.

Francizqui é provavelmente ainda mais linda do que as outras praias que já tínhamos visitado! Dezenas de bancos de areia, espalhados por toda a orla, criam incríveis piscinas naturais de profundidades diversas, que dão ao mar um colorido todo especial; nas partes mais rasas, nos admiramos com a transparência e a limpeza da água sobre a areia branquinha e, nas áreas mais profundas, pelo reflexo da luz solar, os tons de verde e azul ganham mais força. Ao longo da costa, algas também contribuem para dar ao mar uma tonalidade mais escura. Toda essa efervescência de cores no mesmo oceano não acontece num degrade, mas numa deliciosa mistura que atrai o olhar. Os bancos de areia se estendem a uma boa distância para dentro do mar e é possível se estar caminhando sobre um deles quando, exatamente ao lado, um azul mais profundo denuncia que a água nem chega mais a dar pé; mais adiante, outro banco de areia, ou outra parte menos profunda, de cor verde-água, e assim por diante, até que, finalmente, se ganha o alto mar e o azul marinho toma conta. Esse oceano nada monocromático é a praia de Francizqui! As outras ilhas do arquipélago, que nós visitamos, são igualmente lindas, com seus mares de verde-água caribenho; porém elas não possuem tantos bancos de areia quanto Francizqui e, dessa forma, não exibem uma tão marcante mescla de cores.

Francizqui

Francizqui

 

Francizqui

Francizqui

 

cores!

cores!

Ali, o mar também é calmo e propício ao descanso. Nós caminhamos, tiramos fotos, almoçamos bolachas do cooler e vimos centenas de gaivotas oportunistas atacarem os restos do almoço de um grupo ao lado. Há um restaurante nessa ilha, mas ainda assim, podemos levar nossos isopores e as cadeiras e guarda-sóis são montados na praia. Há muitos cães, inclusive nadando livremente no mar, e o enorme número de gaivotas só se equipara aos muitos e belos iates e lanchas ancorados. Os chiques iates são, normalmente, propriedade de venezuelanos endinheirados, mas há também os que podem ser alugados e geralmente o são por estrangeiros, da mesma maneira, bem abonados.

lindos iates

lindos iates

 

as ladras!

as ladras!

Outra prática comum na ilha é o snorkel. Em Gran Roque, perto do aeroporto, há uma lojinha que aluga o equipamento necessário, como máscaras e pés de pato.

De Francizqui, partimos para Madrizqui, a uns 10 minutos de distância e mesmo tempo de Gran Roque. Em Madrizqui, há algumas casas de veraneio e o mar é mais aberto. Ainda assim, é tranquilo e bom para o nado. Não há tantas cores como em Francizqui, mas assim como nas outras ilhas, é mais a predominância do velho e lindo verde-água contrastando com o azul marinho na área mais profunda. Milhares de pelicanos sobrevoam a praia e pousam em antigas estruturas de píeres. É um lugar muito bonito! Fácil entender como Los Roques é uma notória escolha entre os recém-casados.

pelicanos em Madrizqui

pelicanos em Madrizqui

 

Madrizqui

Madrizqui

De volta ao povoado, eu ainda passeei e vi a lua cheia embelezar o céu. A noite só não foi tão linda pro Michel que, acometido de uma terrível crise de gastrite, até acordou o farmacêutico para buscar algum alívio.

Último dia:

No dia 4 de junho, deixamos Los Roques pela manhã e, por volta das 11h30min, já estávamos novamente no aeroporto em Caracas. No final das contas, estávamos na mesma situação na qual deixáramos a capital, dias antes, sem saber para onde ir e sem indicações de hotéis. Ainda em Los Roques, nós tentáramos encontrar alguma opção de estadia em Caracas, na lanhouse do povoado. Porém, a conexão era péssima e, durante 15 minutos desperdiçados, somente conseguimos acessar um site sem conseguir enxergar os resultados; resolvemos parar, pois os computadores estavam tão lentos que só perderíamos nosso dinheiro. Chegamos, inclusive, até a brigar com a atendente que queria cobrar por mais tempo; discutimos e pagamos os minutos usados, ainda que tivessem sido completamente inúteis. Da mesma maneira, a pousada Doña Carmen não tinha Internet e, assim, não conseguíramos reservar nenhum quarto em Caracas. Na saída do desembarque, no aeroporto, também tentamos sem sucesso acessar o WIFI. Então, simplesmente, decidimos arriscar e procurar na cidade, assim como fizéramos antes de ir ao arquipélago de Los Roques.

Ilhas Como?
1º dia Viagem de avião de Caracas até o arquipélago. Ilha Gran Roque. Descanso Viagens de lancha partindo do cais na ilha principal de Gran Roque (onde há o aeroporto e as pousadas)
2º dia Cayo d’Água/ Mosquices (ilha das tartarugas)/ Ezpenqui
3º dia Ilha de Crazqui
4º dia Francizqui/ Madrizqui
5º dia Gran Roque. Retorno a Caracas

Na volta de Los Roques, já no aeroporto de Caracas, na vizinha cidade de Maiquetía, nós resolvemos tomar um ônibus e ir ao centro da capital, buscar hotéis para nos hospedar. Próximo à área do desembarque, há o Transporte para Caracas, ônibus que saem a cada hora e têm várias paradas na cidade. São 25 bolívares de passagem, bem menos que o táxi.

Por sorte, conversando com um venezuelano dentro do ônibus, que estava em Caracas a negócios, recebemos a recomendação de um hotel de preço acessível e bem localizado. Na verdade, ele mesmo estava a caminho de lá e ofereceu que o seguíssemos. Gentilmente, ele até telefonou para o hotel, confirmando vagas. Paramos com o ônibus no ponto final, mas ainda tivemos que pegar um táxi ao hotel Altamira Sur (Av. José Félix Sosa – Altamira Sur, Caracas 1060 (a una cuadra del metro y cerca del Teatro Altamira)). De fato, ele era tudo o que prometia; simples, porém limpo, confortável, situado em uma nobre área da capital venezuelana e de preço razoável, 300 bolívares pelo quarto duplo. É um prédio alto e da pequena varanda do quarto, pode-se avistar os edifícios envidraçados da grande e movimentada avenida próxima, a Avenida Sur Altamira; é uma região de muitas agências bancárias, embaixadas, prédios comerciais, restaurantes, empresas e forte comércio. Nas transversais da avenida, havia hotéis, bons edifícios residenciais e também muitas lojas. Apesar de a área ser predominantemente de um padrão melhor, também encontramos algumas ruas sujas e habitações mais precárias; mesmo assim, nós não nos sentimos inseguros de caminhar por lá.

Chegamos por volta de três da tarde ao hotel, nos instalamos, almoçamos num Burguer King das redondezas e decidimos ir até a rodoviária, garantir passagens para Mérida, nossa última parada na Venezuela. Do Altamira Sur, caminhamos menos de cinco minutos até a estação de metrô, de mesmo nome da avenida. Fomos até a Plaza Venezuela, fizemos baldeação e nos encaminhamos à estação La Bandera, perto da rodoviária. No terminal de ônibus, descobrimos a regra totalmente ridícula e sem sentido que rege todas as empresas locais: nenhuma vende passagens antecipadas, mas somente para o mesmo dia de embarque. Entretanto, é possível chegar na hora e não haver lugares vagos nos ônibus. Então, é totalmente incoerente. Resolvemos retornar no dia seguinte bem cedo e comprar os bilhetes para a mesma noite. Retornamos ao hotel, cerca de cinco horas da tarde, com o prejuízo de três bolívares pela ida e volta desnecessárias à rodoviária. Ainda fizemos umas comprinhas de coisas pra lanche e café da manhã em um supermercado próximo e passamos o resto do dia na Internet que, diga-se, não pega no quarto, mas somente na recepção do hotel. À noite, tomei meu primeiro banho verdadeiramente pelando da Venezuela, do jeitinho que eu gosto, proporcionado pelo ótimo sistema de aquecimento a gás do Altamira Sur e foi tão bom que eu nem me importei com o minúsculo Box de anoréxico. Comi uma manga maravilhosa na cama, assistindo à TV a cabo, “Law and Order SVU” legendado em espanhol… Pequenos prazeres…

Logo cedo, no dia seguinte, rumamos novamente à rodoviária para comprar as passagens de ônibus para Mérida. Nos terminais da Venezuela, entramos em contato pela primeira vez com uma profissão muito incomum e curiosa, os “voceadores de tickets”. Já que os bilhetes são vendidos na rodoviária, na oportunidade do momento e para embarque já nas próximas horas, os voceadores, numa gritaria de feira de domingo em São Paulo (pra quem se lembra de como era antes da lei do silêncio!), ficam anunciando as cidades de destino das viagens de seus próximos ônibus e disputando quase a tapas os potenciais clientes. Ao chegarmos, todos eles vieram nos cercando, como urubus na carniça, perguntando para onde queríamos ir e nos indicando os guichês de suas empresas. No ar, os berros em desordem de nomes e mais nomes de cidades, provocando um alvoroço geral. Compramos as passagens por 135 bolívares cada e logo saímos para aproveitar o dia na cidade. Eram quase dez horas da manhã.

Na mesma estação La Bandera, voltamos para a Plaza Venezuela e de lá, partimos para a estação Capitólio, onde descemos, bem no Centro Histórico de Caracas. Passeamos até quase duas da tarde e eu me admirei demais com a beleza e limpeza dessa parte da cidade. Iniciamos o tour passando pela Sede do Poder Legislativo de Caracas, uma belíssima mansão fortemente guardada por grades de ferro trabalhadas e guardinhas uniformizados.

Sede do Poder Legislativo de Caracas

Sede do Poder Legislativo de Caracas

 

Sede do Poder Legislativo

Sede do Poder Legislativo

Em seguida, a linda fachada do Teatro Ayacucho e de outros casarões finamente preservados nos distraem até a Praça Bolívar. Ali, novamente uma estátua do Libertador Simón Bolívar nos lembra de que ele tem seu posto assegurado como o maior herói nacional; em absolutamente toda a cidade venezuelana, sem exceções, há uma Plaza Bolívar homenageando o militar que levou seis países da América do Sul à independência do domínio espanhol. As praças, dependendo do tamanho da cidade, são mais ou menos grandiosas, mas estão sempre ali, rendendo sua admiração ao líder. Em Los Roques, por exemplo, condizendo com o diminuto povoado, Bolívar era somente um busto numa bucólica pracinha. Em Caracas, Bolívar surge enorme, em bronze, montado a cavalo, de capa esvoaçante e chapéu na mão, empinando o animal sobre as patas traseiras, num gestual forte e imponente. O monumento, inaugurado em 1874, é uma réplica da estátua que se encontra em Lima, no Peru, e está no meio da praça, entre chafarizes e jardins.

centro histórico

centro histórico

 

centro histórico

centro histórico

 

Plaza Bolívar

Plaza Bolívar

 

Bolívar

Bolívar

 

Plaza Bolívar

Plaza Bolívar

Ao redor da praça, há belos prédios públicos, a Catedral Metropolitana, onde são guardados os restos mortais da esposa e outros familiares de Bolívar; o Museu de Arte Sacra, que entramos por 15 bolívares e de onde se pode observar um sinistro calabouço de prisioneiros da Igreja, datado de 1713; e outras construções que valem a pena ceder alguns minutos para admirar. Nesse dia, havia um comício político na praça, de apoio ao então presidente Chávez e, por isso, muitos cidadãos empunhando bandeiras e fazendo discursos.

Catedral

Catedral

 

Museu de Arte Sacra

Museu de Arte Sacra

 

prédios públicos

prédios públicos

 

centro histórico

centro histórico

 

centro histórico

centro histórico

Caminhamos ainda até a Casa de Simón Bolívar e o Museu Bolivariano, que não ficam longe da praça. A primeira, uma reconstrução fiel da casa onde nasceu o Libertador, em julho de 1783; o museu, uma oportunidade para apreciar peças históricas, pinturas retratando o heroísmo de Simón Bolívar, móveis antigos e itens que cobriam os restos mortais de Bolívar, na ocasião de sua morte, como um manto e o caixão. Ambas as construções, belos e conservados exemplos da arquitetura colonial espanhola.

casa de Simón Bolívar

casa de Simón Bolívar

 

decoração na casa do Libertador

decoração na casa do Libertador

 

Museu Bolivariano - bandeira que cobriu o caixão do Libertador

Museu Bolivariano – bandeira que cobriu o caixão do Libertador

Das imediações da praça, caminhamos cerca de umas sete quadras até o Panteón Nacional, igreja do século XVIII que foi convertida em mausoléu e hoje conserva os restos mortais de Bolívar e de outras figuras ilustres. Só não pudemos entrar, pois ela estava fechada para reformas. É necessário que se observe também o horário de funcionamento das principais atrações do centro histórico, pois praticamente todas fecham cedo, às quatro da tarde.

Pantheon Nacional

Pantheon Nacional

O Centro Histórico de Caracas é bonito e contrasta com algumas áreas mais deterioradas e pobres da cidade. Entretanto, ao caminhar pelas ruas, não chegamos a nos sentir ameaçados. Caracas carrega uma horrível fama entre os viajantes; a maioria dos mochileiros que conversamos sobre a Venezuela afirmaram que não incluiriam o país nas suas viagens pela América do Sul, pois sentiam que o quesito segurança falhava. A japonesinha Shoko, por exemplo, chegou até a ir às principais atrações da natureza venezuelana, mas preferiu não se aventurar em Caracas, uma cidade grande. Soubemos de histórias horríveis sobre gringos que tiveram seus pertences afanados pela própria polícia corrupta venezuelana ou outros que sofreram furtos em hotéis. Michael soube de um europeu que, ao ser parado por um policial na área do centro histórico, abriu sua mochila para revista; o homem teria pegado o laptop do mochileiro e falado para ele ir embora, simplesmente; “E o meu computador?” – questionou o viajante. “Ele é meu agora…” – teria dito o policial… Bom, bastante assustador… Nós, ainda bem, não sofremos nada disso e não me arrependo da rápida passada por Caracas. As únicas precauções que tomamos foram deixar itens de valor a salvo no quarto do hotel e carregar pouco dinheiro.

Santa Capilla em Caracas

Santa Capilla em Caracas

 

Caracas

Caracas

 

pelo Centro Histórico

pelo Centro Histórico

Almoçamos em um shopping simplesinho perto da estação de metrô do Capitólio e, dali, nós pegamos o trem em direção ao Collegio de Inginieros, estação mais próxima do ponto onde há ônibus para o teleférico de Caracas. Tomamos um ônibus caindo aos pedaços de podre e, pelas 14h30min, estávamos comprando os ingressos para o Teleférico Warairarepano, por 45 bolívares. O teleférico de Caracas, inaugurado em 1955, foi fechado na década de 70 devido à deterioração de seu sistema. Já no ano 2000, privatizado e reformado com tecnologia suíça, reabriu suas portas. Em 2007, voltou às mãos do governo, devido ao não cumprimento de contrato e reassumiu o nome original e complicado de Warairarepano. O teleférico sobe 3,5 km a uma altura de 2150 m. O trajeto, dependendo do vento, leva mais ou menos 20 minutos e podemos enxergar toda cidade de Caracas, com seus inúmeros edifícios e montanhas. A sensação da subida causa vertigens, pois é realmente íngreme e muito alto! Às vezes, o carrinho balançava ao vento ou parava durante alguns segundos, com um abismo abaixo de nós! Dava um friozinho na barriga. Estávamos só nós dois no vagão e, enquanto eu tirava fotografias, Michael provavelmente rezava, pois a cara dele não parecia muito entusiasmada. Ao cruzar a avenida, o teleférico começa a subir a montanha e permanece sobre uma densa floresta verde até completar seu percurso total e chegar a um lindo parque no topo do morro. Lá, faz muito frio, embora esteja quente na cidade, e há até hortênsias, flores típicas de climas de inverno, ornando as calçadas. Na Plaza las Nubes, parece mesmo que chegamos ao céu, dá até para enxergar o mar. O parque é muito bonito, há pinheiros, muitas flores, uma boa estrutura para turismo, com restaurante, banheiros limpos e charmosos quiosques vendendo doces e chocolate quente. Há até uma pista de patinação no gelo que estava fechada. No parque, pode-se ainda subir mais um pouco, atingindo os 2250 metros acima do nível do mar. Nessa extremidade, encontra-se o Hotel Humboldt, prédio redondo e alto, frequentemente escondido pelas nuvens. Ali, um turista mais rico pode aproveitar o luxo cercado do clima das montanhas em plena capital da Venezuela.

teleférico

teleférico

 

subindo no teleférico de Caracas

subindo no teleférico de Caracas

 

3,5 km de percurso

3,5 km de percurso

 

Hotel Humboldt

Hotel Humboldt

Com pouco mais de uma hora de passeio, retornamos com um ônibus direto até a estação de metrô Museo Bellas Artes, de onde pegamos o trem para a estação Altamira, pertinho do hotel. Como em qualquer grande cidade da América do Sul, também vimos muito lixo e favelas pelos caminhos.

muito lixo fora do Centro Histórico

muito lixo fora do Centro Histórico

De volta ao hotel, arrumamos nossas mochilas e ficamos um pouco na recepção, usando a Net. Pedimos ao recepcionista que nos chamasse um táxi para a rodoviária. Nossa passagem para Mérida era às 7h30min da noite e, assim, quando chegaram seis horas e nada do táxi aparecer, resolvemos buscar uma alternativa. Isso nos atrapalhou muito, pois o taxista ficava repetindo, por telefone, ao recepcionista: “Mais 5 minutos, mais 5 minutos…”, cada vez que questionávamos onde estava o bendito do táxi e, então, acabamos perdendo tempo, cerca de uma hora, ali de bobeira. Precisamente às seis, pegamos um táxi na rua mesmo e rezamos para que desse tempo.

Caracas tem aproximadamente cinco milhões de habitantes e um trânsito moroso e engarrafado, especialmente naquele horário, de saída do trabalho. Nossa reza foi em vão; pagamos o taxista dentro do carro, voamos para pegar as mochilas e quase nem sei como chegamos tão rápido à plataforma, no andar superior. Mesmo assim, perdemos o ônibus, que pela primeira vez nas nossas viagens venezuelanas, saiu no horário! Nós nos atrasamos meia hora, tempo comum para os ônibus atrasarem na Venezuela, e bem nesse dia, ele respeitou o assinalado no bilhete! Uma pena! Não havia mais passagens para Mérida, em nenhuma companhia e, então, compramos para Vigia, cidade vizinha a Mérida, por 130 bolívares.

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