Jaisalmer

Jaisalmer

Jaisalmer é um dos destinos mais procurados no Rajastão por causa dos famosos safáris de camelos pelo Deserto de Thar (além das atrações da própria cidade). A cidade de Bikaner é uma alternativa menos assediada que Jaisalmer para o safári de camelo, mas como nosso pacote turístico tinha Jaisalmer para esse passeio, lá fomos nós. Era dia 23 de março de 2013.

Saímos de carro por volta de umas dez horas da manhã; estava muito quente e ensolarado e, por isso, me surpreendi com a chuvarada que me acordou, na estrada, pouco antes de chegarmos a Jaisalmer, a cerca de 330 km de distância de Bikaner. Apesar da distância, alcançamos a cidade somente às quatro da tarde, sob os efeitos do já mencionado temporal.

enchente

enchente

enchente

enchente

Chegar à cidade de modo independente – mais uma vez eu reforço – é um exercício de paciência – não recomendo de jeito nenhum. Não há transporte público, a não ser os tuk-tuks, para ir do ponto aonde o ônibus chega até os hotéis. Eu me lembrava de que cada vez que chegava à rodoviária de um país pobre da América do Sul, era rodeada de vendedores. Assim também ocorre na Índia, com o agravante de todos serem mais insistentes e dados a uma esfoladinha nos turistas – o assédio é demais! Sem mencionar que se demoramos muito indo de carro, imagine de ônibus intermunicipal…

Nós já havíamos parado para almoçar na estrada, em um desses restaurantes ridiculamente mais caros que nosso motorista Anil nos levava. Agora, posso indicar que não há a necessidade de se fazer isso; é possível esperar pela cidade, que possui boas opções de restaurantes bem mais em conta para almoçar ou jantar, perto do Forte de Jaisalmer. São aparentemente limpos e muito mais baratos, apesar de ainda bem turísticos. Infelizmente, não tínhamos noção do que esperar nas cidades e, então, com medo de passar fome mais tarde, sempre aceitávamos os restaurantes de estrada. Então, para Jaisalmer (e mesmo Bikaner), eu afirmo que é perfeitamente possível negar a oferta dos estabelecimentos da rodovia e esperar a chegada aos destinos, para comer.

Nosso hotel era fraquinho. Situado em uma casa de fachada bonita, como muitas em Jaisalmer, não refletia a mesma beleza ou conforto no interior.

nosso hotel

nosso hotel

De qualquer modo, não era isso que mais importava, mas sim a vista do terraço: o imponente Forte de Jaisalmer, que visitaríamos no dia seguinte.

vista do terraço, o forte da cidade

vista do terraço, o forte da cidade

Naquela tarde ainda, esperamos as gotas de chuva passarem e fomos dar uma volta pelas ruas.

Caminhamos pela vizinhança e nos surpreendemos com a beleza das fachadas de treliça, um trabalho lindo esculpido em arenito. De fato, um dos aspectos mais notáveis de Jaisalmer são as Havelis, ou mansões, construídas por ricos comerciantes e nobres, desde o início do século XIX. Elas são famosas exatamente por suas fachadas faustosas de arenito e a habilidade dos artesãos que as esculpiram nem sequer é superada pelo belo trabalho de mármore da complexa estrutura do Taj Mahal.

As Havelis de Jaisalmer são testemunhas de um tempo de bonança, quando o comércio com países vizinhos e próximos do oriente, como China e Afeganistão, enriquecia os mercadores indianos. Além do comércio, a posição estratégica de Jaisalmer permitia que a cidade cobrasse altas taxas das caravanas que passavam por seu território e que se utilizavam da rota comercial que ligava a Índia à Ásia Central; tradicionalmente, essa se configurou na principal fonte de renda da região, durante muito tempo. Posteriormente, o crescimento do transporte marítimo e a abertura do porto de Mumbai decretaram a falência da área. Além disso, a independência da Índia e sua divisão (parte da Índia se tornou território paquistanês), em 1947, acabaram com todas as rotas de comércio na fronteira indo-Paquistão, que incluía Jaisalmer, e toda a região decaiu. Pelo menos, a herança dos tempos de vacas gordas (literalmente) pode ser belamente apreciada na cidade, que exatamente por essa herança – as havelis e o forte –, investe agora maciçamente no turismo, como forma de trazer a bonança dos áureos tempos de volta.

As fachadas das mansões, muitas de até cinco andares, duravam gerações para serem finalizadas e exibem um trabalho meticuloso e extremamente pormenorizado, que ainda nos encanta. A influência arquitetônica é claramente islâmica (do período do império mogol na Índia).

Jaisalmer

Jaisalmer

detalhes das fachadas

detalhes das fachadas

detalhes das fachadas

detalhes das fachadas

detalhes das fachadas

detalhes das fachadas

detalhes das fachadas

detalhes das fachadas

Atualmente, há, porém, como em toda a Índia, uma sujeira persistente e vil pelas ruas, que chega a entristecer; são sacos de lixo, placas de propagandas sobre as treliças esculpidas em arenito, fios de eletricidade por todos os lados e pinturas modernas que acabam com as fachadas. A impressão de decadência é forte e o que se nota é um processo de favelização dessas havelis, pelo menos das que se encontram fora das muralhas do forte e não são abertas ao público (são casas particulares). Uma pena para tão maravilhoso trabalho. As poucas mansões que se mantêm em pé – fora do forte da cidade – dividem hoje espaço com as casas mais recentes, de arquitetura bastante modesta.

ruas de Jaisalmer

ruas de Jaisalmer

ruas de Jaisalmer

ruas de Jaisalmer

Jaisalmer

Jaisalmer

ruas de Jaisalmer

ruas de Jaisalmer

sujeira...

sujeira…

ruas de Jaisalmer

ruas de Jaisalmer

arquitetura mais contemporânea

arquitetura mais contemporânea

As mansões de Jaisalmer e também as construções atuais são erigidas em um tom de marrom claro – cor do arenito (yellow sandstone) e dos tijolos modernos. Isso deu à localidade a alcunha de “A cidade dourada do Rajastão” (o termo “Jaisalmer” significa “o forte da colina de Jaisal”.). O apelido é muito mais impressionante do que a aparência geral de Jaisalmer, mas tudo bem… O que impressiona mesmo são os muros da fortaleza da cidade, que se erguem imponentemente sobre uma colina, dando a Jaisalmer a típica geografia de uma cidade bélica indiana. É realmente bonito e o mais relevante da área. As havelis obviamente têm seu charme e junto do forte fazem a visita a Jaisalmer realmente valer a pena.

a Cidade Dourada do Rajastão

a Cidade Dourada do Rajastão

Ainda sobre a fachada de muitas casas, além do admirável trabalho entrelaçado de arenito, observamos algo interessante. Na maioria das casas, pinturas com a imagem do deus Ganesha indicam a fé hinduísta de grande parte da população. Ganesa é um dos deuses mais cultuados pelas tradições hindus, na Índia. Ele é uma figura antropomórfica, formada de um corpo humano com uma cabeça de elefante.

Lord Ganesh

Lord Ganesh

Mitologicamente, há algumas versões para o surgimento do deus, mas uma das mais populares discorre que Ganesha surgiu nas seguintes circunstâncias: quando a deusa Parvati quis um dia tomar um banho, observou que não havia nenhum guarda à porta de sua casa para protegê-la de um eventual intruso. Assim, a deusa tomou da pasta que usaria para lavar seu corpo e criou um menino que ficasse de prontidão, durante seu momento relax, para avisá-la sobre qualquer movimento suspeito. A deusa infundiu vida ao boneco e Ganesha nasceu. Ganesa obedeceria à “mãe” estrita e devotadamente e jamais deixaria entrar qualquer um que fosse, na casa, durante a ausência de Parvati. Ocorre que o dono da morada e marido de Parvati, Shiva, voltou da floresta e demandou sua entrada de direito no dito recinto. Sem desobedecer à mãe, Ganesha barrou o ingresso do deus ao interior, enfurecendo-o. Sem reconhecer um garoto estranho que ainda mais o desafiava, Shiva usou seu tridente e decepou a cabeça do pobre infante, numa batalha feroz. Quando Parvati saiu do seu banho de beleza e viu o corpo do filhote sem vida, surtou e ordenou delicadamente, como a uma boa esposa convém, que Shiva devolvesse a vida ao menininho. Como ela deve ter pedido com calma, Shiva fez de tudo para obedecer, mas, sem conseguir encontrar a cabeça original do garoto, deu-lhe um cabeção de elefante. Ganesha tornou-se, então, um deus popular e o significado de sua forma ganhou matizes interessantes.

As duas grandes orelhas servem para escutar o ensinamento, primeiro passo para um autoconhecimento; indicam sabedoria, habilidade para ouvir antes de agir (Ganesha ouviu muito, tanto que não desobedeceria às ordens da mãe, por nada no mundo!). O segundo passo é refletir sobre os ensinamentos ouvidos e, por isso, a cabeça agigantada, que também indica fidelidade e inteligência. A tromba representa a capacidade de escolha, o poder discriminatório, já que ela consegue segurar objetos de qualquer tamanho – pode pegar um pequeno ou um grande. A faculdade de discriminação do real e do irreal também é dada pela tromba. As presas ilustram os pares de opostos, ainda como exposição acerca das escolhas da vida, já que ao homem sempre são dadas, pelo menos, duas escolhas (o elefante tem duas presas, assim como à mente sempre se propõem duas escolhas: o bem e o mal). Ganesha tem uma das presas quebradas, para lembrar a todos de que não devemos ser afetados pelos opostos e controlar nossas escolhas, superando todas as formas de dualismo. Às vezes, a presa remanescente aparece como uma caneta, indicando que o deus escreveu os textos vêdas.

Ganesha representa força, prosperidade; o machado em uma das mãos corta e o laço amarra os obstáculos (a machadinha é também para levar o homem para o caminho da verdade e da retidão). Seus devotos, chamados de ganapatyas, o invocam sempre que passam por momentos de dificuldades ou na ocasião da abertura de empresas. Na fachada das casas, serve como proteção e atração de progresso. Ele é o “destruidor de obstáculos” e símbolo das soluções lógicas para todos os problemas. Junto de Lakshmi (a deusa da abundância), Ganesha é adorado pelos mercadores, comerciantes e homens de negócio.

A barriga do deus simboliza a ingestão de todo o conhecimento e, por conseguinte, representa todos os universos. Ganesha diz que aquele que é sábio digere lenta e moderadamente o conhecimento que adquire. Com sua barriga, o deus suga os sofrimentos e protege o mundo.

Os quatro braços de Ganesha representam o ego (ahamkara), a memória ou consciência condicionada (chita), a mente (manas) e o intelecto (buddhi, que também é o nome da esposa de Ganesha). O Senhor Ganesha representa a pura consciência – o Atman – que permite que estes quatro atributos funcionem em nós.

O deus jamais pode ser representado com apenas duas mãos, algo considerado um tabu para os indianos crentes, mas pode ter mais de quatro braços, com cada mão segurando um objeto simbólico: o machado; um chicote, símbolo da força que leva o devoto para a eterna beatitude de Deus (o chicote nos fala que os apegos mundanos e desejos devem ser deixados de lado); a flor de lótus, símbolo do mais alto objetivo da evolução humana, a realização do seu verdadeiro eu, e outros. Uma das mãos, a que está em direção ao devoto, está em uma pose de bênçãos, refúgio e proteção (abhaya).

Ganesha - simbolismo (reprodução de imagem da Internet)

Ganesha – simbolismo (reprodução de imagem da Internet)

Os doces – bolinhas amarelas, chamadas de prasad ou modaka – simbolizam as alegrias que os homens têm no seu caminho do autoconhecimento e, assim como queremos mais doce, sempre devemos persistir na busca do conhecimento. O caminho não deve ser sofrido, como o carregar de uma cruz, mas o caminho para a liberdade e conhecimento deve ser doce e apreciativo.

doces vendidos nas ruas em Jaisalmer

doces vendidos nas ruas em Jaisalmer

Para os ratos (mushikas), há algumas interpretações: para uns, eles representam os desejos e o ego; ambiciosos, os ratos devoram tudo, comem sem limites, escondem excessos em buracos e são analogicamente comparados às mentes que jamais se saciam, às mentes individualistas e egoístas. Por isso, os roedores estão ao pé do Ganesha, pedindo ao deus a autorização de terem prazer com os doces, indicando que o sábio é aquele que tem seus desejos sob controle, aos seus pés. O rato está subordinado à faculdade superior do intelecto, à mente sob estrita supervisão; é o animal que olha fixamente para Ganesha e não se aproxima da comida sem sua permissão. Diferentemente de qualquer elefante, Ganesha não tem medo dos ratos, mas os têm sob seu controle, como um homem não deve temer seus desejos, mas dominá-los.

Os ratos também vivem clandestinamente nos esgotos, fora da luz do conhecimento, representando a ignorância. Apesar de viverem apartados, o rato é tido como o veículo de Ganesha. Então, também compreendidos como o “carro” do deus (seu transporte (vahana)), Ganesha indica que os ratos podem ensinar a estarmos alertas e buscar o conhecimento; o rato pode levar à luz, ao invés de se esconder dela nas trevas (o rato pode escolher sair da escuridão, quando transporta Ganesha). Nesse sentido, eles podem também representar sabedoria, inteligência e talento, a investigação detalhista de um assunto difícil. Ganesha, guiando sobre o rato, se torna o mestre (e não o escravo) de tendências ignóbeis, ignorantes, egoístas e individualistas, indicando o poder que o intelecto e as faculdades discriminatórias têm sobre a mente.

O rato normalmente é reproduzido como pequeno em relação ao deus, em contraste com as representações dos veículos de outras divindades. Porém, já foi tradicional na arte Maharashtriana representar Mushika como um rato muito grande e Ganesha estando montado nele, como se fosse um cavalo.

Ganesha tem um pé no chão e outro no ar. A metáfora é que o sábio vive no mundo como qualquer outra pessoa. O pé no chão é a parte que esta lidando com o mundo material e o pé que está no ar simboliza a conexão com o Ser, com a espiritualidade. O sábio é aquele que vive no mundo sem perder a visão do Todo (viver no mundo sem ser do mundo). O termo memória de elefante é isso, ele jamais se esquece da sua verdadeira natureza.

Uma curiosidade é que no dia do aniversário de Ganesha, é proibido olhar para a lua. O simbolismo por trás disso é que um dia Ganesha estava cavalgando o seu ratinho por aí. A lua viu e caiu na risada ao ver um garoto grande com cabeça de elefante carregado por um pequenino ratinho. Assim, os deuses castigaram a lua pelo deslize; desde então, não se pode olhar para ela no dia de Ganesha.

A lua preside a mente. Isso simboliza o ignorante sorrindo do sábio. O sábio tem uma sabedoria infinita em um corpo finito. Muitas pessoas não entendem as ações do sábio e as suas palavras. No dia do nascimento de Ganesha, deve-se olhar para o Ser. O aniversário de Ganesha simboliza o nascimento do sábio, aquele que se reconheceu como o Ser.

Bem, andar pelas ruas de Jaisalmer e ver as mansões é se deleitar com essa cultura ímpar e tão estranha a nós. Nas fotos, algumas pinturas das fachadas.

Ganesha

Ganesha

Ganesha

Ganesha

Ganesha

Ganesha

Ganesha

Ganesha

Ganesha

Ganesha

Dentro do forte de Jaisalmer, as havelis são bem mais conservadas e muito maiores do que as que restaram pelas ruas na parte baixa da cidade.

Uma das mais famosas havelis de dentro das muralhas é a Nathmal Ji ki Haveli, do século XIX. A história conta que, um dia, dois irmãos artesãos decidiram competir para ver quem esculpiria a fachada mais bonita, valendo um prêmio cobiçado. Dividiram, assim, os lados da frente da casa e cada um foi testar suas habilidades. O resultado foi uma fachada com as metades levemente diferentes uma da outra, mas com uma harmonia arquitetônica encantadora. Referências da arte rajput e islâmica podem ser observadas. Atualmente, a mansão funciona como loja de objetos de decoração e ainda pertence à família do Primeiro-Ministro de Jaisalmer Diwan Mohata Nathmal, o homem que patrocinou a competição e morou na casa. É possível entrar em outros andares da haveli por 40 rúpias e ela abre às oito horas da manhã e fecha às sete da noite, no verão.

Nathmal Ji ki Haveli

Nathmal Ji ki Haveli

Outra bonita mansão e uma das maiores da cidade é a Patwon ki Haveli, um conjunto de cinco pequenas havelis. Iniciada por Guman Chand Patwa, um rico banqueiro, Patwon ki Haveli levou quase 55 anos para ser construída e foi concluída por seus filhos.

Patwon-Ki-Haveli (reprodução de foto da Internet)

Patwon-Ki-Haveli (reprodução de foto da Internet)

A haveli é mergulhada em uma sombra encantadora de ouro e chama imediatamente a atenção para a complexidade da sua arquitetura. Ela é mais famosa por suas pinturas refinadas nas paredes, belas jharokhas (varandas), arcadas e portões. Uma caminhada através da haveli não deve demorar mais de uma hora e isso pode ser feito pelo preço de 30 rúpias por pessoa. A mansão também abre às oito da manhã e fecha às sete da noite, durante o verão, e diminui o horário no inverno, fechando às seis da tarde.

A Salim Singh ki Haveli é outra pérola (essa está fora das muralhas, mas bem perto). Construída por Salim Singh, que era o primeiro-ministro de Jaisalmer quando a cidade era a capital do estado principesco, a mansão se sustenta em quase 300 anos de história. A haveli ostenta um belo telhado, arqueado na forma de um pavão. Uma parte da casa ainda está atualmente ocupada, mas por 20 rúpias, a visitação é feita em quase todos os cômodos. O horário é o mesmo que as outras.

Salim Singh ki Haveli

Salim Singh ki Haveli

detalhes da Salim Singh ki Haveli

detalhes da Salim Singh ki Haveli

Outras mansões bem conservadas da região estão às margens do lago de Jaisalmer, que nós não chegamos a ver, próximo à cidade. Na verdade, o Gadi Sagar é um lago artificial do século XIV, construído em 1367 precisamente, que forneceu água à região até 1965. Devido à sua importância, ele é rodeado por muitos pequenos templos e santuários, além das casas em arenito. O lago, que foi justamente concebido pelo marajá Gadsi Singh Ji para armazenar água, quase seca antes da monção, mas, quando está cheio, muitas agências levam os turistas até ele. Os passeios de barco variam de 50 a 100 rúpias, por 30 minutos.

lago (reprodução de foto da Internet)

lago (reprodução de foto da Internet)

gadisar lago de Jaisalmer (reprodução de foto da Internet)

gadisar lago de Jaisalmer (reprodução de foto da Internet)

templo no lago, com o forte ao fundo

templo no lago, com o forte ao fundo

Na nossa primeira tarde em Jaisalmer, tínhamos, então, andado pelas ruas e visto as casas e, no final do dia, também já acabamos indo ao forte, que era bem próximo do nosso hotel. A intensão era ver as construções à noite e também com a luz do sol, na próxima manhã.

No forte, há um bom restaurante chamado “Tibet”. Jantamos algo e eu tomei o maravilhoso Lassi (bebida a base de iogurte natural adocicada) novamente, tão bom quanto em Deli.

vista do forte

vista do forte

vista do forte

vista do forte

vista do forte

vista do forte

à noite

à noite

No dia seguinte, levantamos cedo. Tomamos o café meia boca no topo do hotel e saímos para passear. Fomos novamente até o Forte de Jaisalmer (também chamado de Sonar Qila).

O Forte de Jaisalmer evoca todo o misticismo envolvido na vida indiana do deserto, permeado pelas rotas comerciais chamadas de “Os Caminhos das Índias”. Ele compreende a área de Jaisalmer chamada de Old Town. São 5 km de muralhas aos 80 metros de altura.

forte

forte

Dentro dele, diferentemente de outros fortes turísticos indianos, hoje em dia, há muitas havelis bem conservadas (mencionadas acima), lojinhas, museus, hotéis lindíssimos e restaurantes, além de casas mais simples, que serpenteiam ruelas com ar de mistério! Ele funciona não somente para os turistas, mas para a vida comum de seus cerca de três mil habitantes. Diz-se que por causa da guerra com o Paquistão, até há bem pouco tempo, nos anos 60, toda a cidade se concentrava dentro da fortaleza. As mansões fora de seus muros haviam sido abandonadas e a vida se protegia no interior dos espessos muros de pedra. Somente depois, a cidade voltou a crescer para fora, como está atualmente, embora ainda seja bem pequena (cerca de 80 mil habitantes apenas). Atualmente, ainda como triste legado dos imbróglios com o país vizinho, Jaisalmer mantém uma posição estratégica importante do ponto de vista militar e, por isso, possui bases do exército, fora, porém, da fortaleza.

Então, dentro das muralhas do forte, em plena atividade, ainda há casas e as tais lojas, hotéis caros com típica decoração indiana (e para os quais não há falta de água, problema que costuma atingir o restante pobre da população), restaurantes e também alguns templos religiosos.

O Forte de Jaisalmer foi construído há cerca de 900 anos, em 1156 d.C., ano que data também a fundação da cidade. Seu fundador foi um líder do clã Bhati Rajput, chamado Jaisal. Os Bhatis, que traçam a sua linhagem até Krishna, governaram a região até a independência da Índia, em 1947, mesmo quando a dominação britânica já estava há muito consolidada no país. A construção do forte foi um momento visionário do líder, que já entendia que a importância da região era inegável. A cidade de Jaisalmer foi, aos poucos, pela necessidade de atenção aos guerreiros que estavam na fortaleza, crescendo no interior das muralhas. O forte também foi reforçado por muitos governantes posteriores.

37 - forte

forte

forte

forte

forte

forte

forte

Os primeiros séculos de Jaisalmer foram tempestuosos, em parte porque seus governantes confiavam nos saques a outras cidades como renda principal da cidade. O forte foi, por isso, palco de inúmeras batalhas desde sua fundação.

Por volta do século XVI, no entanto, Jaisalmer estava prosperando, devido às já mencionadas taxas cobradas pela passagem de caravanas estrangeiras nas rotas comerciais da região, assim como pelo comércio com países da Ásia Central. A cidade eventualmente estabeleceu relações cordiais com o império Mogol; o líder Maharawal Sabal Singh, em meados do século XVII, ampliou o principado de Jaisalmer a grandes extensões, anexando áreas que agora se inserem nos distritos administrativos de Bikaner e Jodhpur. Nesse momento, a cidade já crescia bastante também fora das muralhas do forte.

Sob o domínio britânico, o aumento do comércio marítimo (especialmente através de Mumbai) e o número crescente de ferrovias viram a importância e a população de Jaisalmer declinarem e a partição, em 1947, com o corte das rotas comerciais para o Paquistão, aparentemente selaram o destino da cidade, que declinou consideravelmente. As guerras de 1965 e 1971, entre Índia e Paquistão, fizeram Jaisalmer encolher e detiveram seus habitantes dentro da fortaleza.

Por outro lado, as mesmas guerras deram a Jaisalmer nova importância estratégica e, em 1960, o canal Indira Gandhi revitalizou a região com o abastecimento de água para o deserto; Jaisalmer pôde, assim, voltar a crescer. Hoje o turismo e muitas instalações militares são os pilares da economia da cidade.

Atualmente, o forte passa por vários trabalhos de restauração para atender exatamente a demanda turística e as necessidades de seus três mil habitantes internos. Reformas para inserção de hotéis luxuosos estão sempre acontecendo e, apesar, de todas as intempéries pelas quais a estrutura já passou, ao longo dos séculos, com batalhas entre os Bathis, mongóis de Déli e os Rathores de Jodhpur, além das guerras recentes, suas havelis e templos mantêm-se firmemente erguidos. Da mesma maneira, ele ainda possui os 99 bastiões originais, dos quais soldados observavam as terras de longe.

restauração nas muralhas do forte

restauração nas muralhas do forte

bastiões

bastiões

No forte, nós entramos em três do total de sete Templos Religiosos Jainistas magníficos (Jain trust). O ingresso é de 150 rúpias e é possível tirar fotografias.

ingresso aos templos jainas em Jaisalmer

ingresso aos templos jainas em Jaisalmer

O jainismo é uma das religiões mais importantes da Índia e antes de visitar o país, eu nunca tinha ouvido falar nela. Depois de pesquisar um pouco, fiquei maravilhada com a fé, que aos nossos olhos ocidentais, é bastante distinta e pode parecer até absurda. O jainismo prega, acima de tudo, uma vida simples, voltada para a espiritualidade, e o princípio da não violência é cultuado por todas as vertentes da religião. A filosofia teve suas crenças amalgamadas no século V a.C. por um profeta conhecido como Mahavira, que, assim como seu contemporâneo Buda, se opunha aos cultos ritualistas e à divisão de castas da religião hindu dominante. No jainismo, não há a necessidade da presença de um deus absoluto, criador e mantenedor do universo, encarado como um ser superior; para a fé, não há seres superiores, mas seres puros, que conseguiram atingir, por meio de seus atos, um grau de perfeição espiritual e alcançaram, assim, a salvação; seres que podem ensinar seus ensinamentos aos outros. Eles são considerados os profetas – tirthankaras – cujos ensinamentos são, portanto, a base para os princípios e as crenças da filosofia. Os profetas não são exatamente considerados “deuses”, na concepção diáfana, abstrata e longínqua a qual nós estamos acostumados; os profetas são deuses antes no sentido de terem sido pessoas boas, em cujos atos devemos nos espelhar e ter como exemplos de vida, para seguir no mesmo caminho. A perseverança, a humildade, a fé, o despojamento e o desapego aos bens materiais, que permearam a vida de todos os profetas são os pontos principais nos quais os devotos devem se ater e guiar suas vidas.

O jainismo é bastante complexo, assim como o hinduísmo ou o budismo, e para saber um pouco mais, é possível ler o texto no link:

https://mochilana.wordpress.com/asia/india/grandes-religioes-na-india/jainismo/

Os templos jainas (também chamados de basadi, especialmente no sul da Índia) costumam ter em seu exterior uma decoração menos profusa do que no interior, comumente lotado de colunas, estátuas, entalhes e decorações cheias de detalhes em mármore ou arenito, ilustrando momentos das vidas dos profetas (tirthankaras), além de figuras animais e humanas. Esse fato simboliza a crença jainista da insignificância das formas exteriores e a importância de uma rica vida interior, ou seja, o exterior deve ser despojado, e o interior rico e abundante.

Os templos de Jaisalmer são arquitetados e esculpidos em arenito, combinando com as edificações da cidade.

templos jainistas no forte (reprodução de foto da Internet)

templos jainistas no forte (reprodução de foto da Internet)

templos jainistas

templos jainistas

As estátuas que representam os tirthankaras podem ser adoradas nos próprios templos ou também em pequenos santuários existentes nas casas dos seguidores jainas. Elas são feitas normalmente em mármore ou bronze e representadas em postura meditativa (dhyanamudra) ou em posição rígida em pé (kayotsarga).

profeta

profeta

estátuas

estátuas

estátuas

estátuas

Como forma de distinguir os Tirthankaras/ profetas uns dos outros, a arte jaina representa cada um deles associado a um animal, símbolo ou com uma determinada cor no corpo; por isso, há muitas representações de animais nos templos.

animais no detalhe de um degrau

animais no detalhe de um degrau

Os templos de Jaisalmer, construídos entre os séculos XII e XV, são ligados por passarelas e corredores impressionantes. O primeiro que se entra geralmente, é chamado de Chandraprabhu; ele é dedicado ao oitavo tirthankar, cujo símbolo é a lua; foi construído em 1509 e dispõe de finas esculturas no mandapa (pavilhão), lotado de pilares esculpidos, formando uma série de toranas (nos templos jainas, uma espécie de portal triangular).

À direita de Chandraprabhu, está o Rikhabdev, mais tranquilo, com muitas esculturas protegidas por vitrines.

templo

templo

templo

templo

Há ainda o templo Parasnath, no qual se entra através de uma torana lindamente esculpida que culmina na imagem de um tirthankar em seu ápice. A porta para o sul leva ao pequeno templo de Shitalnath, dedicado ao décimo tirthankar, cuja imagem é incrustada com oito metais preciosos. Há também o templo de Sambhavanth e, no pátio da frente, escadas guiam até a Gyan Bhandar, uma fascinante, minúscula e subterrânea biblioteca fundada em 1500, que abriga um inestimável conjunto de antigos manuscritos ilustrados. Depois, os dois templos, Shantinath e Kunthunath, ambos construídos em 1536 e cheios de escultura sensuais finalizam a visita.

templos

templos

colunas

colunas

detalhes

detalhes

detalhes

detalhes

detalhes

detalhes

detalhes

detalhes

detalhes

detalhes

estátuas nuas em templo jainista - desapego ao material

estátuas nuas em templo jainista – indicação de desapego ao materialismo

domo rendado

domo rendado

estátuas

estátuas

É necessário observar que os templos abrem aos turistas somente na parte da manhã, fechando ao meio-dia. Um fato curiosíssimo sobre o ingresso aos templos é que ele é vetado a mulheres menstruadas e qualquer item de couro; há placas informando sobre isso.

menstruadas não entram...

menstruadas não entram…

Para saber mais sobre a arquitetura e o significado da decoração jainista, é possível acessar o mesmo link indicado acima.

Outro lindo templo de dentro do Forte de Jaisalmer é o Templo Hindu Laxminath, no centro da cidadela, construído entre os anos de 1800 e 1860. Suas paredes exibem figuras de animais e humanos entalhados em pedra, que surpreendem pela fineza de detalhes e beleza, além do domo extraordinário. A visita a esse templo é paga e, por isso, nós não entramos.

Depois dos templos, andamos bastante pelas ruelas do forte, almoçamos pelas duas da tarde no mesmo restaurante que tomei Lassi no dia anterior – o Tibet. Era até um lugar bom, preço justo e comida gostosa.

Outro lugar interessante de visita dentro do forte é o Palácio do Marajá – que não sei por que raios nós não vimos… (não espere mapas gratuitos nos hotéis com o melhor para se ver nas cidades da Índia. A pesquisa deve ser feita antes). O Palácio é uma estrutura pequena, mas fascinante. Há os notórios intrincados entalhes no arenito da fachada e diz-se que a melhor parte desta estrutura de cinco andares é o último piso, que oferece a vista mais deslumbrante da cidade e do deserto.

Maharaja's Palace Jaisalmer (reprodução de foto da Internet)

Maharaja’s Palace Jaisalmer (reprodução de foto da Internet)

É possível também ver o trono de mármore do Marajá, assim como outros artefatos, como o trono da coroação de prata, a cama real, selos, notas locais e esculturas. Melhor visitar no início do dia, para evitar o rush turístico. Abre às nove da manhã e fecha às seis da tarde. O ingresso é meio salgado: 250 rúpias, incluindo a permissão para fotografias e um áudio-guia.

Nós voltamos para o hotel e ficamos esperando pelo nosso motorista Amil. Às três da tarde, precisamente, ele chegou. Fomos a caminho do deserto, para nosso Safári de Camelo. Mais ou menos uma hora e meia depois (ou 40 km), chegamos ao “deserto”. Na verdade, era uma vila com “resorts” – assim eles chamam conjuntinhos de hotéis para turistas, que se dedicam aos passeios de camelo. Ficamos em um até que bem decente, mas nada comparado a um resort.

Começaram a chegar mais estrangeiros e nós saímos todos, uns 20 minutos depois. Eram umas cinco da tarde e o calor não dava trégua (para o safári, é bom usar muito protetor solar, óculos e boné). Na verdade, vamos todos em fila sobre os camelos e os condutores no chão, guiando os animais.

safári de camelo

safári de camelo

safári de camelo

safári de camelo

Os camelos são muito porcos. Vão fazendo barulhos com a garganta e soltando cuspe durante o caminho inteiro.

camelos

camelos

Levamos uma hora até atingir as dunas. Decepcionante como o “deserto” está perto das casinhas/hotéis, ele tem muito lixo, garrafas, plástico, papel de sorvete, salgadinhos, embalagens e afins. Somente com certo tempo, alcançamos uma área mais remota, onde as dunas exibem contornos suaves e belos; de um lado, há uma vegetação rasteira e algumas árvores também e de outro, dunas que alcançam mais de 40 metros de altura. Essa é a área mais bonita, que vale a pena ver.

safári de camelo

safári de camelo

safári de camelo

safári de camelo

safári de camelo

safári de camelo

safári de camelo

safári de camelo

safári de camelo

safári de camelo

O passeio é legal, mas não exatamente o que esperava. Até por isso, decidimos retornar aos chalés para dormir, diante da opção de voltar ao deserto para pernoitar em barracas. Não achei o deserto tão mágico e infinito assim para preferir a segunda sugestão. Não tinha sentido, pra mim, passar a noite em um deserto meio sujo, além do céu nem estar tão claro. Então, não fizemos questão. Ficamos um pouco no deserto, vimos o bonito por do sol e voltamos; na volta, os animais correram um pouco e doeu muito ficar em cima dos camelos! (devemos lembrar que as gorjetas são sempre ostensivamente requeridas ao final do tour. Eu dei 10 rúpias ao meu condutor e ele ainda queria que eu pagasse a parte de outras pessoas que convenientemente saíram correndo sem dar nenhum tostão; tive ainda que discutir um pouco para que ele entendesse que eu não tinha nada a ver com as outras pessoas do grupo).

safári de camelo

safári de camelo

safári de camelo

safári de camelo

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safári de camelo

safári de camelo

safári de camelo

safári de camelo

safári de camelo

safári de camelo

Nos chalés, havia muitos estrangeiros. Fizeram uma apresentação de dança, música típica e jantar. A comida foi suficiente e muito boa. Todos se esforçam muito para serem gentis.

música e comida à noite

música e comida à noite

chalés

chalés

Dormimos sem banho, apesar dos chalés serem limpos e terem banheiro, já que nossas mochilas grandes estavam no carro trancado pelo Anil que, a essa altura, tinha sumido…

No deserto, o silêncio impera e a vida corre mansa. Apesar dos turistas, a quietude da noite nos fez adormecer rapidamente.

calma

calma

calma

calma

calma

calma

calma

calma

calma

calma

Algo que me arrependi de não ver na região – nosso motorista nem mencionou e não esperem que qualquer um deles o faça – foi o complexo Vyas Chhatri, um belo exemplo da arquitetura do Rajastão. Como o nome sugere, ele é dedicado ao sábio Vyaas, o escritor do épico Mahabharata. Esta versão local de um cenotáfio (túmulo honorário; sepulcro ou monumento fúnebre feito em memória de alguém cujo corpo não foi localizado, encontrado ou não se encontra ali sepultado) é composta de esculturas delicadas que são um espetáculo. Este é também um dos lugares mais belos para observar o por do sol no deserto, apesar da manhã, como li em alguns relatos, ser o melhor horário em termos de luz, para boas fotografias. Não se paga nada para entrar, mas o local fecha às 19h30min; e abre as oito, de manhã.

Vyas Chhatri em Jaisalmer (reprodução de foto da Internet)

Vyas Chhatri em Jaisalmer (reprodução de foto da Internet)

Os Templos de Lodurva, perto de Jaisalmer, são outra sugestão de tour; nós não vimos esses belos santuários, mas deixo aqui a dica. Eles estão a 16 km de Jaisalmer e são, realmente, muito bonitos. Lodurva foi a antiga capital dos Bhatti Rajputs, mas infelizmente quando os Bhattis transferiram a capital para Jaisalmer, suas construções foram totalmente abandonadas e destruídas. Esses templos jainistas foram reconstruídos nos anos 70 e são as únicas construções que relembram a magnificência dessa época.

O Festival do Deserto, que acontece, no verão, ou no mês de janeiro ou em fevereiro, também é uma importante atração turística de Jaisalmer. A cidade foi um dos últimos Estados a assinar um tratado com os britânicos. Durante a dominação britânica, Jaisalmer ainda era sede do estado principesco de mesmo nome, governado pelo clã Bhatti, de Rajputs. Hoje, a maioria dos habitantes são descendentes dos Bhatti Rajputs, conhecidos como “os grandes guerreiros”. Durante o festival de deserto, os moradores usam a indumentária colorida dos antigos guerreiros e os camelos, que até apostam corridas, também são vestidos coloridamente para a festa.

Abaixo, um pouco mais de Jaisalmer.

ruas de Jaisalmer

ruas de Jaisalmer

ruas de Jaisalmer

ruas de Jaisalmer

ruas de Jaisalmer

ruas de Jaisalmer

ruas de Jaisalmer

ruas de Jaisalmer

ruas de Jaisalmer

ruas de Jaisalmer

ruas de Jaisalmer

ruas de Jaisalmer

loja de joias

loja de joias

sapatos...

sapatos…

preparativos para o Holi

preparativos para o Holi

preparativos para o Holi

preparativos para o Holi

e as vacas...

e as vacas…

e as vacas...

e as vacas…

e as vacas...

e as vacas…

e as vacas...

e as vacas…

havelis

havelis

o Forte de Jaisalmer parece brotar da terra

o Forte de Jaisalmer parece brotar da terra

a Cidade Dourada

a Cidade Dourada

forte

forte

forte

forte

forte

forte

forte

forte

forte

forte

forte

forte

forte

forte

forte

forte

forte

forte

forte

forte

deserto

deserto

deserto

deserto

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